4º dia do Sol da Caparica

Dia marcado por reclamações de pais descontentes e muita música

As portas abriram na manhã de Domingo para o habitual dia das crianças com As Canções da Maria, Maravilhoso Mundo do Ambiente, Mega Dança Tik-Tok e Miss Cindy. As crianças fizeram do Mundo da Noa o seu parque de diversões.

Começaram logo de manhã as reclamações dos festivaleiros pais, pois no bilhete do festival o horário estava marcado das 10h-14h, na internet era das 9h-12h e antes das 13h foi pedido que as crianças bandonassem o recinto. Antes disso houve alterações da porta de entrada, obrigando crianças e pais a andarem quase até à praia sem uma sombra. O sound check dos artistas da noite não deixava ouvir a música das artistas infantis, que também tiveram cortes no som das suas actuações. Maria Vasconcelos recusou-se a continuar a cantar naquelas condições, comentando com o público a falta de organização. Podia-se comprar comida no interior, mas bebidas não porque as barracas estavam fechadas. Havia apenas quatro insufláveis no recinto para centenas de crianças, filas de espera para os insufláveis de 30/40 minutos, novamente sem sombras.

©DR / Manhã das crianças marcada por muita desorganização e reclamações

As pinturas faciais demoravam cerca de hora, hora e meia e, foi dificil explicar às crianças que não podiam brincar mais, porque os senhores tinham de fechar e até já estavam a desmontar as brincadeiras. Por ser apenas umas horas, foram muitos os pais que não conseguiram que as suas crianças utilizassem as actividades que queriam. Das filas de crianças ao sol para as brincadeiras, aos atrasos e alteração de portas na entrada, às diversões infantis do Parque urbano estarem vedadas e sem que as crianças lhes pudessem aceder em vez de esperarem em filas, houve de tudo na manhã infantil. Quem veio nas edições anteriores e repetiu este ano, estranhou a mudança de um dia inteiro, em que se podia aproveitar o espaço, piquenicar com as crianças e estar tranquilo, para apenas 3 horas com o tempo cronometrado. Muitos pais pediram o livro de reclamações na hora da despedida desta edição do festival. Conta quem foi noutras edições que esta foi até ao momento a pior a que assistiu e, a que menor respeito mostrou pelas crianças.

Concertos

O recinto voltou a abrir portas à tarde, e contou com a actuação de António Zambujo, Mafalda Veiga, Nelson Freitas, Poesia Acústica, Bispo, Mishlawi e Dillaz (palco principal), Dynamo, Cláudia Pascoal, T-Rex, Chico da Tina, Conjunto Cuca Monga e Bateu Matou (palco secundário),Tiger Lewis, Kevu e Kura (electrónica); Jazzy Dance Kids Crew, Lil Malaikes Kids, Battle All Styles, Jazzy Intensive, Jazzy Dance Crew e Funk Fest com Yayaa (dança).

A tarde começou tranquila com António Zambujo, Mafalda Veiga e Nelson Freitas no palco principal. Foi o momento mais familiar, quando ainda era possível circular no recinto ao por do sol. Os sofás insufláveis, dispensados por um dos patrocinadores davam até um ideia de um ambiente relaxante, a um festival que, nas suas primeiras edições proporcionou noites de música, em ambiente tranquilo, para todas as gerações.

António Zambujo acabou de fazer o público viajar através das suas canções. Com uma lambreta, um Pica do Sete ou um Zorro, o cantor foi a voz de mais um dia de Sol da Caparica. Antes de subir ao palco, António Zambujo ofereceu um momento especial aos fãs. Aqueles que entraram no recinto, assim que as portas abriram, tiveram oportunidade de assistir ao seu sound check.

Mafalda Veiga e as suas músicas tranquilas criaram o cenário perfeito para o pôr do sol no festival e, parece que estava mesmo tudo alinhado. A cantora disse que, apesar de adorar os finais de tarde, por norma não costuma dar concertos ao final da tarde. No Sol da Caparica, conseguiu concretizar este desejo e, segundo a própria, não podia estar mais feliz. E essa felicidade chegou até ao público, especialmente para a pessoa a quem cantou os “parabéns”, durante o concerto. Sentiu-se a harmonia e a tranquilidade no recinto do Sol da Caparica com a sua voz.

Nelson Freitas agitou o público com as suas músicas. O recinto estava cheio e sentiu-se a boa disposição das pessoas, que dançaram com as suas canções O cantor fez ainda uma serenata a todas as mulheres do público com a música “Essa miúda é linda”.

No palco secundário, Cláudia Pascoal distribuiu boa energia e muita vontade de estar em palco, num actuação que anunciou como sendo “a primeira num festival”. Com uma pop, colorida e animada, segurou um público que estava ali para a ver, com cartazes cheios de dedicatórias. Coreografou o público, na despedida, com “Eh Para a Frente, Eh Para trás”.

A música nacional indie esteve bem representada, este Domingo, com o colectivo Cuca Monga. O projecto junta vinte músicos que, durante a quarentena e à distância, fizeram dez canções, no álbum Cuca Vida. Nele partilharam experiências e celebraram a amizade. Passaram depois essa experiência para os palcos, num espetáculo original que tem sido um sucesso. Cuca Monga é uma superbanda que reune membros de Bispo, Capitão Fausto, El Salvador, Ganso, Luís Severo, Modernos, Rapaz Ego, Reis da República e Zarco. O público fez-lhes a devida vénia.

Com uma escolha de palcos dúbia, a organização do festival O Sol da Caparica sofreu nova avalanche de críticas, neste quarto dia de Festival. O recinto do palco secundário foi demasiado pequeno para acolher os fenómenos do momento: Chico da Tina e Poesia Acústica.

Ao longo da noite, foram vários os músicos que interromperam as suas atuações, por iniciativa própria, ao se aperceberem que alguém se estava a sentir mal no meio do público e até verem concluída a intervenção dos paramédicos. Durante a atuação de Chico da Tina, um contentor lateral serviu de bancada, com muitos jovens a aproveitar a vista panorâmica. Poucas regras para um espaço lotado.

Com o público bem comprimido no reduzido espaço do palco secundário, e com reforço de segurança no palco, Chico da Tina, a estrela em ascensão demonstrou por que razão está a dar que falar. Visualmente, apresenta-se com uma imagem de desenho animado, encheu o palco de boias insufláveis e deu um concerto sempre a abrir de trap, subgénero do rap/hip-hop, que os jovens adoram. Foram muitas as interrupções para retirar jovens aflitas do recinto, distribuir águas e, acima de tudo, dar a música que todos queria ouvir. Celebrizou-se em festas e convívios e tem vindo a ganhar dimensão. “Minho Trapstar”, “Romarias”, “Freicken”, “Todo o dia”, “F*ck Forex” são alguns dos temas que fazem sucesso.

Se o palco abanou com Chico da Tina, a situação não melhorou com a entrada de Poesia Acústica. Isto apesar de haver concorrência directa no palco principal com a atuação de T-Rex e, mais uma chuva de críticas à organização.

A série Poesia Acústica, é um popular projeto de hip hop brasileiro que tem conquistado o público português. Surgiu no canal Pineapple StormTv, no Youtube e são uma série de videos rap, em formato acústico. Músicas longas, românticas, que tratam de juras de amor e têm levado os portugueses também a suspirar de paixão ou raiva. É ritmo rap, com o violão da música brasileira e jeito malandro. Letras de amor, de rimas e metáforas, com as quais os jovens também se identificam e, daquilo que se viu, este Sábado no Sol da Caparica, é sucesso a crescer.

Pop, afro e dança é a combinação de sucesso de Bateu Matou, o grupo que deu baile no Sol da Caparica. Ivo Costa, Riot e Quim Albergaria são os três elementos dos Bateu Matou. Aproveitaram bem a enchente do festival para continuar a espalhar ritmo.

Não sabemos se era o concerto mais aguardado da noite, mas uma coisa é certa, o público esperava ansiosamente por Bispo. Por entre a multidão no recinto, ouviu-se muitas vezes “quero ver o Bispo”, “hoje vim por causa do Bispo” ou “o Bispo já está no palco”. Bispo foi um dos fenómenos do rap que cresceu, desce a sua primeira atuação neste festival, em 2018. O músico recordou esse momento e deixou, entre outras, “Pormenores” e “S2”. Recebeu Deezy em palco, para o dueto “Nós2” e pediu ao público para o ajudar a cantar a parte de Ivando “Essa Saia”, tema com que fechou o concerto

Mishlawi Começa as frases em inglês e termina em português, como bom filho longe da sua casa, mas conquista com a sua simpatia e talento. O artista luso-americano é mais um do catálogo Brigdertown que preencheu o cartaz do Sol da Caparica este ano. Cantou alguns dos seus maiores sucessos e o público fez o que se esperava, saltou e cantou muito. A meio de uma música, Mishlawi apercebeu-se que álguem no público estava a sentir-se mal e interrompeu-a para oferecer uma garrafa de água. Assim que tudo ficou bem, o cantor retomou o concerto e foi como se nunca tivesse parado. Foi (mais uma) curta atuação, em que o musico interrompeu inúmeras vezes, para falar com o público, para ver aflito, uma jovem a ser socorrida, para estar ali também quase que a assistir ao seu proprio concerto. Trouxe, entre outras “FMR”, “Hotel”, “Uber driver”, “Ignore”. Fechou com “All Night”, durante o qual, veio ao fosso, empoleirar-se nas grades e cantar proximo dos fãs.

O palco principal fechou com outro dos nomes grandes do hip hop português: Dillaz.

A elcetrónica passou da tenda para o palco secundário com Dj Kura a aproveitar bem o momento e a interagir com o público. Um set bem estruturado e original, com muita batida, braços no ar e pirotécnica bem sincronizada. O público estava mais que rendido.

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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