5º e último dia do Sol da Caparica

A 7ª edição do festival terminou na madrugada de 16 de Agosto

O festival Sol da Caparica terminou. Carlão, Bárbara Bandeira, Kevinho e os Quatro e Meia foram as estrelas que brilharam no último dia, quase fazendo esquecer as muitas polémicas e reclamações que fizeram parte da edição deste ano. Aconteceu tudo o que não era suposto acontecer, desde longas filas para entrar no recinto, palcos sem condições, actuações canceladas, falta de condições para receber pessoas com mobilidade limitada, nenhuma consideração pelas crianças e seus pais, um extintor que é activado dentro de uma tenda, espaços pequenos demais para tanta assistência, preços elevados na comida e bebida, troca de horários de concertos sem aviso nem justificação oficial. Em cinco dias passaram pelo festival Sol da Caparica cerca de 150 mil pessoas. Não faltou entusiasmo, mas não foi o suficiente para apagar os numerosos imprevistos.

O último dia começou no Palco Comédia com Chico Alves, depois Rui Xará e terminou com o consagrado Aldo Lima, para mais um início de dia cheio de gargalhadas. Com rábulas acerca de assuntos da actualidade Aldo Lima foi inesquecível. Também Rui Xara, foi um dos primeiros na arte do Stand up Comedy em Portugal. No Sol da Caparica contou histórias e fez rir as pessoas à sua volta, e eram muitas.

Depois da comédia o palco passou a ser Jazzy, e foi invadido pela dança. Dance Life Academy, Lil Malaikas, Jazzy Dance Crew e Feel it Dance, foram os protagonistas do dia, que muitos dos que se deslocaram ao festival não quiseram perder.

Palco Unlock Energy dedicado à música electrónica teve a presença de Massivedrum, Venco e Dieff madrugada dentro.

O Palco Free Now, teve várias actuações surpreendentes, apesar de mais uma vez haver atrasos e alterações de última hora no alinhamento dos concertos.

Os Maneva, uma banda brasileira de reggae de São Paulo, foram os primeiros a subir ao palco secundário da Caparica. Composta por Talles de Polli, Filipe Sousa na Guitarra, Fernando Gato no baixo, Fabinho Araújo na bateria e Diego Andrade na percussão, apresentaram no o seu  álbum “Mundo Novo” e os seus temas mais conhecidos. Foram recebidos por muitos fãs, especialmente brasileiros, que aproveitaram este último dia para ver os vários compatriotas que estiveram presentes.

Yuri NR5 autor de “Notas de 100” e “Ganda Moca” foi o artista que se seguiu neste palco, apoiado por um público muito jovem, que cantou com ele os vários temas. Yuri NR5, foi mais um dos nomes do catálogo Bridgetown a actuar no festival O Sol da Caparica. O rapper arrancou logo a “levantar poeira” com “Ganda Moca”.

Papillon um dos grandes valores da nova música portuguesa, tem consolidado o seu papel como um dos melhores rappers da nova geração e, no palco secundário provou isso mesmo. Entrou com uma plateia muito reduzida, mas que rapidamente cresceu e se transformou numa multidão enorme, a acompanhar os seus temas. “Camadas”, “Nunca Pares” (o tema gravado por Slow J, Stereossauro – que conta com Papillon e Plutónio) e “Iminente” foram alguns dos conhecidos temas, cantados por todos. “Espero que se divirtam tanto quanto eu” disse.

O palco Free Now recebeu depois Maninho, guitarrista, compositor e, cantor que nasceu no Brasil, mas vive em Portugal desde criança. Tem acompanhado artistas como Mariza, Héber Marques, Bárbara Bandeira entre outros. Cantou “Pode Tentar” e “Vem Pra Cá”, entre outros temas que tanto sucesso têm tido na rádio e online.

Gil Semedo foi o artista que se seguiu e, o ritmo de Cabo-Verde voltou a imperar. O baptizado com o nome “Rei do Pop”, colocou todo a gente a dançar e cantar com ele.

Nenny, fechou este palco no último dia de festival. A cantora, compositora e rapper portuguesa, nomeada para melhor Artista Portuguesa nos MTV Europe Music Awards em 2021, é mais do que uma promessa, é uma voz que promete pôr o mundo a dançar.

José Cid foi quem abriu o palco Super Bock. Depois de estar anunciado para a 1h da manhã, trocou com Bárbara Bandeira, que subiu ao palco às 1h25 da manhã. José Cid subiu assim ao palco, 7 horas antes do anunciado no cartaz e sem nenhuma justificação da organização para este facto. Muitos dos fãs que planeavam assistir ao seu concerto à 1h da manhã ainda não se encontravam no recinto à hora que começou e, muitos perderam o concerto do seu ídolo. Como não podia deixar de ser, uniu o público com as suas músicas intemporais, que continuam na memória de todos, até mesmo do público mais jovem que estava presente. As suas músicas continuam a ser um sucesso e, fossem grandes ou pequenos, todos cantaram, a uma só voz, “Nasci p’ra música”, “Cabana junto à praia”, “Cai neve em Nova Iorque”, entre tantas outras. Para além das suas musicas, José Cid, interpretou também êxitos de outros artistas como o “Amanhã de Manhã” das Doce, “Born To Be Wild” de Steppenwolf e malhas de John Lee Hooker. Luís Cruz e Mário Mata, subiram ao palco em momentos diferentes para cantarem com ele, e garantirem a animação já habitual, nos concertos deste icónico artista. Mário Mata, pôs toda a gente a cantar “Não Há Nada para Ninguém”.

“Tu estás livre e eu estou livre”… Cantou Tiago Bettencourt e demonstrou que esteve, efectivamente, livre para dar o que de melhor tem ao Sol da Caparica e ao público. Recorreu a uma guitarra, à sua voz inconfundível e às músicas que todos conhecem, como “Canção de Engate”, “Viagem”, “Carta” e “Morena”. O cantor e compositor de Coimbra, levou quem estava no recinto numa viagem musical, onde tocou alguns dos temas que o tornaram conhecido, e onde tantos outros podiam ter figurado. A sua música de uma grande simplicidade nos poemas e melodias, conquista sempre o público. Autor de várias composições de referência da nova música portuguesa, Tiago Bettencourt, começou o concerto com a “Canção do Engate” de António Variações. O talentoso cantautor demonstrou que estava ali para dar o melhor de si e, ainda apresentou “Viagens”, o último single do novo álbum, que segundo o próprio “fala de partidas, de regressos, do que vocês quiserem”.

MC Don Juan, teve o seu DJ residente a aquecer o público por algum tempo. Entre música e pedidos do DJ Buguinha para o público chamar o MC Don Juan, o cantor e compositor brasileiro de funk paulista, finalmente, entrou em palco, para delírio de um público muito jovem, que cantou e dançou. O paulista, trouxe o funk ao Sol da Caparica, e o publico dançou hits como “Bipolar”, a música mais ouvida do Verão em Portugal. Interpretou ainda êxitos que o público bem conhecia e que não resistiu a dançar como “Liberdade (Quando o Grave Bate Forte)”, “Sorria” ou “Set dos Casados”. Pelo barulho no recinto, percebia-se que a adesão ao fenómeno é grande.

De seguida teve lugar um dos concertos mais aguardados do dia: Kevinho. O cantor e compositor brasileiro, compareceu em cadeira de rodas, porque tinha sido operado ao tornozelo há 10 dias, mas mesmo assim tentou dar o melhor concerto possível e, colocou o público do festival a cantar e dançar, mesmo que ele não o pudesse fazer. Pediu muitas desculpas pela situação, “não estou a fazer o show como queria”, mas com recurso a vários colaboradores, conseguiu movimentar-se pelo palco. O autor de “Tumbalatum”, “Turutum”, “Olha a explosão”, “Encaixa”, entre outros êxitos, é sempre muito carinhoso com os seus fans e, escolheu da assistência alguns felizardos para o conhecerem pessoalmente no backstage e, a quem deu autógrafos. O artista não desiludiu e fez a festa com recurso a muitos confettis e pirotecnia. Perto do fim do concerto, Kevinho fez uma bonita e emocionante homenagem a Marília Mendonça, a cantora brasileira que perdeu a vida num trágico acidente de avião, em Novembro do ano passado. “Eterna Sacanagem” (com MC Jottapê e MC Kekel)”, “O Bebê” (com a participação de Mc Kekel) e “Terramoto” (com a Anitta), foram alguns dos temas que se fizeram ouvir no Parque Urbano da Costa da Caparica. A atuação, à qual não faltou muita animação, contou com a participação surpresa da sua mãe, Sueli Azevedo, que surgiu em palco a dançar, enquanto Kevinho cantava “Uma Nora Pra Cada Dia”. O artista fez questão de dizer que ia compensar o público pela sua imobilidade, com muito vídeos no instagram.
Distribuiu t-shirts para completar a sua actuação.

Seguiram-se os Quatro e Meia, que mostraram que são “Bons Rapazes” e, muito bons cantores. Numa actuação exemplar, mas reduzida a cerca de meia hora. porque não quiseram perturbar a agenda dos cantores seguintes, fizeram questão de expressar em palco as suas críticas à organização. A banda de Tiago Nogueira, Ricardo Almeida, Mário Ferreira, Pedro Figueiredo, João Cristóvão e Rui Marques não deixou nada por dizer. “Esta noite nós estamos aqui em cima do palco por vocês, porque pagaram bilhetes… porque se fosse pela falta de respeito com que vários músicos durante este festival foram tratados e muito do público foi tratado, não vínhamos aqui nem mais uma vez com esta organização”, disse o vocalista. “Acabou-se o politicamente correto! Não brincam mais connosco!”. “Tempo” e “Bom Rapaz” fizeram parte desta curta e bem disposta apresentação. Os temas “A Terra Gira”, “Olá, Solidão”, “Amanhã de manhã” “Lisboa”, “Pontos nos is” , o “Tempo vai esperar” e “Sentir o Sol” foram efusivamente cantados e, o público acompanhou os seis rapazes de Coimbra, durante todo o concerto. A banda preparou uma surpresa e levou como convidada Carolina de Deus e, cantaram Juntos a música “Talvez”.

O sucesso de Nenny continua a ganhar dimensão e no Sol da Caparica, com tantos representantes da nova geração, sentiu-se o à vontade da cantora em palco. Abriu com os temas “21” e “Lion” e manteve sempre a interação com o público, durante o concerto, sem deixar cair o ritmo. O sucesso de Nenny continua a ganhar dimensão e no Sol da Caparica, com tantos representantes da nova geração, sentiu-se o à vontade da cantora em palco.

Carlão, a jogar em casa, foi o senhor que se segue. Muitos festivaleiros esperavam pelo rapper, que levou para cima do palco as suas rimas e os seus temas mais conhecidos: “Os Tais”, “A Maior Traição”, “Assobia para o Lado” e “Viver pra Sempre”. Carlão teve um alinhamento muito dinâmco, cheio de temas curtos e enérgicos. “É sempre bom estar neste palco, na margem certa” disse no início da atuação. “Contigo”, “Topo do Mundo”, “1986” foram algumas das canções escolhidas e para todas elas, Carlão acrescentava um comentário ou uma explicação. Tantos são os êxitos que podia apresentar, que não cabiam todos no alinhamento de um festival com o tempo contado para cada artista. O que ninguém esperava foi ver Marisa Liz subir ao palco. Assim que tocou o instrumental da música “A Noite”, Carlão disse que a dedicava a “Marisa, que está por aí”. Não só andava no recinto como correu para o palco e conseguiram cantar juntos o último refrão da música. A meio do concerto, Carlão disse que se sente no “Topo do Mundo” quando actua ao vivo e quando vê o público a vibrar, a dançar e a cantar as suas músicas. E o Sol da Caparica respondeu e retribuiu de volta. Depois de “Bandida”, Carlão avisou que ia baixar a Ivete Sangalo que existe nele e ia avançar para o momento “tira-o-pé-do-chão” com “Assobia para o lado”. Como o próprio referiu, durante o concerto “Foi quase tão bom, como…”. Se o festival tivesse acabado nesse momento teria sido épico.

Mas ainda faltava Bárbara Bandeira, a vencedora da “Canção do Ano” dos prémios PLAY – Prémios de Música Portuguesa com “Onde Vais” em dueto com a fadista Carminho , entrou e conquistou o público que esperava vê-la desde as 18h. Com apenas 20 anos Bárbara Bandeira continua a somar êxitos uns atrás dos outros, que cantou para o público do Sol da Caparica, encerrando o palco principal da edição de 2022. Com uma “lua” em palco e com muitas luzes, Bárbara Bandeira criou o ambiente perfeito para entreter os fãs com a sua voz. E o público cantou, dançou e mostrou que conhece as letras todas da artista. “E a cidade são só luzes…” cantou Bárbara Bandeira e o Sol da Caparica respondeu com os flashs dos telemóveis. A artista fechou o quinto e último dia do festival a pedir desculpa pela alteração de horário, principalmente a quem não tinha conseguido ficar até tão tarde. A cantora entrou em palco às duas da manhã e, Terça-Feira era dia de trabalho, para muitos.

O Sol da Caparica tem tudo para dar certo, os artistas que estiveram presentes nesta edição deram, no geral, tudo o que tinham ao público que esteve presente. É um festival que tem música da melhor que se faz no mundo, a lingua portuguesa como rainha, num local com a praia por perto. Necessita de pessoas na organização com experiência e capacidade para assumir uma tarefa que não é fácil, mas que pode melhorar muito nas próximas edições.

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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