Almada | A Flor do Buriti
Um filme de João Salaviza e Renée Nader Messora, que pode ser visto dia 18 de Abril às 21h, no Auditório Fernando Lopes-Graça, com a presença dos realizadores.
Um drama que percorre três épocas da história do povo krahô, uma comunidade indígena originária do centro do Brasil, hoje confinada a uma reserva entre os estados de Tocantins e do Maranhão, através do olhar de uma menina. A perseverança de um povo que luta pela preservação do seu modo de vida, através da práctica de ritos ancestrais próprios e da profunda ligação com a natureza, transformam-se não apenas em formas de resistência, mas também de sobrevivência.
“A Flor do Buriti” tem início em 1940, quando duas crianças do povo indígena Krahô encontram na escuridão da floresta um boi perigosamente perto da sua aldeia. Era o prenúncio de um violento massacre, perpetuado pelos fazendeiros da região. Em 1969, durante a Ditadura Militar, o Estado Brasileiro incita muitos dos sobreviventes a integrarem uma unidade militar. Hoje, diante de velhas e novas ameaças, os Krahô proseguem caminhando sobre a sua terra ensanguentada, reinventando diariamente infinitas formas de resistência. Esse massacre de 1940, cruza-se com o presente, a pandemia do Covid-19, a violência dos anos do bolsonarismo e as lutas actuais. É um filme que lida mais com a questão de uma identidade cultural que já não é, nem pode ser estanque, de um povo com a noção do tempo diferente da nossa.
“O filme nasce do desejo em pensar a relação dos Krahô com a terra, pensar em como essa relação vai sendo elaborada pela comunidade através dos tempos”, declarou João Salaviza, quando o filme estreou em Cannes. “De facto, o bolsonarismo foi um verdadeiro massacre, tanto na destruição dos povos e os seus direitos, como da terra. Agora, o que acontece é uma contra-ofensiva muito mais bela e forte que também tentamos filmar. O mundo está atento aos Krahô. É muito bom para nós, cineastas e aliados, ver o lugar que o filme pode ocupar. O que contamos aqui, num contexto extremamente específico e peculiar, é também a história dos povos indígenas sul-americanos. Se as formas de violência são múltiplas e capazes de aniquilar nações inteiras, as formas de resistência são potentes, vibrantes e recriadas diariamente.”
Relatos históricos baseados em conversas e a realidade actual da comunidade serviram de base para a construção da narrativa do filme. “O filme é um apelo à acção e ao confronto, sem nunca perder de vista a beleza e a delicadeza da maneira Krahô de pisar a terra e de pertencer ao mundo.” Os krahôs têm plena consciência das alianças políticas que podem ou não estabelecer com o exterior, não se deixam domesticar, não desistem de ser quem são.
“A Flor do Buriti”, cujo título faz referência à flor de um tipo de palmeira selvagem que cresce no território dos krahô, nasceu de mais uma parceria entre o casal formado pelo português João Salaviza e a brasileira Renée Nader Messora que, em 2019, já tinha documentado a mesma comunidade no filme “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos”.
“A Flor do Buriti” foi filmado durante 15 meses, em quatro aldeias da comunidade krahô, em película 16mm, dentro da Terra Indígena Kraolândia. Os dois cineastas, vivem parte do ano, com a filha Mira na aldeia da Pedra Branca, território krahô, no estado brasileiro do Tocantins. Deste lado do Atlântico, vivem no apartamento da família em Cacilhas.
Desde que se estreou no Festival de Cinema de Cannes, onde recebeu o Prémio de Elenco, conquistou vários galardões, entre os quais o Prémio de melhor filme latino-americano, atribuído pela APIMA – Asociación de Productores Independientes, no festival Mar del Plata (Argentina); e o prémio de melhor longa-metragem na 64.º edição do Festival dei Popoli (Florença, Itália)
João Salaviza (1984) estudou Cinema na Escola Superior de Teatro e Cinema em Lisboa e na Universidad del Cine de Buenos Aires. A sua primeira curta-metragem “Arena” foi premiada com a Palma de Ouro em Cannes (2009), seguindo-se o Urso de Ouro de Curtas- Metragens na Berlinale para “Rafa” (2012). Lançou também na Competição Oficial da Berlinale, as curtas “Altas Cidades de Ossadas” (2017) e “Russa” (2018, co-realizado com Ricardo Alves Jr). A sua primeira longa-metragem, “Montanha”, teve a sua estreia mundial no Festival de Veneza (Semana da Crítica) em 2015. Desde então, vive entre Portugal e o Brasil, junto do povo indígena Krahô. Em 2018 estreou “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos” (co-realizado com Renée Nader Messora) no Festival de Cannes, e recebeu o Prémio Especial do Júri – Un Certain Regard. O filme foi lançado comercialmente em vários países, destacando-se França onde foi visto por 45.000 espectadores.
Renée Nader Messora é licenciada em Cinematografia pela Universidad del Cine, em Buenos Aires. Por 15 anos, trabalhou como assistente de realização em diversos projectos no Brasil, Argentina e Portugal, entre eles “Montanha”, primeira longa-metragem de João Salaviza. Fotografou a curta-metragem “Pohí” (2010), através da qual conheceu o povo Krahô. Desde então, trabalha com a comunidade, contribuindo na organização de um colectivo de jovens cinegrafistas que utilizam o cinema como ferramenta para o fortalecimento da identidade cultural e a autodeterminação. Em 2017 fotografou a curta-metragem “Russa”, realizado por João Salaviza e Ricardo Alves Jr. que estreou na Competição Oficial da Berlinale 2018. Também em 2018 estreou a sua primeira longa-metragem, “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos” (co-realizada com João Salaviza) no Festival de Cannes.
Ficha Técnica:
Título original: Crowrã
Realização: João Salaviza, Renée Nader Messora
Argumento: João Salaviza, Renée Nader Messora, Francisco Hyjno Kraho, Ilda Patpro Kraho, Henrique Ihjãc Krahô
Produção: João Salaviza, Renée Nader Messora, Ricardo Alves Jr., Julia Alves
Elenco: Francisco Hyjno Kraho, Ilda Pratpo Kraho, Luzia Cruwakwyj Kraho, Solane Tehtikwyj Kraho, Raene Kôtô Krahô, Debora Sodre
Som: Diogo Goltara
Fotografia: Renée Nader Messora
Edição: Edgar Feldman
Género: Ficção
Origem: Brasil, Portugal
Ano: 2023
Duração: 124 min.
Classificação: M/12
Preço: 3,00€ (desconto de 50% jovens e seniores)
"A Flor do Buriti", 7arte, Almada, Auditório Fernando Lopes-Graça, Cinema, Cultura, João Salaviza, Renée Nader Messora