Almada | Ainda Marianas
Dia 3 às 21h e 4 de Dezembro às 16h, na Sala Experimental do Teatro Joaquim Benite
Tendo como ponto de partida as cinco cartas de amor atribuídas à freira seiscentista Mariana Alcoforado, o livro Novas Cartas Portuguesas (NCP), de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, é composto por textos de natureza muito diversa, da epístola à prosa, do diálogo ao fragmento – uma intertextualidade que não se limita a nenhuma leitura unilateral.
Catarina Rôlo Salgueiro e Leonor Buescu, responsáveis pela criação e dramaturgia da peça, quiseram recuperar essa formalidade fazendo uma selecção de textos que procuraram transpor para a natureza também heterogénea das cenas de Ainda Marianas. “Seria possível construir muitos espectáculos a partir de NCP, e a inesgotabilidade é, sem dúvida, uma das características mais fascinantes do livro”, afirma Catarina Rôlo..
Mas o que está escrito em NCP não pode ser dissociado do tempo e do modo como surgiu; o que se pretende com o espectáculo é também a convergência da complexidade literária de NCP com a sua inscrição histórica. “Procurámos compreender o livro na sua dimensão extra-publicação, em particular o mediatismo internacional adensado pelo julgamento a que foram sujeitas as três Autoras” – apelidado em 1973 como a primeira causa feminista internacional, tendo existido manifestações de apoio às Autoras em diversos países. “A dramaturgia deste espectáculo é, também por isso, fruto de um intenso trabalho de mais de dois anos de investigação, com a consulta de diversas fontes arquivísticas e documentais, com destaque para o processo judicial”, diz Leonor Buescu.
Ainda Marianas é um título inspirado por uma crónica de São José Almeida para o jornal Público, em 2010, intitulada “Continuam a querer-nos Marianas”, onde a autora condenava a perpetuação do ideal patriarcal burguês. Partindo daí, o título deste espectáculo é como que a recusa do mito da mulher enclausurada, frágil e sofrida que espera em vão o regresso do seu amado.
Este foi, de resto, o mote para as Autoras escreverem NCP, apropriando-se da figura de Mariana Alcoforado através da consequente decomposição, recriação e invenção de muitas Marianas. O advérbio “Ainda” tem aqui um sentido de recuperação, um regresso ao exercício posto em prática pelas três Autoras em volta da multiplicidade e diversidade das experiências femininas: merece a pena voltar a Mariana, às Marianas, vozes das muitas mulheres que as actrizes convocam em palco, e que ecoam hoje, cinquenta anos depois da publicação de NCP. Mariana Alcoforado foi símbolo inicial da empresa das Três Marias e é agora também – ainda – deste espectáculo.
03 e 04 Dezembro, 2022 | Sala Experimental do Teatro Joaquim Benite
Sábado às 21h00 |Domingo às 16h00
Duração aprox.: 90min. | M/14

Ficha Técnica
Os Possessos
Criação e dramaturgia: Catarina Rôlo Salgueiro e Leonor Buescu
A partir de Novas Cartas Portuguesas de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, e do seu julgamento
Cenografia e figurinos: Ângela Rocha
Desenho de luz: Manuel Abrantes
Desenho de som: André Pires
Interpretação: Ana Baptista, Rita Cabaço, Teresa Coutinho
Assistência de encenação: Rafael Gomes
Produção executiva: Leonardo Garibaldi
Figurinos Ângela Rocha, Catarina Rôlo Salgueiro, Leonor Buescu
Residência de criação: O Espaço do Tempo, Centro Cultural Vila Flor
Co-produção: Teatro Nacional D. Maria II, Teatro Municipal Baltazar Dias, Centro Cultural Vila Flor
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