Almada | Almaraz de Portas Abertas
De 19 a 21 de Julho, entre as 9h e as 12h, pode visitar o local e ver os arqueólogos em escavação
Durante o mês de Julho decorre a quarta campanha de escavação do “Projecto de Investigação do Sítio Arqueológico da Quinta do Almaraz”. Nos dias 19, 20 e 21 de Julho, entre as 9h e as 12h, pode conhecer o trabalho desenvolvido pelos arqueólogos em contexto de escavação. A entrada é livre e não necessita de marcação prévia.
O povoado da Quinta do Almaraz, identificado em 1986, constitui uma das mais importantes ocupações da Idade do Ferro assinaladas na Fachada Atlântica Portuguesa. Populações de origem Fenícia estabeleceram-se, entre o século VII a.C. e finais do V ou inícios do IV a.C., nesta plataforma detentora de um amplo domínio visual e estratégico sobre a foz do rio Tejo, condição que permitiu a sua integração numa dinâmica rota de comércio a longa distância.
O povoado concentrava um sistema defensivo que compreendia duas linhas de muralha e fosso. A influência oriunda de oriente foi responsável pela introdução de inovações tecnológicas, nomeadamente na arquitectura, com a adopção de estruturas habitacionais de planta ortogonal e compartimentação interna do espaço. Foram ainda recolhidos testemunhos materiais que consubstanciam actividades como a metalurgia, a pesca, a caça e a agricultura. O auge da ocupação ter-se-á feito sentir durante o século VI a.C..
Os escassos vestígios de Época Romana identificados sugerem a existência posterior de núcleos dispersos e de menor dimensão durante finais do século II e século I a.C., consequência de uma contração do povoamento, tendo os aglomerados populacionais evoluído para as periferias do Castelo de Almada e Cacilhas.
Em 2020 deu-se início a um projecto de investigação designado como “Quinta do Almaraz: sociedade, economia e quotidianos durante o 1º milénio a.C.”, aprovado pela Direção-Geral do Património Cultural. O estudo tem duração até 2024.
O projecto tem como principal objectivo aprofundar o conhecimento sobre o povoado do 1º milénio a.C. a partir do estudo e publicação das colecções das escavações desenvolvidas durante a década de 1990, bem como através da realização de novas campanhas de escavação. A par deste estudo espera-se uma ampla divulgação dos resultados obtidos, projectando Almaraz no meio científico nacional e internacional.
Actualmente o projecto envolve investigadores de diversas universidades e centros de investigação nacionais: UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa, Laboratório de Arqueociências da DGPC, CIBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, Instituto Superior Técnico e diversos departamentos da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade NOVA de Lisboa.
As campanhas de escavação decorridas entre 2020 e 2022 centraram-se na área interna do povoado, para a qual ainda não existiam dados sólidos. Os trabalhos de campo têm permitido uma progressiva identificação do urbanismo interno de Almaraz e escavar diversas unidades habitacionais do 1º milénio a.C., revelando o modo de habitar e o quotidiano da comunidade que aqui residiu durante a Idade do Ferro.
O conjunto de materiais recolhidos durante as escavações e as características proto-urbanas da sua arquitectura revelam uma comunidade pujante, com uma economia rica, que desenvolveu diversos ofícios e actividades, dos quais se destaca a produção metalúrgica, a olaria, a pesca e a tecelagem e, que aqui habitou ao longo de vários séculos. A actividade agro-pastorícia e a actividade piscatória garantiam o sustento da comunidade que habitou este território há quase três mil anos. É também, por esta razão, um dos mais importantes sítios arqueológicos do país no que se refere à ocupação fenícia. Encontra-se classificado como Sítio de Interesse Público (SIP) pela Portaria n.º 266/2013.
É intenção do Município promover uma ampla qualificação e conservação do espaço e das áreas escavadas, de modo a abrir o sítio arqueológico ao público. Até lá, aproveite os dias em que as portas desta viagem ao passado de Almada estão abertas.
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