Almada | Fazer – um alfabeto de aniversários
O teatro do Bairro leva à cena "Fazer - Um alfabeto de aniversários" na Sala Experimental do Teatro Joaquim Benite, dia 18 de Fevereiro às 21h e dia 19 às 16h. Um reencontro do encenador António Pires com a escritora Gertrude Stein.
O Teatro do Bairro apresenta “Fazer – um alfatebo de aniversários”, na Sala Experimental do Teatro Municipal Joaquim Benite, dia 18 de Fevereiro às 21h e dia 19 às 16h.
“Fazer – um alfabeto de aniversários” é exactamente o que o título indica: um alfabeto de aniversários, uma lista das pessoas cujos nomes começam por letras e que fazem anos num certo dia, e o que é que acontece nesse dia em que fazem anos. Histórias e mais histórias sobre as pessoas, e as letras e o que quer dizer fazer anos.
Cinco personagens de aspecto masculino, trajadas segundo os códigos de elegância dos sapeurs congoleses, vão manipulando aleatoriamente letras de um alfabeto, desfiando histórias em torno da primeira letra de cada nome, e fazem assim a constante da criação do Teatro do Bairro.
Numa narrativa disruptiva e sem lógica, cinco actrizes, num cenário despojado onde pontuam espelhos, vão retirando letras de um alfabeto à medida que vão contando histórias muito semelhantes à forma como as crianças as contam e, por vezes, pondo-lhes fim de forma abrupta.
Além de nomes de pessoas e animais, a peça fala ainda de nomes que se reportam a conceitos que, muitas vezes, são “atirados”, ditos de forma ingénua como maneira de resolver a história, criando um efeito cómico.
No jogo em que a peça se estabelece, há também lugar para a brincadeira entre o singular, que cada um é, e o momento em que nasce, e que tem cariz universal, numa espécie de tensão entre cada um ser como é, na sua especificidade e, ao mesmo tempo, ser igual a todos os outros.
Luísa Costa Gomes volta a traduzir um texto da autora norte-americana para o encenador António Pires levar a palco, depois de em 2018 já o ter feito com “O mundo é redondo”. Gertrude Stein “tem um sentido de humor extraordinário, plasmado na linguagem de uma forma extraordinariamente inovadora”, disse a escritora e tradutora Luísa Costa Gomes à agência Lusa, por altura de estreia da peça.
Um texto que acaba por incidir sobre o que significa ter um aniversário e que está cheio de pequenas histórias sempre inesperadas, e de uma imaginação invulgar – histórias que têm como ponto de partida a ligação entre a primeira letra do nome e a data em que essa letra passa a ser a letra do nosso nome.
Escrito em 1940, um ano depois da publicação de “O Mundo é Redondo”, Fazer “é um livro de aniversários que gostaria de ter lido em criança”, afirmou Gertrude Stein. Este espectáculo marca novo reencontro de António Pires com a escritora e poeta modernista norte-americana,depois de já ter levado ao palco “A List, Say it with flowers”, “Quatro Santos em Três Actos e o já mencionado “O Mundo é Redondo”.
Sem constituir um ensaio ou algo histórico sobre o que significa ter um nome e uma data de nascimento, trata-se de uma peça que, para o encenador António Pires, é muito difícil de contar. “Costumo dizer que os espectáculos de Gertrude Stein têm uma coisa muito particular que é cada um dos espectadores, cada pessoa que olha para o espectáculo vê um espectáculo completamente diferente”. Os espectáculos a partir de textos de Stein são “textos, imagens, músicas e sonoridades muito abertas”, numa espécie de jogo em que os actores vão fornecendo alguns dados aos espectadores, de forma a que – destaca António Pires – “cada pessoa com o seu imaginário vá criando o seu espectáculo”.
Com um figurino inspirado nos sapeurs congoleses – os adeptos da Société des Ambianceurs et des Personnes Élégantes (SAPE) -, António Pires disse ter ido buscar esta ideia ao facto da companheira de Gertrude Stein, Alice B. Toklas, muitas vezes se vestir com roupas de homem, “o que era uma grande ousadia para a época”
António Pires trabalha em teatro desde finais dos anos 80, em encenação e representação. Está há duas décadas ligado ao Teatro do Bairro, em Lisboa, e à estrutura de produção Ar de Filmes. Entre as distinções que já recebeu, encontram-se o Corvo de Ouro da Time Out Lisboa para Melhor Peça de Teatro de 2012 por “Tisanas – Um antídoto contra o cinzento dos dias”, de Ana Hatherly; o Globo de Ouro para Melhor Peça de Teatro de 2013 para “O público”, de Federico García Lorca; a Menção Especial da Associação de Críticos de Teatro, em 2015, para “Quatro santos em três actos”, a partir de Gertrude Stein; e o prémio Spa autores 2019 de – Melhor Espectáculo de Teatro- para “O Mundo é Redondo”, de Gertrude Stein.
Ficha Técnica:
Texto: Gertrude Stein
Encenação: António Pires
Interpretação: Carolina Campanela, Carolina Serrão, Inês Castel-Branco, Maya Booth, Vera Moura
Tradução: Luísa Costa Gomes
Cenografia: João Mendes Ribeiro
Figurinos: Luís Mesquita
Música: Guilherme Alves
Desenho de luz: Rui Seabra
Desenho de som: Paulo Abelho
Coreografia: Paula Careto
Caracterização: Ivan Coletti
Duração aprox: 70m
Idade: M/12