Almada | O futuro incerto dos concertos no Cine
O que aparentava ser uma desavença entre vizinhos devido ao ruído, toca fundo em problemas graves que afectam Almada, como a crise na habitação, a gentrificação e a falta de espaços culturais e de lazer nocturnos
Depois da notícia de que não haveria mais concertos ao vivo no Cine-Incrível a partir de 14 de Fevereiro, comunicada pela Alma Danada dia 23 de Janeiro, no dia seguinte houve um comunicado conjunto feito pela Associação e pela Sociedade Filarmónica Incrível Almadense (SFIA); uma sócia benemérita da SFIA disponibilizou-se para custear um estudo técnico, que faça um levantamento exaustivo das obras necessárias para uma boa insonorização do edifício e; a Alma Danada decidiu recorrer da decisão do tribunal.
A acção judicial de particulares, sobre o incómodo sonoro imputada aos concertos ao vivo que se realizam no Cine Incrível, decorre no Tribunal de Almada, contra a Alma Danada, associação gestora cultural do espaço e, a Incrível Almadense, proprietária do edifício de interesse municipal, datado de 1921. No comunicado conjunto pode ler-se que a Incrível Almadense procura “junto das entidades locais e nacionais, em especial do poder local e Ministério da Cultura, avaliar caminhos, estimar as obras necessárias e identificar formas de investimento que assegurem, a médio prazo, as obras solicitadas,(…) para reforço da insonorização do espaço, cuja relevância cultural desde sempre está profundamente demonstrada na actividade ao serviço de Almada, da região e do País.” Salienta ainda o comunicado que a “actividade cultural da Incrível Almadense em geral e, através de parcerias com outras associações, como é o caso da Alma Danada, sempre teve como destinatários os seus associados e a população local e da região” e pretendem “que todos os espaços desta associação sejam uma referência positiva para todos e permaneça uma mais-valia para os que vivem ou visitam Almada Velha.”
Em entrevista ao Almada Online, Fernando Viana, presidente da SFIA disse-nos que “o comunicado surgiu porque estava já a existir muito ruído nas redes sociais, sobre um assunto em que as pessoas não sabiam exactamente o que se estava a passar. Estávamos a receber muitas perguntas por mail e, fizemos-lo para os nossos sócios e para a comunidade. Estamos a aguardar o agendamento de uma reunião com a Câmara Municipal de Almada (CMA) para pensarmos em opções, porque aquela sala de espectáculos tem muita história. É uma sala icónica e, a programação que é lá feita, neste momento já chega além fronteiras.”
Este é um processo que se arrasta na justiça há três anos, de recurso em recurso e com alguns acordos pelo meio, como por exemplo os concertos terminarem às 23h, o que acontece há quase dois anos. Fernando Viana afirma que “poderia ter havido mais diálogo, mas direi que não foi da nossa parte. Houve muita vontade por parte da Alma Danada em criar as condições que não incomodassem as pessoas. Colocaram até um medidor de decibéis para saberem até que ponto podiam ir. Pensamos que tentámos de tudo (…). Se me perguntarem se o Jazz Me [noites semanais de música jazz] é barulho, para mim é cultura. A decisão foi tomada e não podemos ir contra a decisão do tribunal. “
Fernando explica que “como proprietários ouvimos ambas as partes e sabemos que foi feito um esforço até com compra de equipamento. Sabemos o que fizemos da nossa parte. Foram feitas queixas por dois inquilinos e, foram a tribunal quatro testemunhas. Poderia ter sido apenas uma queixa, para mim já seria preocupante. Quem conhece a Incrível, sabe que ela tem um enorme dinamismo, a sala já passou pela pandemia, aumento brutal das rendas, não estava à espera deste resultado num processo de anos. Garanto-lhe que aquela casa não vai fechar. Era desistir de uma casa com um grande histórico, uma dimensão enorme, uma casa de cultura. Ficaria um vazio cultural na cidade de Almada, no distrito e a nível nacional.”
Mas o que parece ser apenas um problema menor local, é a ponta do icebergue de algo maior, que tende a generalizar-se. “Se isto acontece numa sala desta dimensão, podem vir a acontecer muitas mais queixas noutras salas de cultura. Temos também de pensar no futuro da cultura, se qualquer queixa pode fechar portas. Respeitamos a queixa e a decisão do tribunal, cabe-nos a nós encontrar soluções e, a solução passa pela insonorizarão da sala. Estamos a fazer um estudo técnico que analisa as características da sala e tudo o que é necessário, graças a uma sócia benemérita que quer permanecer no anonimato, a seguir irá ser feito um projecto com o que é necessário fazer a nível de obras de insonorização, para que a sala fique em condições e não incomode os vizinhos. Queremos que isto vá para a frente. Neste momento não posso ter uma filarmónica ou sinfónica dentro do Cine.”, explica Fernando Viana.
Relativamente à decisão judicial, que não contesta, o presidente da SFIA afirma que lhe pareceu “não ter havido uma análise da importância do Cine para a comunidade e das consequências do fim dos concertos ao vivo. Muitos dos comerciantes ali à volta já se vieram manifestar. Se a Incrível fecha o que acontece aos bares e restaurantes à volta? Fecham também? Deixamos de ter vida nocturna? Esta decisão pode ter grandes repercussões na comunidade e na sociedade portuguesa. É um precedente. O interesse em fazer com que a casa não feche e, que a cultura musical em Almada continue a fazer daquela casa uma referência nacional é comum.” Este é o chamado efeito borboleta. Sem concertos no Cine a economia local ressente-se, menos pessoas jantam e consomem nos bares e restaurantes, de uma zona tornada pedonal para usufruto da população.
“A diversidade musical daquela sala é enorme, de renome nacional. Nasceram ou cresceram ali os Oquestrada, os Xutos, os UHF, os Da Weasel, por exemplo. Estou optimista, aquela casa não tem dívidas, não tem empréstimos, o património é todo nosso. Não vamos desistir. Não iremos recorrer da sentença, porque temos neste momento sete mil euros para pagar em custas deste processo. Queremos fazer a insonorizarão serenamente, passo a passo, vai levar o seu tempo, vai ter de fechar para fazer a obra. Faremos a ponte entre as duas salas, com a Alma Danada. O Festival Manouche vai acontecer no Salão de Festas da Incrível. A direcção da Incrível está a ajudar a Associação Almada Danada em muitos pormenores que ninguém sabe, não monetariamente, isso não podemos, somos uma associação sem fins lucrativos, mas estamos a dar-lhes ferramentas para terem retorno financeiro. Eu quero-os na sala do Cine-Incrível e quero que voltem em grande.”
Fundada em 1848, no decorrer da sua longa história, a Incrível teve inúmeras vezes reconhecido o seu trabalho em prol da cultura, do recreio e do desporto – Grau de Oficial de Obra de Benemerência (1940), Medalha de Ouro de Instrução e Arte (1954), Colectividade de Utilidade Pública (1980), Medalha de Ouro da Cidade de Almada (1989), Membro Honorário da Ordem do Infante D Henrique (1993), Membro Honorário da Ordem da Liberdade (1998).
O edifício do Cine-Incrível foi construído em 1921 e, inaugurado em 1926 como sala de espectáculos e parte integrante da Incrível Almadense. Só muito mais tarde, com a construção do Salão de Festas passou a cinema, tendo fechado em 1994. Esteve alguns anos ao abandono e nos anos 90 sofreu uma obra de insonorização. Em 2011 a Associação Cine Incrível – Alma Danada, criada especialmente para reabilitar e dinamizar o espaço, iniciou a concessão do Cine, fez obras, colocou mais materiais de insonorização. O Cine-Incrível, na altura fechado e em estado de degradação, foi reabilitado e reestruturado, de forma a conseguir ser um espaço com condições técnicas para a apresentação de espectáculos, servindo de apoio a artistas das mais variadas áreas.
Desde a sua reabertura em 2011, recebe anualmente mais de 200 artistas e, houve desde o início uma aposta assumida no jazz, com uma noite semanal reservada para este estilo de música às Quintas-Feiras. Às Sextas e Sábados o estilo de música é outra, maioritariamente rock, metal, bandas tributos e de originais, menos mainstream. Selma Uamusse, Tim, Legendary Tigerman, passando pelo concerto de celebração dos 30 anos dos Ena Pá 2000, o espaço tem os pergaminhos de uma cidade onde a tradição do rock é incontornável e, onde a Sociedade Incrível Almadense, recebia nos anos 80 bandas como Xutos & Pontapés, UHF, Ratos do Porão, entre outros.
No documento da Câmara Municipal de Almada, que descreve a importância e características do edifício, para que seja considerado um imóvel de interesse municipal, pode ler-se que “sofreu ao longo dos anos várias intervenções de beneficiação e transformação no interior, espaço do antigo cinema, em 1931, 1944 e 1961 a última das quais em 2010/2011.” No mesmo documento pode ler-se que “a Alma Danada apresentou um projecto não só de reabilitação do espaço, mas também um projecto de dinamização cultural para o espaço, dotando-o de condições exigidas pela actual legislação e dotando-o ainda de alvarás de casa de espectáculos e de bar, colocando este espaço no panorama dos espaços nacionais com programação regular e condições técnicas para o efeito. É, desde 2011, um espaço multicultural cuja actividade principal é mostrar alguns géneros musicais, que se julguem adequados ao espaço e ao público.”
Clara Correia, programadora cultural da Almada Danada, disse-nos que têm “o projecto dessa altura e também fizemos mais algumas obras entretanto. Antes de obter o alvará e abrir sobre a nossa gestão, o edifício teve uma certificação acústica feita pela mesma empresa que tinha feito a insonorização do palco, na sua base. Nós desmanchámos a tela e revestimos a parede, voltando a colocar a tela. A SFIA já encomendou um estudo acústico certificado e irá marcar reunião com entidades, nomeadamente com a CMA, pois o edifício está classificado como tendo interesse municipal. Trabalhámos quase durante 2 anos a fechar às 23h, isolámos mais alguns espaços e comprámos um limitador de decibéis. Quanto a nós vamos lutar e continuar a abrir, trabalhar para pagar os custas do processo, da renda, dos ordenados dos que trabalham na Alma Danada. Vamos tentar ter outro tipo de eventos que não vão contra a decisão judicial e funcionar como bar. Caso não seja viável terminamos actividade no espaço. O proprietário é que tem de fazer as obras.”
Acabada a pandemia, que colocou o sector da cultura e das artes à míngua, a Alma Danada deparou-se “com um processo em tribunal, sem que antes tenhamos sido alvo de queixas. O prédio das queixosas é de 1960, ou seja, 40 anos depois de já existir o Cine Incrivel. Talvez este ao ser construído a paredes meias com uma casa de espetáculos devesse ter feito uma melhor insonorização nas zonas de confluência, mas o tribunal não foi sensível a esse argumento.”, diz Clara.
“Gostaríamos de ter feito novas medições de som em simultâneo no prédio e na sala, após tudo isto, mas esse pedido feito ao tribunal e respectivos inquilinos foi-nos negado. Assim, o nosso limitador está num valor que supomos ser bom, mas sem certezas. Ou seja pelo meio há intransigência, nunca houve queixas apresentadas, nunca houve tentativas de resolução cordial, qualquer espécie de diálogo. Isso deixou-nos tristes e revoltados e, é inegável que só acontece quando a loja de contabilidade passa a habitação há cerca de 3 anos e é vendida a pessoas que não têm qualquer empatia ou conhecimento da vida ou história da cidade e da sua zona histórica. Não pomos em causa que possa haver alguma vibração ou ruído nalguns tipos de música, mas deveria ter havido outra abordagem, mais cordial, no caminho de soluções. Nestes 2 últimos anos passámos a terminar os concertos às 23h, com muito prejuízo, pois a noite em Almada Velha começa a essa hora, quando nós somos forçados a terminar.”, explica Clara no Facebook num agradecimento público a todos que têm incentivado a Almada Danada a continuar a lutar pelos concertos no Cine.
Estas declarações foram feitas antes da decisão de entrar com novo recurso da sentença judicial. A Almada Danada não concorda nem com a decisão de ter de acabar com os concertos no Cine, nem com a parte que lhe coube nas despesas legais. Muitos amigos, clientes e músicos também incentivaram a associação a recorrer de novo. Assim, os concertos irão continuar, caso o recurso seja aceite, até às 23h como estava acordado previamente. Nas redes sociais a associação escreveu: “Após o vosso enorme empenho e apoio à nossa causa, e por discordarmos da sentença do tribunal, analisámos com os nossos advogados e vamos recorrer da mesma, honrando o acordo anteriormente estabelecido de terminar os concertos às 23h, até termos autorização para outro horário. (…) A arte e a cultura desempenham papéis fundamentais nas nossas vidas, e achamos que a existência de um espaço como o Cine Incrível – Alma Danada é indispensável na nossa comunidade.”
É aqui que as opiniões de dividem entre a SFIA e a Almada Danada. Ambas estão de acordo que os vizinhos têm direito ao descanso e que a sala necessita de uma boa insonorização, para não ser um factor de incómodo para a vizinhança. A SFIA não vai recorrer da sentença judicial, a Almada Danada recorre por não concordar com o que tem de pagar de custos judiciais, nem com a interdição de música ao vivo. Quer continuar a ter música ao vivo, até as obras serem feitas. O espaço tem alvará até às 4 da manhã, mas nunca fechava mais tarde que as duas antes do processo. Haverá alterações a nível processual, que de momento se desconhecem.
Conseguimos contactar uma das queixosas e falámos com Josephine Cantona, uma francesa de 29 anos, que se mudou para Portugal em 2019 e para Almada em 2022. Josephine advoga e ensina a ter uma vida saudável. É professora de yoga, de melhoria de postura através de biomecânica, padrões funcionais e fitness, é coach de mindfulness e de filosofia de yoga em Lisboa, segundo o seu Instagram. Teve o primeiro contacto com o yoga quando teve problemas de anorexia aos 18 anos. Com formação para ser chef profissional, um dia abandonou tudo e viajou para a Índia “para se encontrar a si mesma, através de trabalho interior, viagens e ligações”, onde começou a sua formação em yoga, pode ler-se no seu blog. Essa viagem mudou a sua vida e a sua postura no mundo. De início disse-nos não querer prestar declarações sobre a sua queixa e o processo que envolve o Cine. Depois disse-nos que tinha reflectido e por WhatsApp acedeu a responder a algumas (nuito poucas) perguntas. “O barulho dos concertos é insuportável para mim e todos os meus vizinhos. Estou ao corrente da decisão do tribunal para que parem. Os meus vizinhos escreveram cartas, chamaram a polícia, foram falar com eles várias vezes, antes de termos decidido recorrer a um advogado. Eu e os meus vizinhos sabemos da importância da associação, mas podemos verdadeiramente dizer que contribuem positivamente para a comunidade se afectam negativamente (por causa do barulho) a sua comunidade mais próxima, os seus vizinhos, sem se preocuparem? É uma questão a colocar e, penso que a justiça respondeu à questão. O nosso objectivo não é impedir que associação traga aspectos positivos à nossa comunidade, mas apenas retomar o nosso direito de viver e dormir em paz”. O seu apartamento, está registado como alojamento local e disponível para aluguer num portal da especialidade.
O facto de Josephine ser francesa levou a alguns comentários extremados nas redes sociais. Os ânimos e as paixões exaltam-se sempre que se mexe no ecossistema social e cultural e, atrás da protecção de um teclado o ódio vem sempre ao de cima. Curiosamente, o nome da segunda queixosa e das testemunhas, também elas residentes no mesmo prédio, nunca foi mencionado ao Almada Online em todos os contactos que fizémos.
Não nos podemos também esquecer da crise habitacional que assola o país, onde Almada não é excepção, nem da descaracterização operada nas grandes cidades como Lisboa, onde a gentrificação tem empurrado para fora dos centros habitacionais as populações locais. Também o comércio tradicional tem sido substituído por outro tipo de comércio, industrializado, descaracterizado. Os almadenses e a comunidade do centro histórico de Almada não querem passar por isso, sobretudo depois de testemunharem de perto o que se passa em Lisboa. Também viram o comércio local abandonar a cidade rumo ao Forum Almada, deixando-a vazia, estando agora a regressar, ainda que timidamente. Tudo isso teve impacto social a nível local.
Também não podemos perder de vista que Almada foi uma cidade criada por pessoas que vieram de outros pontos do país, de outros países, o que faz com que a maioria dos almadenses, excepção feita à última geração, também seja “estrangeiro”. Há que continuar a saber receber, acolher e integrar, sem perder a identidade. A quem vem pede-se que também colabore na integração, sem perder a sua. É desta mistura que Almada sempre foi feita. É esta a sua riqueza.
Os noctívagos do concelho também não esqueceram a movida que existia nos anos 80 e 90 na zona histórica de Almada e na Costa da Caparica, que atraía multidões de outros concelhos. Existiam discotecas, bares abertos até tarde, espaços nas praias com música ao vivo. Almada era um viveiro de bandas e de cultura. Era dificíl escolher onde ir à noite. A oferta cultural do concelho, sobretudo a nocyturna, tem-se reduzido ao longo dos anos, fruto das alterações à lei do ruído, à proibição dos consumos na via pública, à multiplicação das licenças, ao aumento das taxas, à tentativa de se acabar com a pequena criminalidade, à aglutinação da organização de eventos culturais na CMA, à dificuldade da organização de eventos por falta de verbas das associações, colectividades e privados.
Neste momento a oferta de espaços culturais nocturnos no concelho resume-se aos poucos espaços da Rua Capitão Leitão que resistem. Mesmo aí, espaços históricos que marcaram gerações, como o Nosso Pub, por exemplo, ou o Bar da Cerca têm fechado, ou descaracterizaram-se para dar lugar a alojamentos locais e reestruturações feitas invariavelmente por quem tem mais poder económico que os locais e a espaços nocturnos sem identidade, que não resistem muito tempo.
Fruto do aumento do preço da habitação em Lisboa, Almada sofre do mesmo problema. A especulação imobiliária foi rápida a atravessar o rio, assim que percebeu que Cacilhas e Almada estavam a ser procuradas por quem desejava comprar ou alugar casa, a preços mais em conta do que em Lisboa. A divulgação de Almada como marca, em vez de território habitado com identidade própria, em feiras de imobiliário pelo mundo, oferecendo benesses fiscais a quem quiser vir investir no território, tem também a sua quota parte. Algures entre a identidade e o poder de compra local e, o desenvolvimento, o investimento imobiliário e o turismo, terá de se traçar uma linha vermelha, uma linha de bom senso, para não se correr o risco dos turistas virem um dia visitar uma Almada sem almadenses ou, uma Almada sem cultura a partir da hora de fecho dos restaurantes.
A comunidade cultural, sobretudo músicos e bandas, tem-se manifestado publicamente nas redes sociais, com textos e vídeos de apoio ao Cine, contra esta realidade de gentrificação e especulação imobiliária que sentem imediatamente na pele, onde salientam a importância cultural dos concertos no Cine no panorama local, distrital e até nacional. Amigos e clientes da Almada Danada criaram um crowdfunding para pagar as despesas processuais, que já ultrapassa os 2500 euros em donativos e, foi também criada uma petição para que os concertos ao vivo se mantenham no Cine Incrível, assinada por mais de 2200 pessoas, até ao momento. O bater das asas de uma borboleta pode ter consequências inimagináveis, negativas e positivas.
Após ser conhecida a decisão do tribunal vários artistas manifestaram solidariedade para com o espaço, estando previstos até ao dia 14 de Fevereiro concertos cujo valor da entrada é solidário para angariação de fundos. Pode consultar toda a programação do Cine-Incrível aqui.
A expectativa antecede a reunião pedida à CMA pela SFIA, para que se encontre um entendimento para avançar com a insonorização necessária ao Cine-Incrível. Voltaremos a este assunto quando houver mais desenvolvimentos.
O Almada Online pediu testemunhos a vários músicos, bandas e personalidades ligadas à cultura, que transcrevemos abaixo. Editámos alguns comentários, por motivos editoriais.
“O crime é “calar” um palco que deu tanta voz a tantos artistas durante tantos anos. Esta sala devia ser defendida pela sua autarquia e não condenada por um sistema a meu ver anticultural. Dei vários concertos míticos no cine incrível Almadense com os Ena Pá 2000, Irmãos Catita e recentemente com Suzie and the Boys. Guardo memórias únicas e, espero sinceramente puder voltar a pisar esse palco tão importante para todos os amantes da música. Tem obrigatoriamente que haver uma solução por parte da autarquia.”, Suzie Peterson aka Miss Suzie, actriz, cantora, corista, palhaço, aderecista, figurinista, cenógrafa, produtora e directora de arte.
“O único testemunho que podemos dar é que é efectivamente mais uma facada nos poucos espaços de divulgação de cultura que não se enquadra no mainstream. É mais importante uma queixa sobre ruído do que todo o histórico cultural, bem como o presente e futuro do Cine-Incrível, não só para o concelho de Almada, mas para todo o país e todo o seu paradigma cultural. Sinais dos tempos, em que cada vez mais acabam com os cada vez menos espaços de cultura, que não interessam a quem pode acabar com eles”, banda Gods of Wars.
“É uma pena pois uma casa como o Cine-Incrível, não deveria passar por tal situação! Uma casa de renome em Almada! A Alma Danada não deveria jamais baixar os braços. A luta pela cultura é sempre válida. Acredito que muito em breve isso estará solucionado!”, Edy, vocalista e guitarrista da banda Arise.
“Estamos consternados, estupefactos, revoltados, incrédulos, desiludidos com o que se passa. O Cine-Incrivel é uma casa histórica de Almada que sempre recebeu a nossa banda e qualquer projetco musical de braços abertos, que contribui para a riqueza cultural de Almada e de Portugal, portanto esta situação é surreal.”, banda Deep Trouble.
“O Cine-Incrível é um polo particularmente importante para a cultura na cidade de Almada. É casa para projetos conhecidos e outros menos conhecidos. Desta forma, para fins de divulgação, não tem paralelo. Serem obrigados a fechar a sua principal actividade é uma punhalada para as pessoas que lá trabalham e que lutam para beneficiar a cultura em Almada e, também para os artistas. Não faz sentido perdermos a possibilidade de beber um copo enquanto se assiste à magia toda. Queremos que o Cine-Incrível permaneça! A cultura almadense está do seu lado, estamos prontos a lutar por este privilégio. Não nos tirem isto!”, Rui Luís, cantador, músico.
“E assim se fecha o único espaço na nossa cidade que dava a oportunidade aos músicos para se darem a conhecer e a bandas consagradas de mostrarem a sua arte! Tenho a esperança que quem tem o poder de decidir não deixe morrer um espaço que já era uma referência no mundo da cultura musical, sim porque a música é uma arte que enriquece não só quem a consome, como também quem a cria!”, Michael Valadas, vocalista dos BrainDead.
“O Cine Incrível como único local de concertos na cidade de Almada nunca deverá ser encerrado. Toquei neste espaço diversas vezes com alguns dos meus grupos e fui sempre muito bem recebido, por gente muito profissional dentro da área do espectáculo. Não façam de Almada mais uma cidade dormitório, onde não se passa nada relacionado com a cultura. Almada foi e é uma das maiores cidades portuguesas culturais de onde surgiram grandes talentos musicais. Espero que o encerramento do Cine-Incrível nunca aconteça porque se for o caso, Almada morre de vez”, Pedro Temporão, Corsage, Manchesters, Os Magnéticos, The Fishtails.
“O Cine-Incrível é um espaço icónico, e, mais que isso, essencial para a cultura almadense, pois para além do trabalho incansável e esforço hercúleo feitos pela Alma Danada para manter viva a cultura da margem sul numa base regular e diversificada, é também o único espaço na zona com dimensões e características que permitem ter espectáculos de alguma dimensão, com esta regularidade em Almada. Sem o Cine-Incrível, Almada vai regredir em termos de variedade e capacidade de oferta, perdendo uma oferta nocturna variada, que estimula e apoia artistas locais e de outras origens, passando a ter apenas espaços de menor dimensão, o que inevitavelmente se reflecte nos espectáculos. A câmara municipal devia sem dúvida intervir no sentido de encontrar uma solução que permitisse à casa permanecer aberta, por exemplo dando um apoio para financiamento das obras de insonorização necessárias para o espaço permanecer em actividade.”, Jaya Girão aka Vanity Redfire dos Voix de Ville, cantora, artista de burlesco.
“A proibição de concertos no Cine-Incrível pelo tribunal, depois de os próprios já estarem limitados nos últimos meses a um horário castrador, revela-se de uma total insensibilidade para com o movimento artístico que este estabelecimento tem construído nos últimos 12 anos, revelando-se uma injustiça tremenda cometida por uma autoridade que só dá ouvidos a uma das partes, que mesmo assim se julga afectada quando os concertos já só podiam ser realizados até às 23h. É assim o desrespeito pelas artes em Portugal, onde o dinheiro fala mais alto, onde uma pessoa consegue falar mais alto que os milhares de artistas que trabalham nesta casa e conseguiram levar o melhor da arte em Portugal ao povo de Lisboa e Almada nos últimos anos. Como músico premiado com vários apoios do governo desde 1992 de suporte para os meus grupos, julgo que esta acção é totalmente oposta ao interesse de tornar disponíveis mais salas de espectáculo para os artistas portugueses e valorizar a nossa arte. Vergonhoso! “, Pedro Madaleno, músico.
“O Cine-Incrível veio colmatar a falta de salas para concertos em Almada, sempre boa música e sempre bem recebido. Não faz sentido fechar ou deixar de passar musica.”, António Francisco Melão aka Cameraman Metálico, fotógrafo de música.
“Em relação à Incrível Almadense, estou chocado, mas não surpreendido, considerando os tempos que estamos a viver, quero apenas expressar o meu mais profundo apoio e solidariedade à direcção da Associação Alma Danada, esperando que o problema se resolva rapidamente e que as actividades possam continuar por muitos mais anos. Fui frequentador da Incrível no principio dos anos 70, onde assisti aos concertos dos Beatnicks e dos Chinchilas etc.,memórias inesquecíveis. A música tem que continuar, as futuras gerações vão agradecer.“, Francisco JC Romão, proprietário da sala de espectáculos Roxy Romeo Café-Teatro Estúdios.
“O Cine incrivel representa provavelmente o maior serviço publico prestado à comunidade, é vergonhoso não ser amplamente reconhecido o valor patrimonial ali desenvolvido. Calar a música no Cine-Incrível é calar Almada.”, Pedro Galhoz, Pedro e os Lobos. Plástica , LovedStone, manager da Luckyman Agency.
“O Cine-Incrível é um espaço muito importante para a cultura do país. Nele tocam todas as semanas projectos musicais de variados estilos, possuindo uma programação eclética que atrai públicos atentos e sedentos de cultura. Ali toquei muitas vezes nas noites de quinta-feira, às quais o Cine-Incrível dedica há alguns anos uma programação de jazz e, onde integra desde músicos consagrados a jovens promessas que ali estreiam os seus projectos. É com muita tristeza que vejo uma referência como o Cine-Incrível lutar pela sua sobrevivência cultural. Espero que a situação seja revertida rapidamente e possamos voltar a ouvir música naquela sala incontornável.”, João Roque, músico, Young Cats Collective, JB Ensemble, Cat’s Cradle Trio, professor de música.
“O Cine-Incrivel é uma sala icónica e absolutamente essencial e, é necessário que a câmara de Almada procure encontrar soluções para que se possa manter aberta.”, Paulo Furtado, The Legendary Tigerman, Wraygunn, Tédio Boys.
“Almada sem cultura é pouco mais que nada. Como músico e amante de música, sempre tive, desde que me conheço, a imagem do Cine-Incrivel como uma referência da vida intelectual da cidade de Almada. Foram muitos os concertos a que lá assisti ou participei e não consigo entender ou concordar com o encerramento de um local de referência da cultura Almadense, desta forma abrupta. A ignorância é o pior inimigo do ser humano e o encerramento desta sala fará com que se perca um local de referência, a nível nacional, para a nossa música e os nossos músicos. Quem proibiu a realização de espectáculos nesta sala não tem a mínima noção do que este local significa há já várias décadas e para várias gerações. Não deixem morrer a cultura!”, Eduardo Vaz Marques, Dalai Lume.
“Incrível Almadense, era assim que a chamávamos, sala icónica de espectáculos que existe há 98 anos! Esta sempre foi e é a nossa casa da Música ao Vivo, dos Músicos, da Arte e da Cultura. Mais uma vez, a fim de que todos á sua volta possam viver em harmonia, a falta de fundos e propostas para obras no edifício persiste… mais umas portas que se fecham.” Midus Guerreiro, música, ex-Roquivários
“A Cinl-Incrivel de Almada é um bastião da cultura da Margem Sul do Tejo e uma referência mesmo para quem não é de Almada e ficou marcado desde sempre por concertos inesquecíveis nessa sala. A Incrível não pode ser calada!”, Luís Rattus, Grito!, Albert Fish , Zerowork Records.
“É uma coisa que se tem vindo a sentir em toda a área de Lisboa. É um autêntico assalto à música ao vivo em toda a cidade e subúrbios, com novas leis de ruído, licenças, taxas e taxinhas, tendo vizinhos à volta ou não, é uma tristeza muito grande. Deveria ser do interesse de todos ter uma cidade como outras capitais europeias, onde se queremos ouvir música ao vivo qualquer dia da semana ela existe. Aqui em Lisboa é só fechar sítios ou proibir a música ao vivo. Associações, bares etc, têm que ter a mesma legislação e impostos de um sala de concertos grande, sem nenhum apoio, nem de juntas nem de câmaras, alguns sem poderem cobrar bilhete algum, tudo porque são simplesmente bares”, Margarida Martins, vocalista dos Swing n’ Stomp.
“Acho que só toquei lá uma vez e já foi há uns anos. Não tendo nenhuma ligação particular ao espaço posso no entanto dizer que me lembro de ter gostado imenso, é uma linda sala com um grande historial de concertos e Almada vai perder um dos seus espaços mais carismáticos, se a interdição avançar.”, João Leitão, Miss Manouche, Irmãos Catita.
“A programação do Cine-Incrível tem sido nos últimos anos um espaço essencial, não só na apresentação de novos projectos mas também na afirmação de reconhecidos nomes do panorama da música do pop/rock ao Jazz, do electrónico ao alternativo. A qualidade da programação do Cine-Incrivel tornou-se uma referência na grande Lisboa para músicos e público. Deixo alguns nomes de músicos que vi mais de uma vez na sala: Mário Delgado, Manuel Paulo , Zé Nabo, Alexandre Frazão .”, Ana Nave, actriz, encenadora.
“Culturalmente caminhamos para um abismo que fica agora mais próximo com as dificuldades que o Cine-Incrível enfrenta. É preciso coragem e combate. Não se conte com um Estado que tanto contribui para este estado das coisas, a sociedade civil deve ser mobilizada na salvaguarda deste e outros espaços onde a diversidade cultural teima em acontecer.”, Miguel Newton, Mata-Ratos.
“A famigerada gentrificação fez mais uma vítima no associativismo cultural popular. Desta feita foi o Cine-Incrível, parte duma instituição com 175 anos de história ao serviço do povo almadense e dos músicos de todo o país. A incontestada capital do rock português perde assim mais um local, um dos últimos, onde as bandas se podiam apresentar.”, Miguel Paulitos, músico
“Devia ser proibido proibir a música, devia ser castigado quem assim delibera e devia ser punido quem se lembra de tal coisa e requer o silêncio. A música é um bem de todos, o 25 de Abril trouxe a musica para a rua e parece-me que é fascismo amordaçá-la. Cine-Incrível, uma nova vítima do fascismo moderno.”, Jorge Bruto, vocalista dos Bruto & The Canibals, Emilio e a Tribo do Rum, Capitão Fantasma.
“Ao ler o comunicado da Alma Danada de que o Cine-Incrível iria ser forçado a fechar portas senti-me como se me tivessem assassinado um ente querido. O Cine-Incrível foi o meu cinema de infância e da adolescência, tal como o foi para muitos outros almadenses. Com a associação Alma Danada, o Cine-Incrível ganhou uma dimensão nacional e internacional, reconhecido por muitos como uma das melhores casas de espectáculos do país. Tudo graças à dedicação, empenho e altruísmo da Almada Danada e, muito em particular da Clara e do Alfredo, para divulgar a cultura e torná-la transversal. Foi com a Almada Danada que regressei à casa onde aprendi a arte e a cultura e tive o privilégio de divulgar a minha própria arte em todas as suas vertentes e, mais importante do que tudo, ganhei uma família. Não conheço nenhum artista nacional ou internacional que tenha passado pelo Cine-Incrível que não o apelide de “minha casa”. Permitir que o Cine-Incrível feche as portas é matar a Alma desta Cidade que sempre foi e será Danada. Se tivermos que morrer, então vamos morrer de pé a lutar pela nossa identidade. Eu luto pelo Cine Incrível!”, António Boieiro, músico, DJ, poeta.
“Tenho as melhores memórias do Cine-Incrível, um local que acolheu muitas vezes o Burlesco e o Cabaret. Pisei algumas vezes o palco com grandes músicos e com a sala cheia. Esta situação entristece-me, porque é um local único e dos pouquíssimos em Almada que acolhe música ao vivo, desde sempre…. Não são só os artistas que precisam do Cine, Almada precisa de continuar a ter este local histórico. Vivi em Almada durante um tempo e pude testemunhar que é um local necessário para a cultura da cidade. Sinceramente, se a autarquia da cidade não ajudar nesta situação, a cidade ficará na penumbra.”, Manu de La Roche, artista de burlesco.
“É de fato uma notícia triste e com grande impacto. Em nome dos Porta66 de que sou vocalista posso dizer-lhe que foi com tristeza e consternação que a notícia foi recebida. Esperamos que tanto a Incrível Almadense como a Alma Danada consigam, com todos os esforços, os apoios necessários à resolução do problema, para que possamos ter esta casa a funcionar em pleno de novo. As entidades competentes têm responsabilidade perante a população e o país, em preservar estes espaços que fazem parte da história do nosso país e da nossa cultura!”, Vanda Leocádio, vocalista dos Porta 66, Banda ‘1000.
“O que o Cine-Incrível faz pela cidade de Almada e suas gentes é de um valor incalculável. É um espaço de lazer e de fruição de arte e cultura para Almadenses e cidadãos da área metropolitana de Lisboa. Mais do que isso, é uma verdadeira incubadora de talentos, um atelier aberto e hospitaleiro, em que criadores musicais, de diversas origens, podem experimentar e apresentar todo o tipo de ideias, sem barreiras. A diversidade e riqueza da programação de concertos do Cine Incrível, cultiva a curiosidade e a pesquisa, desencadeando e alimentando um ciclo positivo que forma públicos e novos músicos. É um luxo de que poucas cidades dispõem e que muito custará a Almada, se se perder. Caricatamente, a cedência às pretensões de um alojamento local contribuirá, a curto prazo, para a degradação e empobrecimento da cidade que o mesmo empreendimento apresenta como merecedora de visita e de estadia. Fazendo com que, até no plano turístico, a interrupção da programação de concertos do Cine Incrível seja uma determinação nociva, que afecta negativamente todos os outros alojamentos locais. Não há comparação possível entre o bem que se pretende proteger, conjuntural, com o bem comum que é prejudicado, danificando estruturalmente o tecido social e cultural da cidade. Urge preservar o Cine-Incrível como espaço de concertos”, Vasco Vaz, guitarrista e compositor, Mão Morta, Braindead, Mundo Cão, Agora Colora.
“O que está a acontecer ao Cine Incrível não é propriamente novidade. Todos nos lembramos do Rock Rendez-Vous, do Johny Guitar, do Ritz Club, ou do Sabotage, só para dar alguns exemplos. As causas são diversas – ruído, aumento desproporcionado das rendas, transformação dos edifícios para outros fins – mas o problema é o mesmo: falta de fundos. O negócio da música de escala local não gera receitas suficientes para fazer face aos requisitos básicos do seu funcionamento. O dilema é antigo, mas agravou-se nos últimos anos com a gentrificação das cidades e com o profusão dos grandes festivais de música que, à semelhança das grandes superfícies comerciais, funcionam como os eucaliptos que secam tudo à sua volta. E não é só em Portugal, também nas principais cidades do Reino Unido, onde os clubes sempre funcionaram como viveiro da poderosa indústria musical britânica, cerca de metade das pequenas salas fecharam nos últimos cinco anos. Os mais teimosos continuam a resistir, sacrificando muitas vezes tudo o resto para manter viva a chama. Se acho que, na perspectiva de defender a cultura local, o estado devia apoiar? Devia. Se acredito que o faça? Não – ou no caso de ser muito pressionado e o assunto se tornar mediático, encontra expedientes para adiar a questão, como no Stop, no Porto. Ainda assim, como não sou pessimista, espero sinceramente que quem de direito em Almada ajude o Cine-Incrível a encontrar uma solução duradoura. Em ano de cinquentenário do 25 de Abril é, mais do que nunca, necessário e urgente defender a liberdade e as formas de expressão que contribuem para a definição da nossa identidade cultural como, por exemplo, a nossa música.”, Luis Varatojo, banda Luta Livre, Peste & Sida, Despe e Siga, a Naifa, Fandango, Linha da Frente.
“A minha ligação com o Cine-Incrível resume-se a alguns concertos de boa memória e uma deliciosa festa de aniversário da loja Two Tone Store, infelizmente também já encerrada, que juntou o Vespa Clube de Lisboa, a banda Corsage e um final de noite dançante onde participei como DJ. Com o encerramento do Cine-Incrível para concertos, encerra também definitivamente o interesse pela cidade de Almada, no que diz respeito ao panorama cultural musical, que tantos artistas deu ao país e que tantos outros tão bem recebeu.“, Cristina Martins, DJ Lady Brighton.
“O Cine-Incrível é espaço tutelar do rock na região da grande Lisboa, um marco arquitectónico e afectivo que ainda não conheceu o triste fim á mão da especulação imobiliária. Devíamos fazer um concerto para alertar a população para o perigo que está a correr.” Manuel João Vieira, Ana Pá 2000, Irmãos Catita, Corações de Atum, pintor, ex-proprietário do Cabaret Maxime, um dos actuais proprietários do Titanic sur Mer.
“Não há muitas salas em Almada onde um grupo novo ou um artista profissional possa, com regularidade, apresentar o seu trabalho. O Cine-Incrível era essa sala e a sua reputação alcançou dimensão nacional. Não havia, não há, muitos espaços como este, lamento o que se está a passar. Resta criar as condições necessárias para que o Cine-Incrível regresse depressa – a música, a cultura e os músicos agradecem.”, António Manuel Ribeiro, vocalista dos UHF, músico, compositor, letrista.
“A inibição jurídica de concertos ao vivo no Cine-Incrível em Almada, é uma demonstração inequívoca da secundarização da cultura e do entretenimento em relação aos interesse imobiliários da rua em questão. Isto é não só sobejamente conhecido pelas gentes de Almada, como era esperado no contexto de uma gestão autárquica que já demonstrou não ter interesse em proteger o legado histórico da cidade em termos de cultura alternativa. Se, no passado, nós de Lisboa, olhávamos para a outra margem, para Almada como um viveiro e um santuário das melhores bandas nacionais e rumávamos religiosamente a sítios como o Cine-Incrível, para fruirmos e investir nessa cultura, agora sentimos que o sonho acabou e que Almada se tornará mais uma cidade-sombra, a imitar a gentrificação e a uniformidade de gostos de outras cidades que, anteriormente, lhe copiavam as ideias.”, Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell, escritor, tradutor.
“Sinto-me profundamente triste com o que se passa com o Cine-Incrível: uma casa e uma equipa que fazem há anos o que se deveria qualificar de serviço público, fazendo trinta por uma linha para trazer novos artistas e promover de forma quase gratuita a cultura da margem sul, senão a do país inteiro – postos entre a espada e a parede; obrigados a cancelar espectáculos. São as contrapartidas da gentrificação forçada e da lei voraz do imobiliário sem regras. Sinto uma pena enorme de ver um sítio onde já toquei inúmeras vezes e, que inclusive me serviu de sala de ensaios, de local de filmagens, de tanta coisa, para mim e tantos outros, de ver uma casa tão bonita ser posta em causa por pura ganância.”, Charles Sangnoir, músico, produtor de música e vídeo, artista plástico.
“Toco baixo há mais de 35 anos e, apesar de eu ser lisboeta, desde muito cedo o Cine-Incrível fez e, faz parte, do meu trajecto como músico e como ouvinte musical. No Cine assisti a muitos e variadíssimos concertos. No Cine fiz muitos concertos e, até no Cine gravei videoclipes. De modo algum, isto não pode mesmo terminar assim, seria uma enorme perda para todos nós e os próximos.“, Nuno Correia, baixista dos UHF.
“Salas como o Cine-Incrível são imprescindíveis para o surgimento de novos artistas. Ter talento e ser artista são coisas diferentes. O artista faz-se no palco. Não há muitos palcos que recebam novos valores e que lhes dêem condições de trabalho. Hoje o Cine-Incrível é a única sala em Almada com este perfil. Fiz-me músico/artista nos anos 90. Almada oferecia na altura uma mão cheia de espaços para crescer e a nível nacional existia um circuito. Agora, Almada arrisca-se a ficar sem a única casa que preenche esse propósito e, no país há muito que esse circuito não existe. O que vai acontecer aos músicos de amanhã? Existirão?”, António Corte Real, guitarrista dos UHF, compositor e produtor musical.
“Mais uma sala de espectáculos a fechar portas. Acho que isto é mais um passo para o assassínio cultural que lentamente se vem verificando. Há pessoas muito mal com a vida e não suportam ver as outras felizes e por isso fazem de tudo para atrapalhar. Já toquei muitas vezes no Cine-Incrível e, já lá fui ver muitos espectáculos, e não vejo onde possa haver ruído que justifique esta acção. Pode não ser a melhor sala com as melhores condições, mas é uma sala que junta pessoas em prol da cultura e traz pessoas a esta zona de Almada. Acho q a Câmara deveria e teria a obrigação de por mãos nisto e fazer as obras necessárias de melhoramento para que se possa continuar a trazer musica, a quem a quer ouvir.” , Tó Pica, guitarrista dos Sacred Sin, Ramp, Anti Clock-Wise.
“Não podemos deixar que este lugar singular seja proibido de realizar espectáculos de música ao vivo! O Cine-Incrível tem uma história demasiado rica e relevante no panorama da música portuguesa para ser calada desta forma. O serviço prestado à comunidade, enquanto promotor e instigador de arte e cultura, deve continuar vivo.”, banda Búfalo Sentado.
“Desde sempre que o palco do Cine foi o meu. Sempre me abriram portas, sempre valorizaram os compositores, os artistas, os performers. Sem perguntas, sem cunhas, sem falsos moralismos. O Cine deu voz, espaço e luzes a todos os criadores e executantes que quisessem mostrar o seu trabalho. Num país onde quem não tem padrinhos, não se faz ouvir, é importante ter um espaço assim. Um dos poucos. Um dos grandes. Um dos “a sério”. Sei que isto não irá acabar pois nós, os acolhidos pelo Cine, nunca o iremos permitir. Todos somos “Incrível”. “, Tatiana Molko, Nancy Boy.
acção judicial, Alma Danada, Almada, Ao Vivo, Cine-Incrível, concertos, Cultura, insonorização, Música, palco, SFIA, Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, Tribunal de Almada, vizinhos
Pingback: Almada | Ex-Votos no Cine-Incrível - Almada online