Almada | Picollo Corpo

Um filme de Laura Samani, que pode ser visto dia 29 de Maio às 21h, no Auditório Fernando Lopes-Graça

A 17ª Festa do Cinema Italiano, na sua extensão almadense, termina a 29 de Maio às 21h, no Auditório Fernando Lopes-Graça, com o filme “Picollo Corpo”.

Uma pequena ilha no nordeste de  Itália, no inverno do início de 1900. Depois de um parto demorado, Agata (Celeste Cescutti) deu à luz a sua filha morta. Agata não consegue simplesmente seguir em frente, como toda a gente à sua volta parece fazer. Segundo a tradição católica, um bebé que não tenha dado o primeiro suspiro não pode ser baptizado e a sua alma é condenada ao Limbo sem nome e sem paz. Mas Agata ouviu falar de um sítio nas montanhas do Norte, onde as crianças podem ser ressuscitadas, apenas para aquele fôlego necessário para as baptizar. Desesperada por libertar a alma da sua bebé, Agata retira o corpo da sepultura, que coloca numa caixa, e parte em direcção às montanhas. Deixa a ilha em segredo e empreende uma perigosa viagem com nada mais do que esperança para a guiar e o corpo da filha escondido numa caixa. Não conhece o caminho, nunca havia visto neve na sua vida, arrisca-se a perder-se a si própria e a morrer. O seu desejo consciente é dar um nome à filha para poder deixá-la partir. Lynx (Ondina Quadri), um rapaz selvagem e solitário que conhece o território, oferece-se para a ajudar, em troca do misterioso conteúdo da caixa. Apesar da desconfiança mútua, partem numa aventura durante a qual a sua coragem e amizade permitirão a ambos aproximarem-se de um milagre que parece impossível. A escolha de Agata é practicamente escandalosa porque denota orgulho e protesto, não só contra a sua religião, mas também contra as leis da natureza.

“Esta viagem é uma forma de prolongar o estado de simbiose com a filha, que Agata viveu durante meses – uma espécie de continuação da gravidez, em que o bebé é transferido da barriga para as costas, tornando-se um peso que ela carrega nos seus ombros. A sua viagem é física, mas torna-se transcendental. Agata não se apercebe de que, para continuar a sua missão, tem de se transformar, tornar-se morta entre os vivos.”, explicou Laura Samani na estreia do filme.

Quase todo o elenco é composto por pessoas que nunca tinham representado antes, em alguns casos, famílias inteiras, que a realizadora encontrou enquanto pesquisava os locais onde filmar. É também por esta razão que decidiu rodar o filme nos dialectos do Veneto e do Friuli, utilizando a língua autêntica da época, respeitando as diferentes variações, para que as pessoas se pudessem exprimir da forma mais natural possível.

Apresentado nos Festivais de Cinema de Cannes, Toronto ou Annecy, e vencedor da 14.ª edição da Festa do Cinema Italiano, um drama que tem por base uma crença popular italiana. A realização é de Laura Saman, que aqui se estreia em longa-metragem.

“Em 2016 descobri que em Trava, na minha Friuli Venezia-Giulia, existia um santuário onde, até ao século XIX, se dizia que ocorriam milagres particulares: que crianças nado-mortos podiam ser trazidas de volta à vida pelo espaço de um fôlego. Um milagre como este era necessário para para poder baptizar estes bebés que, de outra forma, estariam condenados a ser enterrados em terrenos não consagrados, como quem enterra um gato morto. Sem o baptismo, nunca poderiam ter um nome nem uma identidade; as suas almas vagueariam eternamente no Limbo. Este tipo de lugares chamam-se à répit, ou santuários de alento ou de tréguas, e estiveram presentes em todos os Alpes (só em França havia quase duzentos) e é surpreendente que esta história seja quase totalmente desconhecida, apesar da dimensão do fenómeno.”, acrescenta a realizadora. “Eram sobretudo os homens que se deslocavam a estes santuários com os pequenos corpos dos seus bebés. Naturalmente, as mulheres que acabavam de dar à luz estavam confinadas às suas camas, mas eu não conseguia deixar de ver a espera impotente a que estavam sujeitas.”

©DR / Agata é uma mãe que parte em busca de um milagre

Ficha Técnica:

Título original: Picollo Corpo
Realização: Laura Samani
Argumento: Laura Samani, Marco Borromei, Elisa Dondi
Produção: Alberto Fasulo, Nadia Trevisan
Elenco: Celeste Cescutti, Ondina Quadri, Ivo Ban
Música: Fredrika Stahl
Fotografia: Mitja Licen
Edição: Chiara Dainese
Género: Drama
Origem: Itália, França, Eslovénia
Ano: 2021
Duração: 80 min
Classificação: M/12

Preço: 3,00€ (desconto de 50% jovens e séniores)

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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