Almada | “Viver entre o que é deixado para trás”
Exposição fotográfica de Mário Cruz reabre antigo edifício da EDP
“Viver entre o que é deixado para trás”, ou “Living Among What’s Left Behind”, no original, valeu ao fotojornalista Mário Cruz dois prémios no World Press Photo. Foi o primeiro português a conquistá-lo e, a exposição vai passar por Almada.
Há muito que as Filipinas chegam até nós através de imagens de crises humanitárias e ecológicas. Manila, a capital do país, e o rio Pasig, um dos mais poluídos do mundo e considerado biologicamente morto desde a década de 90, têm sido o foco e foram objecto da reportagem fotográfica de Mário Cruz em 2018.
Esta é uma exposição que chega a Almada em grande formato, com quase todas as imagens em formato de cartaz e com materiais quase inéditos ou pouco conhecidos. Nesta exposição poderá ver-se as Instax (formato de fotografia instantânea da Polaroid) originais, com que fez toda a parte de retrato do trabalho nas Filipinas e que o ajudaram a conquistar a confiança de uma comunidade onde muitos nunca se tinham visto a si próprios em papel fotográfico.
O rio Pasig serve como depósito a mais de 30.000 toneladas de lixo por ano. Em determinados pontos, a água é invadida pelo monturo, formando uma maré tão densa que se torna possível atravessar de uma margem a outra a pé. O rio, que foi o centro económico de Manila, tornou-se o esgoto da cidade, mas com largos milhares de pessoas a viver naquele e daquele contexto.
O depósito constante de resíduos e o despejo das fábricas transformou o rio Pasig num esgoto. “É um exemplo do caminho perigoso que a humanidade está a tomar quando as necessidades básicas humanas bem como o ambiente são ignorados”, explica o fotojornalista no seu site.
Mário Cruz considera Almada como um ponto muito importante de passagem da exposição: “Almada e o Rio Tejo são um só” e a sensibilização de cidadãos que já tiveram de lidar com um rio poluído será facilitada. O edifício da antiga União Elétrica Portuguesa (EDP), “esquecido pelo tempo, com materiais gastos, coisas destruídas, exactamente como encontrei nas Filipinas”, será o palco desta instalação, toda composta de colagens a grande escala e que conta com várias toneladas de lixo, por forma a recriar o cenário de sobrevivência humana entre o lixo, por ele fotografado.
Uma das fotografias desta exposição valeu a Mário Cruz o terceiro lugar na categoria Ambiente, no World Press Photo 2019 e, o prémio Estação Imagem 2019 Coimbra, na mesma categoria. Com 35 anos, o fotojornalista já em 2016 conquistou o primeiro lugar na categoria “Temas Contemporâneos” do World Press Photo, com um projecto sobre escravatura de crianças no Senegal. Nesse país panfletos com fotografias suas foram distribuídos e ajudaram ao resgate de centenas de crianças.
Mário Cruz é um fotógrafo independente que se debruça sobre a injustiça social e questões dos Direitos Humanos e, em Maio de 2022 abriu um espaço em Lisboa onde todos podem apreciar e aprender fotografia gratuitamente, com o nome Narrativa. O fotojornalista acredita, que casos como estes, que vivem no esquecimento, são a essência do fotojornalismo, que os expõe a uma audiência alargada.
Morada: Rua Bernardo Francisco da Costa, próximo ao Mercado Municipal de Almada
Inauguração dia 16 às 18h com visita guiada pelo autor
De 16 de Outubro a 30 de Dezembro | Gratuito
Horários: Quinta e sextas: 15h às 19h Sábados, domingos e feriados: 10h às 19h
Visitas Guiadas: Visitas Guiadas com Mário Cruz 16h: 30 Outubro, 13 Novembro, 11 Dezembro
Visita nocturna 22h: 21 Outubro
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