Carris Metropolitana um passo atrás
Alterações nas linhas da área3 numa aproximação aos percursos antigos da TST, a tempo, pelo menos teoricamente, do regresso às aulas.
Foi com estrondo que ontem, 7 de Setembro, perfil fictício revelou no grupo do Facebook Passageiros da Carris Metropolitana constituído por 13,700 membros, alterações a ser implementadas brevemente em várias linhas da Carris Metropolitana no concelho de Almada. Um anúncio muito esperado, que surgiu depois de dois meses de reclamações insistentes e volumosas por parte dos utentes da área 3, afectados nos seus percursos diários em várias horas de lazer a menos nas suas vidas.
Percursos mais longos, mais transbordos não coordenados, falhas constantes no cumprimento de horários, falta de motoristas para que a operação estivesse no terreno a 100%, supressão de horários nas primeiras e últimas horas do dia, falta de chips que afectaram validadores e software empresarial das operadoras levando a atrasos na implementação da emissão de bilhética a bordo e dos painéis informativos nas paragens, supressão de linhas e destinos, menos oferta durante o fim-de-semana em várias linhas, mas sobretudo, uma falha enorme de comunicação em todo o processo, devido à falta de canais de comunicação abertos e claros com os utentes, contribuíram para um acumular de reclamações, sem resposta oficial por parte da Área Metropolitana de Lisboa (AML), Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML), Carris Metropolitana (CM) Câmara Municipal de Almada (CMA) e Transportes Sul do Tejo (TST).
Silêncio foi apenas o que se ouviu no mês de Agosto. Depois de em Julho se terem realizado sessões de esclarecimento com os utentes em todas as freguesias do concelho, nas quais estiveram presentes a presidente da CMA Inês de Medeiros; o vereador da CMA José Pedro Ribeiro responsável pelos pelouros Infraestruturas e Obras Municipais, Administração Urbanística, Economia e Desenvolvimento Local; os presidentes das respectivas Juntas de freguesia onde as sessões se realizaram e ainda; Faustino Gomes, presidente Conselho de Administração (CA) da TML e, nalgumas delas Rui Lopo, vogal do CA da TML. Supostamente estas sessões foram um levantamento das necessidades e reclamações dos utentes para melhoria da rede, auscultação popular que deveria ter sido feita antes de toda a operação CM ter tido início, mas não foi. Só que depois, foram todos de férias, deixando os passageiros que não tiveram férias nesse mês entregues ao caos criado nos transportes públicos de Almada. Nada foi implementado ou corrigido durante o mês de Agosto.
Foi um mês em que a ansiedade, a incredulidade, o stress, a raiva e, a falta de confiança na rede de transportes públicos cresceu e acumulou-se na população almadense, que tentava por todos os meios chegar ao trabalho a horas. Este ponto de ebulição, pode ainda sentir-se em qualquer paragem da CM, muitas vezes rebentando em agressões verbais e faltas de educação para com os motoristas da CM, que apenas cumpriam o seu trabalho estando também a adaptar-se e a ter formação sobre os novos percursos. Foram eles a única face pública de empresas que ignoraram pelo silêncio os seus utentes, durante todo o mês de Agosto.
Carlos Luz (nome fictício), é motorista dos TST há 23 anos e mora em Santo António da Caparica. “Até eu neste momento demoro duas horas nos transportes, antes de conseguir ir buscar o primeiro carro do dia, se tiver de o ir buscar à Cova da Piedade, e vou até à Costa a pé. ”, diz-nos com um olhar de desalento. “Nestes anos todos nunca vi a empresa neste desnorte. Estamos ali para fazer o que a TML manda, e ninguém nos pergunta o que achamos sobre as decisões, por mais bizarras que sejam. “
Ana Loureiro, psicóloga ambiental e professora na Universidade Lusófona explica o que pode acontecer a nível ambiental e psicológico, ao deixar arrastar este processo sem informação aos utentes. “À priori pensar num sistema integrado na AML é uma vantagem e há muito tempo que se pedia, para promover o uso dos transportes públicos face à emergência climática. Poder ter um sistema integrado é bom, parece ter falhado no planeamento e na comunicação.” No seu entender “uma mudança deste tipo é importante que se comunique antes, para diminuir a incerteza das pessoas, o stress no seu dia a dia e incómodo para o seu quotidiano. A disponibilização de informação concreta, simplificada para qualquer pessoa poder entender, nas paragens e no arranque desta operação teria sido muito importante. Acrescentar esta instabilidade na operação faz com que as pessoas que a possam evitar o façam, fugindo dela e usando o carro. Perdem-se utentes, que depois será muito difícil recuperar. As pessoas criam novos hábitos e o automóvel tem uma imagem de conforto muito difícil de contrariar. Ou seja, precisamente o contrário do desejado.”
Relativamente aos efeitos psicológicos que esta situação possa causar, não tem dúvidas em afirmar que “em termos psicológicos, em cima de uma pandemia, cujos efeitos ainda não se conhecem totalmente e não se fala ainda muito neles, uma mudança destas com consequências tão graves para o quotidiano das pessoas, acrescenta stress em cima de stress. Acumula em cima do que já lá está, podendo causar efeitos traumáticos e crónicos. Vai ser mais difícil ganhar e recuperar a confiança das pessoas.” Termina afirmando que “um dos efeitos do stress acumulado e frustração é a agressividade para com os motoristas. As empresas e os municípios têm de reagir, comunicar com as pessoas e procurar ajustar o serviço às necessidades do seu quotidiano. Os percursos têm de estar ajustadas às necessidades das pessoas e não a outra coisa”.
Quando tudo fazia prever que o regresso às aulas seria um caos ainda maior, comprometendo a assiduidade dos alunos do concelho de Almada, eis que este anúncio é feito anonimamente. Amanheceu e, verificámos que todas as linhas anunciadas nas redes sociais já estão disponíveis no site criado pelos TST para o regresso às aulas, sendo de esperar a qualquer momento o anúncio oficial deste passo atrás em toda a operação na área3, talvez como vitória sobre a TML ou os TST da pressão exercida em nome das reclamações dos utentes.
“Estas alterações foram disponibilizadas por mail na terça-feira para todo o pessoal ligado ao movimento dos TST”, revela o perfil fictício, que faz questão de permanecer anónimo. “Poderá haver algumas alterações de última hora, tudo depende das câmaras municipais pedirem alterações. Os TST só comunicam as alterações à última da hora, como não se pode agradar a gregos e a troianos, é a técnica do facto consumado”, continua.
Ficámos também a saber que “neste mundo dos transportes ninguém leva apertões, são todos amigos, as ligações políticas são fortes! As lutas partidárias nada têm a ver com o amiguismo político.” Quando perguntamos se o primeiro-ministro teve influência nestas novas alterações, visto serem milhares de pessoas com as vidas afectadas pela operação CM, não tem dúvidas “Se António Costa não sabe o que se passa, pelo menos permite que continue. O PS chumbou na Assembleia da República um pedido de audição parlamentar à TML”, diz ainda, confirmando que este é um assunto decidido a alto nível partidário e, nos mais altos cargos como já suspeitávamos. Afinal de contas, este foi o maior concurso público na história do país até à data e, envolve milhões de euros financiados por programas de fundos europeus.
É certo que estas novas alterações, que devem entrar em vigor dia 13, quando a CM mudar para horário escolar, não solucionam todos os problemas existentes no concelho e concelhos limitrofes desde 1 de Julho, dia em que “o pesadelo dos transportes” foi sentido como nunca na pele pelos utentes. É sem dúvida um importante passo atrás, que oferece de novo a oportunidade de se irem fazerendo implementações não tão radicais no terreno, não comprometendo toda a rede de transportes rodoviários planeada para a área3. Falta ainda resolver o caso de Porto Brandão, Areeiro, Costa da Caparica, Feijó e muitas outras localidades.
Quanto à hipótese dos utentes continuarem à espera durante horas nas paragens dos autocarros, por falta de recursos humanos para conduzir os conduzir confirma-se o que muita gente suspeitava. “Não existem recursos humanos porque não querem! Se melhorarem as condições de trabalho e vencimento não vai faltar candidatos. As empresas preferem ir buscar escravos aos estrangeiro. A Alsa Todi está a fazer uma campanha em Cabo Verde e, o Grupo Soulan, uma empresa de recursos humanos, está no Brasil a recrutar 300 motoristas que serão posteriormente distribuídos por várias operadoras de transportes portuguesas. Estamos a viver uma nova forma de comércio escravo!”
No mês passado os TST fizeram um aumento no salário base dos motoristas. Passaram de 750€ base para um mínimo de 940€, acrescentando-lhe o subsídio de agente único e as diuturnidades, pagos até aqui à parte. Não será a solução sonhada pelos motoristas, que têm a responsabilidade diária de transportar em segurança muitas vidas e, que são os primeiros a sofrer o embate dos utentes insatisfeitos e mal educados, mas será um pequeno incentivo que irá convencer mais a optarem por esta carreira nos TST e CM.
Com certeza que estas alterações serão também do agrado de muitos utentes e, serão um paliativo para que muitas queixas e reclamações abrandem ou terminem. No entanto, os utentes continuam sem entenderem porque tinham um serviço melhor que se perdeu, nem porque esse serviço não é de novo reposto. Sobretudo custa-lhes perceber se os concelhos da margem Norte adiaram o arranque da CM para Janeiro de 2023, porque é que este também não foi adiado nos concelhos da margem Sul, visto ser claro a todos que a CM, a TML e os TST não estavam em condições de cumprir, nem à altura do acordado.
Serão todas estas alterações uma tentativa de salvar a anunciada grande revolução nos transportes da AML, ou apenas pequenos ajustes para acalmar a população e se cumprirem prazos acordados no PRR ?
Eis a lista de linhas alterações anunciada nas redes sociais e que já se encontra no site da CM do regresso às aulas, sujeitas a alterações de última hora:
3013 – percurso passa a ser igual à anterior 103
3009 – percurso por dentro do Monte (escola seundária do Monte)
3010 – passa a ser uma variante da 3012, deixa de passar pela A33, fica com percurso idêntico à anterior 127
3012 – deixa de passar pela A33, fica com percurso idêntico à anterior 127
3014 – percurso por dentro do Monte (escola seundária do Monte)
3030 – deixa de circular pela Mata dos Medos, passa a circular pelo meio da Charneca da Caparica, com percurso igual ou parecido à anterior 130
3032 -percurso por dentro do Monte (escola seundária do Monte)
3034 -percurso por dentro do Monte (escola seundária do Monte)
3504 – ex 197, vai iniciar, percurso encurtado para o antigo, fica com terminal no Hospital Garcia de Orta, em vez de ir para o bairro do Fundo Fomento, aparentemente passa a ir a Vale Figueira, termina na Quintinha
3507 – deixa de circular pela Mata dos Medos, passa a circular pelo meio da Charneca da Caparica, com percurso igual à anterior 145
3524 – deixa de circular pela Mata dos Medos, passa a circular pelo meio da Charneca da Caparica, com percurso igual à anteriores 145
Linhas extintas: 3035 e 3036
Entram ao serviço : EX 133 e EX 123 como as linhas 3041 e 3040 respectivamente
Pingback: Oferta da Carris Metropolitana escola a escola - Almada online
Pingback: Começa hoje a Semana Europeia da Mobilidade - Almada online