Conselho de Administração da Transtejo / Soflusa demite-se

A decisão foi anunciada ao inicio da tarde de Quinta-Feira 16 de Março, em conferência de imprensa, depois de acórdão arrasador do Tribunal de Contas. Comissão de Utentes de Transportes da Margem Sul pede intervenção urgente do Governo

Na sequência do acórdão do Tribunal de Contas (TdC) de 15 de Março, o Conselho de Administração da Transtejo / Soflusa demitiu-se e o Governo aceitou a sua demissão.

A decisão foi anunciada ao inicio da tarde de hoje, Quinta-Feira 16 de Março, em conferência de imprensa, depois do acórdão arrasador do Tribunal de Contas ter vindo a público na comunicação social. Foi na sede da transportadora em Lisboa que Marina Ferreira, presidente demissionária do conselho de administração da transportadora fluvial, fez o anúncio da demissão. “Apresentamos a demissão após a crítica do Tribunal de Contas na compra de nove navios eléctricos sem as respectivas baterias”, afirmou .

O Governo já aceitou o pedido de demissão, informou o Ministério do Ambiente da Acção Climática, em comunicado enviado às redacções, pouco depois da conferência de imprensa terminar. Em breve será anunciada a nova administração da empresa, adiantou também a tutela.

“O Ministro do Ambiente e da Acção Climática constituiu uma equipa dedicada a apoiar a empresa na decisão que garanta a aquisição de baterias, em data aproximada à que estava prevista para a chegada dos barcos. O objectivo é permitir a disponibilidade das baterias nos prazos adequados, de modo a não impactar na operação da nova frota”, lê-se também no comunicado de imprensa.

Marina Ferreira, negou que o orgão que dirigia tenha practicado qualquer ilegalidade neste processo, ao contrário do que concluíram os juízes do Tribunal de Contas. “Gerir implica correr riscos de uma forma calculada”, afirmou a gestora. “A nossa actuação defendeu o interesse público. Fizemos a escolha que achámos melhor para o erário público”, garantiu também. “Estou triste”, terminou, lamentando a “falta de respeito” dos juízes pelos administradores da transportadora. Para a gestora, as considerações do Tribunal de Contas são “ofensivas e ultrajantes”.

Marina Ferreira disse ainda que conta ter, pelo menos, um novo catamarã até ao final do ano nas ligações do Seixal. “Não me parece impossível”, acrescentando que “oito meses parece razoável” para fazer novo concurso público para a aquisição de baterias exigido pelo tribunal. E acrescentou que “até ao Verão as estações de carregamento” deverão estar instaladas naquela cidade. “O navio funciona e está pronto para servir.”

Os juízes do Tribunal de Contas consideraram também que todo o negócio das baterias se revela de tal forma lesivo do interesse público que remeteram as suas conclusões para o Ministério Público, para eventual apuramento das responsabilidades financeiras ou mesmo criminais dos gestores da transportadora fluvial. Sobre essa possibilidade, Marina Ferreira respondeu aos jornalistas que a equipa demissionária terá de se “defender” e “dar todas as informações” sobre o processo de aquisição.

A presidente demissionária garantiu: “Não gastámos um tostão que não tivesse sido validado pelo Tribunal de Contas”. Foi o caso da compra dos catamarãs. E afirmou mesmo que “se pudesse voltar atrás teria feito tudo da mesma forma, uma vez que a compra dos acumuladores à parte era a opção mais económica na altura em que foi tomada a decisão. Só que depois surgiu a pandemia e com ela vieram as dificuldades de fornecimento e o aumento de preços, agravados mais tarde com a guerra na Ucrânia.”

Comissão de Utentes de Transportes da Margem Sul pede intervenção urgente do Governo

A Comissão de Utentes de Transportes da Margem Sul apelou hoje ao Governo para uma intervenção urgente na resolução dos problemas na Transtejo/Soflusa, evitando que os utilizadores do transporte que asseguram as ligações fluviais no rio Tejo sejam mais prejudicados.

Queremos que os utentes sejam poupados a mais tempo de espera e a mais horas perdidas no cais à espera que os barcos cheguem”, disse o porta-voz da comissão, Marco Sargento, numa reacção ao relatório do Tribunal de Contas, que acusa a empresa de “faltar à verdade” e de prácticas ilegais e irracionais.

Considerando que o problema é dramático para milhares de pessoas que usam diariamente os serviços da Transtejo/Soflusa, a comissão apela a uma intervenção do Governo para resolver “de uma vez os problemas do transporte fluvial no rio Tejo, colocando esta questão no centro das preocupações políticas”. “Temos de ter uma resposta imediata de reforço da oferta”, disse Marco Sargento, em declarações à Lusa.

O responsável salientou ainda que os problemas no transporte fluvial no Tejo, que se arrastam há anos, estão a criar um novo estigma na margem Sul, existindo relatos de pessoas que vão a entrevistas de emprego onde lhes é dito que o facto de viverem aí pode ser um entrave a chegarem a horas aos postos de trabalho.

O transporte fluvial tem sofrido constrangimentos há bastante tempo por avaria de várias embarcações, estando em curso um projecto de renovação da frota com a entrada ao serviço prevista de navios eléctricos.

O PCP e BE já pediram a audição do ministro do Ambiente e Acção Climática e do Conselho de Administração cessante da Transtejo/Soflusa, na sequência deste acórdão do TdC.

A 08 de Fevereiro, o ministro do Ambiente, que tutela os transportes urbanos, reconheceu a existência de problemas na operação da Transtejo e da Soflusa, garantindo que o Governo “tudo está a fazer” para os resolver.

“Temos de reconhecer que existe um problema na operação da Transtejo e da Soflusa, empresas que asseguram as ligações fluviais entre Lisboa e o Montijo, Barreiro, Seixal e Almada. Ao dizer isto, o Governo está a reconhecer a existência de um problema que tem trabalhado para ultrapassar em três dimensões: de frota, de operação e de recursos humanos”, disse Duarte Cordeiro, durante uma audição numa comissão da Assembleia da República.

Em Novembro, o Governo perspetivava ter disponível a maior parte da frota eléctrica de navios da Transtejo já durante o ano de 2023. O secretário de Estado da Mobilidade Urbana, Jorge Delgado, estimou, então, que os primeiros navios eléctricos começariam a operar entre o fim de 2022 e o início de 2023, adiantando que as baterias e os postos de carregamento já estavam contratados.

Em Setembro, a Transtejo tinha anunciado que a empreitada de construção e fornecimento de estações de carregamento da nova frota eléctrica de navios da Transtejo tinha sido adjudicada por cerca de 14,4 milhões de euros.

A Transtejo assegura as ligações fluviais a Lisboa a partir de Seixal, Montijo, Cacilhas e Trafaria/Porto Brandão, enquanto a Soflusa liga o Barreiro ao Terreiro do Paço, em Lisboa. As empresas têm uma administração comum.

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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