Costa da Caparica | Ciclo Cinema do Mundo
No Auditório da Costa da Caparica, todas as Quintas-Feiras às 21h
O CineClube da Associação Gandaia, apresenta durante o mês de Janeiro um ciclo sobre o Cinema do Mundo, no Auditório Costa da Caparica, todas as Quintas-Feiras às 21h.
Quinta- Feira 5 de Janeiro – Adeus, Dragon Inn (2003) de Tsai Ming-Liang
Na última noite antes de um velho cinema de Taipei fechar uma jovem japonesa corre para o cinema, mesmo apesar da chuva. O cinema parece deserto, sem vida. Mas, no entanto, há algumas pessoas, algumas talvez não sejam pessoas… Uma arrumadora coxa e um jovem projeccionista trabalham no cinema, mas nunca se encontraram. Todos os dias, até à última noite, a arrumadora procura o projeccionista na cabine de projecção, mas ele nunca está. Ela olha uma última vez e continua à sua procura pelos corredores da sala de cinema labiríntica. Mas continua sem o encontrar. Quando o filme termina, as pessoas saem e a porta fecha-se… Mas o jovem projeccionista repara que a arrumadora se esqueceu do termo da comida, por isso resolve ir à sua procura… Antes da sessão terminar, no ecrã gigante é projectado um filme de há 36 anos (1967) chamado “Dragon Inn” de King Hu. Um jovem japonês que veio até ao cinema à procura de outros homossexuais choca com alguém que se parece imenso com o espadachim do ecrã. No entanto, agora são velhos, sentados na sala escura e vazia, olhando o seu próprio filme. Choram… Serão reais ou apenas espíritos que não querem partir?
Adeus, Dragon Inn é uma melancólica ode aos antigos cinemas, aqueles em que cabiam mais de mil pessoas e hoje practicamente já não existem. É um filme sobre o olhar, o olhar do espectador diante do filme, os olhares que os seres humanos trocam entre si. A partir daí Tsai Ming-Lian desenvolverá um trabalho que reconfigura e recontextualiza diversas das suas preocupações habituais. Como é habitual no cinema de Ming-Liang, as personagens nunca conseguem comunicar uns com os outros ou expressar osseus desejos e angústias. Tsai radicaliza de certa forma a sua proposta minimalista, fazendo um filme quase desprovido de diálogos (há apenas dois diálogos no filme inteiro) onde a câmera se perde pelo cinema. Ao mesmo tempo é um dos seus filmes mais cheio de “quase eventos”. Todos os actores preferidos do director participam neste filme.

Ficha Técnica:
Título Original: Bu San / Goodbye Dragon Inn
Realização: Tsai Ming-Liang
Produtor: Hung-Chih Liang
Argumento: Tsai Ming-liang
Elenco: Kang-sheng Lee, Shiang-Chyi Chen, Kiyonobu Mitamura, Tien Miao,Chun Shih, Kuei-MeiYang, Chao-Jung Chen, Yi-Cheng Lee
Fotografia: Liao Ben-Rong
Origem: Tailândia
Género: Comédia
Ano:2003
Duração: 82 minutos
Quinta-Feira 12 de Janeiro – Tabu (1999) de Nagisa Oshima
Tabu, de Nagisa Oshima, é uma história sobre a íntima ligação entre a homossexualidade a dominação pelo sexo e a morte, no mundo dos samurais japoneses. A acção decorre em Quioto no ano de 1865, durante o período Edo (século XIX), quando o Japão ainda estava fechado aos estrangeiros.
Sozaburo Kano, um elegante rapaz de 18 anos, candidata-se ao exército de guerreiros samurai Shinsengumi. É filho de uma família abastada e poderosa e a sua explicação é que gosta de matar, por isto, alistou-se. O grupo é regido por regras e regulamentos rígidos, os guerreiros são exímios no manuseamento da espada e estão dispostos a matar todos os que se opõem ao regime japonês. Entre os grupos de instrução a homossexualidade não é uma lei que não deve ser transposta, ou seja, a homossexualidade não é tabu. Mas Sozaburo, ao envolver-se sexualmente com vários guerreiros, semeia paixões e ciúmes e a hierarquia militar é perturbada. Kano sabe de seus atributos e a trama deixa claro que os usa a seu favor. Ele é ambicioso, quer o poder. Mais do que isto, tem o prazer em dominar. Pelo amor, talvez antes, pelo desejo do amor. O engano e a traição não podem ser tabu. Passam a ser lei. Devido ao fascínio que exerce sobre todo o grupo, Sozaburo vê-se directamente implicado num assassínio, a que estão ligados dois samurais apaixonados pela delicada beleza do jovem.
Em Tabu, Nagisa Oshima, já bastante doente após um grave derrame, continua a dizer que a sexualidade é muito maior do que o prazer no sexo. Sexualidade é mesmo maior do que o erotismo. Para ele, o sexo é o motor da existência, mas se não tomamos cuidado, ele nos encaminha para o extermínio. Nagisa Oshima pertence ao cinema realista. Nesta película filma o vai e vem entre passado e presente, recordação e pensamento, numa acção não linear dentro de outra mais linear.

Ficha Técnica:
Realização: Nagisa Oshima
Argumento: Nagisa Ōshima, Ryōtarō Shiba
Elenco: Takeshi Kitano, Ryuhei Matsuda, Shinji Takeda, Tadanobu Asano, Yoichi Sai.
Fotografia: Toyomichi Kurita
Música: Ryuichi Sakamoto
Montagem: Tomoyo Ōshima
Género: Drama
País: Japão
Ano: 1999
Duração: 100 minutos
Quinta-Feira 19 de Janeiro – Kandahar (2001) de Mohsen Makhmalbaf
Em setembro de 1996, depois de dez anos de guerra com a ex-União Soviética, o Afeganistão entrou num período de obscurantismo que assombra o mundo até hoje. Os Talibãs assumiram o poder de grande parte do território do país e instauraram um brutal regime de censura e repressão. Foram proibidos a música, o fotografia, a pintura e qualquer reprodução da imagem do homem. O objectivo da milícia era criar um novo homem, livre de dogmas e idolatrias ocidentais. As mulheres foram obrigadas a usar burqa, uma túnica escura que as cobre da cabeça aos pés, e perderam todo e qualquer tipo de liberdade. É a história de uma delas que o cineasta iraniano Makhmalbaf decidiu contar. Com a volta recente dos Tallibãs ao poder no Afeganistão, o filme mantém a sua actualidade.
Nafas (Niloufar Pazira) é uma jornalista que nasceu no Afeganistão, mas que viajou quando era criança com a sua família para o Canadá. Contudo, a sua irmã não teve essa sorte. Quando era jovem ela perdeu as pernas devido a uma mina e, quando Nafas e a família saíram do país, a sua irmã foi acidentalmente deixada para trás. Entretanto Nafas recebe uma carta da irmã anunciando que decidiu suicidar-se, antes do próximo eclipse do Sol, uma clara metáfora da obscuridade que se abateu sobre o Afeganistão. Faltam três dias para o eclipse e Nafas tem que lutar contra o tempo para regressar a Kandahar. Desesperada para poupar a vida da sua irmã, Nafas vai para o Afeganistão onde se junta a uma caravana de refugiados que por várias razões estavam de volta ao seu país. Para passar a fronteira, a jornalista veste novamente a burqa, o véu que cobre as mulheres afegãs da cabeça aos pés, e faz-se passar pela quarta mulher de um dos refugiados. À medida que Nafas procura a irmã, ela vai tendo um claro e perturbador retrato do seu país, abalado pelo despótico regime dos Taliban.
Filmado mesmo no Afeganistão, a longa-metragem de Makhmalbaf foi apresentada na edição do Festival de Cannes, onde chegou a ser apontada como uma das favoritas para o palmarés. Pelo seu empenho a favor da melhoria da situação das mulheres afegãs, Kandahar recebeu a medalha Fellini da UNESCO.

Ficha Técnica:
Realização: Mohsen Makhmalbaf
Argumento: Mohsen Makhmalbaf
Elenco: Niloufar Pazira, Hassan Tantaï, Sadoiu Teymouri
Produtor: Syamak Alagheband
Fotografia: Ebrahim Ghafouri
Montagem: Mohsen Makhmalba
Género: Drama
País: Irão
Ano: 2001
Duração: 85 minutos
Quinta-Feira 26 de Janeiro – Gabbeh (1996) de Mohsen Makhmalbaf
Uma das célebres obras do novo cinema iraniano, narra com um toque de fantástico, o quotidiano das aldeias remotas do Irão pós-Revolução Islâmica, sobretudo a relação entre tradição e modernidade intrincada na cultura pérsica. O director Mohsen Makhmalbaf viajou pelas remotas estepes do sudeste do Irão para documentar a vida de uma tribo de nómadas quase extinta, os Gashgai, que cultiva como arte maior a tecelagem dos gabbeh, um tipo especial de tapete persa, cujos desenhos simbolizam histórias ou pensamentos de quem os faz. Os padrões e cores destes tapetes são inspirados directamente pela natureza e pelos acontecimentos mais simples da vida diária. Assim, quando a tribo atravessa o deserto, tons de amarelo cobrem os gabbeh. Do mesmo modo, quando nasce um bebê ou começa uma história de amor, cores alegres tingem os fios de lã. Misturando imagens documentais, acompanhando a peregrinação incessante dos povos do deserto, com cenas ficcionais, o director Mohsen Makhmalbaf monta um panorama emotivo da cultura do Irão, unindo passado e presente, fantasia e realidade. Numa simples e tocante história de amor estão envolvidas as pessoas cujas vidas são marcadas pelo ritmo da natureza e que instintivamente expressam as alegrias e tristezas através de canções, poesia e histórias que elas contam nos seus tapetes de cores brilhantes. É um desses tapetes que serve de motor narrativo a este filme, uma história contida noutra história.
Uma manhã, ainda cedo, um casal de idosos (Hossein e Rogheih Moharami) sai da sua cabana com um tapete gabbeh, rumo ao rio para o lavarem. Foi a velha mulher que o teceu, há muitos anos, enquanto esperava que o noivo a levasse para longe do clã familiar. Ao lavarem o gabbeh, os velhos admiram uma das imagens tecidas, a de um casal montado num cavalo, que conta a história de uma jovem, também chamada Gabbeh, proibida pela família de juntar-se ao seu grande amo. De repente o tapete ganha vida e aparece-lhes a jovem chamada Gabbeh (Shaghayegh Djodat), que é a mulher da imagem que admiravam e o “espírito” do tapete e, que pertence ao clã cuja história é narrada nos seus desenho. Gabbeh conta aos idosos como o pai a fez esperar para casar e fala-lhes do seu noivo, que seguiu a família para todo o lado à espera de autorização para a desposar. Apesar do seu pai concordar em deixá-la casar-se com o rapaz após o casamento do seu tio, as estações passam e o cavaleiro continua seguindo Gabbeh, sempre à espera. Em sua longa jornada pelo deserto, a jovem observa seu amado a distância, sem perdê-lo de vista, através das montanhas, dos rios e da neve.
Mohsen Makhmalbaf é um dos cineastas-referência do cinema iraniano contemporâneo, cujo filme Gabbeh, seleccionado para o Festival de Cannes de 1996, na secção Un Certain Regard, foi o sucessor do aclamado Salaam Cinema.

Ficha Técnica:
Realização: Mohsen Makhmalbaf
Argumento: Mohsen Makhmalbaf
Elenco: Abbas Sayah, Hossein Moharami, Parvaneh Ghalandari, Rogheih Moharami, Shaghayeh Djodat
Produtor: Khalil Daroudchi, Khalil Mahmoudi, Mostafa Mirzakhani, Reza Shirazi
Banda Sonora: Hossein Alizadeh
Fotografia: Mahmoud Kalari
Montagem: Mohsen Makhmalbaf
Género: Drama
País: Irão
Ano: 1996
Duração: 72 minutos