Costa da Caparica | Ciclo de cinema “The Blues”
No Auditório da Costa da Caparica, todas as Quintas-Feiras do mês de Maio às 21h
O CineClube da Associação Gandaia, apresenta durante o mês de Maio um ciclo de cinema documental dedicado ao género musical Blues, no Auditório Costa da Caparica, todas as Quintas-Feiras de Maio às 21h. As sessões de cinema custam 1€ para os sócios e 2€ para os não sócios.
O Blues é um género musical que surgiu nos estados sulistas dos Estados Unidos, nos finais dó séc XIX, que se desenvolveu a partir das raízes da música tradicional africana, tais como as canções de trabalho afro-americanas, spirituals, cantos do campo, ring shout, e baladas narrativas simples e rimadas. O Blues, é omnipresente no jazz, no rhythm and blues e no rock and roll. A palavra “blues“, em inglês, é sinónimo de melancolia.
A música blues como género também é caracterizado pelas suas letras e linhas de baixo. Os primeiros blues tinham muitas vezes a forma de uma narrativa livre, relacionando frequentemente os problemas dos afro-americanos.
As origens do blues também estão intimamente relacionadas com a música religiosa da comunidade afro-americana, os spirituals. A primeira aparição do blues é muitas vezes datada após o final da escravidão e, está também associada à liberdade recém adquirida pelos antigos escravos. Desde então, o blues evoluiu de música vocal não acompanhada e de tradições orais de escravos, para uma grande variedade de estilos e subgéneros. A Segunda Guerra Mundial marcou a transição do blues acústico para o eléctrico e a abertura progressiva da música blues a um público mais amplo, especialmente ouvintes brancos.
A série de documentários “Martin Scorsese Presents The Blues: A Musical Journey”, é o resultado de um projecto antigo em que o realizador, em conjunto com sete realizadores com quem partilha a paixão por este género musical, se propõe contar a história do Blues de forma pessoal, sem preocupações cronológicas. Martin Scorsese lançou o desafio de narrar a história do blues a Clint Eastwood, Wim Wenders, Mike Figgis, Richard Pearce, Charles Burnett e Marc Levin, que não hesitaram em aceitá-lo. O resultado foi “Martin Scorsese Presents The Blues: A Musical Journey”, sete filmes impressionistas que testemunham a paixão dos seus realizadores pelo blues, pelos seus intérpretes e pelas suas histórias. Para celebrar o Blues, Scorsese reuniu ainda algumas das lendas do género musical num concerto, cuja gravação constitui o oitavo filme desta colecção.
O CineClube leva ao grande ecrã do Auditório Costa da Caparica, alguns dos documentários desta série.
Quinta-Feira 4 de Maio – A Caminho de Memphis
O Realizador Richard Pearce traça a odisseia musical da grande lenda do Blues, B.B. King, num filme que é um tributo à cidade onde nasceu um novo estilo de Blues, Memphis. Pearce leva-nos também pela estrada aos bastidores do Blues, com os veteranos de Memphis, Bobby Rush e Rosco Gordon. A homenagem de Pearce a Memphis apresenta ainda actuações originais de B.B. King, Bobby Rush, Rosco Gordon, Ike Turner, Reverendo Gatemouth Moore e Little Milton, assim como também inclui uma sequência de imagens de arquivo de Howlin’ Wolf, B.B. King, Rufus Thomas, Little Richard, Fats Domino, The Coasters, entre outras lendas do Blues.
A bordo do autocarro de Bobby Rush, Richard Pearce revive o “circuito de Chitlin”, um percurso de bares e clubes que era feito pelos bluesmen nos anos 40 e 50. O realizador regressa também à mítica Beale Street, em Memphis, para reencontrar o grupo de músicos que mudaram o blues para sempre.
No início da década de 40 do séc XX, Memphis era um dos principais centros de música blues. Vindos dos campos de algodão ou das grandes plantações, jovens músicos encontravam na cidade o meio ideal para porem à prova o seu talento. Na Beale Street, uma espécie de pólo cultural negro, havia um bar em cada esquina e os clubes estavam abertos até de madrugada. Toda a noite havia música na cidade e os novos músicos que ali chegavam não tinham dificuldade em encontrar lugar para actuar.
Rufus Thomas, Rosco Gordon, Ike Turner, Little Milton Campbell e B. B. King foram apenas alguns dos músicos que afluíram a Memphis por esta altura e que contribuíram para criar um novo estilo de blues. Um novo som, mais vivo e quente, que estaria na origem do rock and roll e do rhythm & blues.
Ao estilo do cinéma verité, Richard Pearce acompanha Rosco Gordon no regresso “à sua rua”, mas o músico septuagenário quase não a reconhece e, quase não é reconhecido onde outrora foi uma estrela maior.
Rosco Gordon está em Memphis para a gala dos prémios Handy 2002 que irá distinguir os melhores do Blues e reunir na cidade algumas das lendas do género. B. B. King é um dos nomes sonantes do Blues que regressa a Memphis. O filme de Richard Pearce é também uma homenagem ao homem que nasceu para ser tractorista, mas que acabou por se tornar num dos mais famosos músicos de Blues de todos os tempos.
Além de acompanhar o regresso a Memphis de vários bluesmen, Richard Pearce embarca também numa viagem pelo “circuito de Chitlin”, um percurso feito pela maioria dos músicos de blues nas décadas de 40 e 50 e que hoje é ainda percorrido por “Bad” Bobby Rush. O bluesman, com a sua aparência excêntrica e exagerada, faz o circuito “à moda antiga”. Com os seus músicos, percorre os bares da região a bordo de um autocarro que ele próprio gosta de conduzir e, viaja toda a semana para chegar a casa a tempo da missa de Domingo.
Natural de San Diego, na Califórnia, onde nasceu a 25 de Janeiro de 1942, Richard Pearce estudou Literatura Inglesa na Universidade de Yale. Foi aí que conheceu o realizador de cinema documental D. A. Pennebaker, com quem viria a colaborar em diversos documentários. Woodstock (1970) e Interviews with My Lai Veterans (1971) são dois documentários, vencedores de Óscares, que integram a filmografia de Pearce. Em 1979, com Heartland, Richard Pearce estreava-se no cinema de ficção. A sua “estreia” não poderia correr melhor, uma vez que o filme seria distinguido com o Leão de Ouro do Festival de Berlim. Country (1984), The Long Walk Home (1990) e Leap of Faith (1992) são outros filmes que tornaram Pearce reconhecido, tanto por parte do público como da crítica. O realizador trabalhou ainda para séries televisivas como Party of Five ou CSI Miami.
Pearce afirmou que “O Blues é a hipótese de celebrar uma das mais primitivas formas de arte americanas, antes que tudo desapareça, absorvido na sua totalidade pela geração do Rock’ n’ Roll. Felizmente chegámos antes que fosse tarde demais.”
O filme a Caminho de Memphis faz parte de um conjunto de sete filmes que narram a história do Blues, feitos através de um convite de Martin Scorsese a vários realizadores. Este é o episódio 3 desse conjunto intitulado “Martin Scorsese Presents The Blues: A Musical Journey”. A Caminho de Memphis é uma viagem pelo mundo do Blues dos anos 40 e 50 e um testemunho precioso dos homens que mudaram o género para sempre.
Ficha Técnica:
Título original: The Road to Memphis
Realização: Richard Pearce
Argumento: Robert Gordon
Produção: Jody Allen, Paul G. Allen
Elenco: Dr. Louis Cannonball Cantor, The Coasters, Jim Dickinson
Fotografia: Richard Pearce
Música: Davis Coen
Edição: Charlton McMillan
Género: Documentário / Música
País: Alemanha, Reino Unido
Ano: 2003
Duração: 1h 59 min.
Quinta-Feira 11 de Maio – Aquecido pelo Fogo do Diabo
Charles Burnett explora o seu próprio passado como um jovem rapaz que se movimenta constantemente, entre Los Angeles e o Mississipi, entre um tio que adora Blues e uma mãe que considera o Blues a música do Diabo. O filme de Burnett faz uma audaciosa mistura de histórias imaginárias com imagens documentais de um anfitrião de lendas do Blues, num conto sobre o reencontro de um jovem com a sua família no Mississipi, em 1955, dramatizando as tensões entre a tendência espiritual do gospel e as diabólicas lamentações do Blues.
Burnett disse que, “O som do Blues foi uma parte do meu ambiente, que eu aceitei como verdadeiro. No entanto, com o passar dos anos, o Blues apareceu como uma fonte de imagens figuradas, humor, ironia e com uma perspicácia que nos permite reflectir sobre a condição humana. Eu sempre quis fazer uma história sobre o Blues que reflectisse, não só a sua natureza e o seu conteúdo, como também aludisse à sua própria forma. Em suma, uma história que vos desse uma ideia real do Blues.”
O filme a Aquecido pelo Fogo do Diabo faz parte de um conjunto de sete filmes que narram a história do Blues, feitos através de um convite de Martin Scorsese a vários realizadores. Este é o episódio 4 desse conjunto intitulado “Martin Scorsese Presents The Blues: A Musical Journey”.
Ficha Técnica:
Título original: Warming by the Devil’s Fire
Realização: Charles Burnett
Argumento: Charles Burnett
Produção: Jody Allen, Paul G. Allen
Elenco: Tommy Redmond Hicks, Nathaniel Lee Jr., Carl Lumbly
Fotografia: John L. Demps Jr.
Música: Stephen James Taylor
Edição: Ed Santiago
Género: Documentário / Música
País: Alemanha, Reino Unido
Ano: 2003
Duração: 1h46 min.
Quinta-Feira 18 de Maio – De Regresso a Casa
Nasceram no delta do Mississipi mas carregavam consigo a ancestralidade dos ritmos africanos. Em De Regresso a Casa, o jovem músico Corey Harris procura as origens do Blues. Martin Scorsese viaja com o músico, desde as plantações de algodão no Mississipi até às margens do rio Níger, no Mali.
Estados Unidos da América, delta do Mississipi, 1865. Depois de vários anos de luta por parte dos grupos abolicionistas e de uma guerra civil que matou milhares de homens, o fim da escravatura é declarado em todo o território americano. Contudo, continuam a ser os negros a trabalhar, noite e dia, as centenas de hectares de plantações e campos de algodão. Trabalham e cantam. Repetem ritmos que foram passando de pais para filhos, de geração em geração.
Numa altura em que eram impedidos de comunicar entre si, de modo a que não pudessem organizar alguma forma de rebelião, os escravos, proibidos até de usarem os tambores sob pena de serem executados, encontraram no canto uma forma privilegiada de expressão. As suas canções falavam de dor e de sofrimento, da fé em Deus e na esperança de uma vida melhor, de amor e de desgostos amorosos. As letras aparentemente inofensivas escondiam, no entanto, mensagens que passavam incólumes aos ouvidos dos proprietários e capatazes das quintas, mas não aos escravos que as partilhavam. “Quando falava da rapariga o cantor podia estar a falar do patrão”, afirma o bluesman Willie King em De Regresso a Casa, e acrescenta: “O Blues é sobrevivência”.
Na década de 30, o musicólogo John Lomax, que se auto-intitulou “caçador de baladas”, viajou até ao delta do rio Mississipi para entrevistar alguns dos mais importantes bluesmen de então e, sobretudo, para gravar a sua música. O trabalho de John viria a ser continuado pelo seu filho, Alan Lomax. As gravações de ambos, guardadas na Biblioteca do Congresso norte-americano, são hoje registos preciosos de uma memória que o tempo quase apagou.
Recriando o percurso dos Lomax, Martin Scorsese acompanha Corey Harris, um jovem músico, numa viagem musical, guiada pelo ritmo do Blues e pelos encontros “fortuitos” com alguns dos seus músicos lendários nas suas casas, nos seus alpendres. Harris visita Sam Carr, toca com Willie King, Taj Mahal e Ali Farka Touré, conversa com Otha Turner, que viria a morrer poucas semanas depois.
Mais do que um documentário, De Regresso a Casa é um exercício de preservação da memória, recheado de preciosos documentos de arquivo , é o caso das gravações de Son House e Robert Johnson e, de momentos únicos, como a gravação da última actuação de Otha Turner.
Martin Scorsese descobriu o Blues era ainda adolescente. Tinha 16 anos quando ouviu na rádio uma canção de Lead Belly. “Nunca vou esquecer a primeira vez que ouvi o som daquela guitarra. (…) A música de Lead Belly abriu-me um mundo novo”, refere o cineasta. “Sempre senti uma afinidade com o Blues, a cultura e as histórias narradas através da música fascinam-me e impressionam-me bastante. O Blues tem uma ressonância emocional enorme e é a origem da música popular americana.”
O filme a De Regresso a Casa faz parte de um conjunto de sete filmes que narram a história do Blues, feitos através de um convite de Martin Scorsese a vários realizadores. Este é o episódio 1 desse conjunto, intitulado “Martin Scorsese Presents The Blues: A Musical Journey” e, é realizado pelo próprio.
Ficha Técnica:
Título Origina: Fell Like Going Home
Realização: Martin Scorsese
Argumento: Peter Guralnick
Produção: Jody Allen, Paul G. Allen
Elenco: Sam Carr, Toumani Diabaté, Corey Harris, Salif Keïta, Ali Farka Touré, Martin Scorsese
Fotografia: Arthur Jafa
Música: Davis Coen
Edição: David Tedeschi
Género: Documentário / Música
País: Alemanha, Reino Unido
Ano: 2003
Duração: 1h 50 min.
Quinta-Feira 25 de Maio – Piano Blues
O realizador e pianista Clint Eastwood, explora a sua paixão de toda a vida pelo pianoutilizado no Blues, usando várias actuações históricas e raras, assim como também entrevistas e actuações de lendas vivas, tais como, Fats Domino e Dr. John e o eterno Ray Charles.
Piano Blues é composto por entrevistas feitas pelo realizador, sentado ao piano com os seus entrevistados e, actuações de Ray Charles, Dr. John, Marcia Ball, Pinetop Perkins, Dave Brubeck, Jay Mcshann, entre outros.
“No meu filme Piano Blues, tento investigar quem influenciou todos, e quem foram os maiores músicos”, diria Clint Eastwood na estreia.
O filme Piano Blues faz parte de um conjunto de sete filmes que narram a história do Blues, feitos através de um convite de Martin Scorsese aos varios realizadores. Este é o episódio 7 desse conjunto intitulado “Martin Scorsese Presents The Blues: A Musical Journey”.
Ficha Técnica:
Título Origibal: Piano Blues
Realização: Clint Eastwood
Argumento: Clint Eastwood
Produção: Jody Allen, Paul G. Allen
Elenco: Count Basie, Cab Calloway, Ray Charles, Nat ‘King’ Cole, Fats Domino, Duke Ellington, Thelonious Monk, Muddy Waters
Fotografia: Vic Losick
Música: John McCullough,
Edição: Joel Cox
Género: Documentário / Música
País: Alemanha, Reino Unido
Ano: 2003
Duração: 1h 25 min.