Costa da Caparica | Contos da Lua Vaga

Um filme de Kenji Mizoguchi que pode ser visto dia 2 de Maio às 21h, no Auditório Costa da Caparica

O Cineclube Impala, organizado pela Associação Gandaia, leva ao ecrã do Auditório Costa da Caparica, o filme “Contos da Lua Vaga”, de Kenji Mizoguchi, iniciando um ciclo de cinema dedicado ao cineasta japonês, que decorrá durante o mês de Maio.

A história do filme passa-se no Japão violento e feudal do século XVI, durante a guerra civil. O filme segue a vida de dois camponeses que tentam mudar de vida, contando a história das suas famílias de origem humilde: Genjuro e Miyagi e o filho Genichi; e Tobei e Ohama. Genjuro é um artesão que procura fortuna com as suas cerâmicas, tentando dar uma vida melhor à mulher Myagi e ao filho Genichi. Tobei sonha em ser um rico samurai enaltecido por todos, mas não tem armadura. Mesmo sabendo do perigo da guerra, partem para a cidade para vender peças de cerâmica, deixando as famílias na aldeia. O oleiro volta para fazer novas peças, mas a situação na aldeia complica-se, e são obrigados a fugir e a separar-se. Tobei deixa a mulher para concretizar o sonho de se tornar um samurai. Sozinha e desprotegida, Ohama é levada por um grupo de soldados e forçada a tornar-se uma gueixa. Quando Wakasa, uma jovem nobre, se encanta pelas suas cerâmicas, a vida de Genjuro toma um novo rumo. Genjuro é seduzido pela bela aristocrata e esquece a mulher e o filho. Wakasa é na realidade um fantasma, uma vítima da guerra que morreu sem conhecer o amor, e que agora o procura entre os vivos, pois sem ele estará condenada para sempre.

Esta é uma história de amor e perda, que mistura de forma única o real e o que nos transcende. É ao mesmo tempo uma fábula moral, um filme realista e uma história sobrenatural.

A história de Genjuro, no argumento de Yoshikata Yoda e Matsutaro Kawaguchi, é baseado em três contos de Akinari Ueda, publicados em 1776. Já o conto francês “Décoré!”, de Guy Maupassant, publicado em 1883, serviu de inspiração para a trajectória da personagem Tobei.

Vencedor do Leão de Prata no Festival de Veneza de 1953, “Contos da Lua Vaga” é o mais célebre título da obra do cineasta japonês Kenji Mizoguchi (1898-1956). Juntamente com Akira Kurosawa (1910-1998) e Yasujiro Ozu (1903-1963), Kenji Mizoguchi é considerado como um dos grandes mestres do cinema japonês. Autor de uma filmografia única, os seus filmes retratam a realidade cultural de um Japão em profunda transformação. “Contos da Lua Vaga” é talvez o filme mais representativo do estilo do cineasta, das suas preocupações, humanismo e génio.

“Pura e simplesmente um dos maiores cineastas de sempre” disse Jean-Luc Godard acerca de Kenji Mizoguchi.

Mizoguchi nasceu em Tóquio, filho de um carpinteiro. As circunstâncias económicas da família, obrigaram o pai a vender a irmã mais velha, que se tornou uma gueixa, o que afectou profundamente a visão do mundo de Mizoguchi ao longo de toda a vida. Deixou a escola com treze anos para trabalhar e estudar artes gráficas, e o seu primeiro trabalho foi como designer publicitário, em Kobe. Estreou-se na indústria cinematográfica em 1920 em Tóquio, como actor e, três anos depois, tornou-se um director bastante conceituado na Nikkatsu Corporation. Nos seus filmes seminais, Mizoguchi foi considerado um director neo-realista, sendo os seus filmes considerados documentos sociais, que retrataram a transição do Japão feudal para o modernista. Mizoguchi também desenvolveu sua aproximação cinematográfica de um plano por cena.

Foi considerado o primeiro grande director japonês feminista, embora os seus temas não sejam os do feminismo actual. Revelou a posição feminina na sociedade japonesa como humilhante e oprimida, e demonstrou que as mulheres são capazes de actos mais nobres que os dos homens. Fez muitos filmes sobre os problemas das gueixas, mas os seus protagonistas são variados: prostitutas, trabalhadores, activistas, donas-de-casa e princesas feudais. Os seus filmes têm uma estética remanescente da arte japonesa. Prefere planos longos, encenações pictóricas, raramente utilizando o close up tão valorizado pelo cinema ocidental; uma cena típica pode demorar poucos minutos e dar ênfase apenas à luminosidade ou ao cenário. A essa beleza formal soma-se o envolvimento do público com as temáticas que aborda, e à habilidade com que provoca simpatia pelos seus protagonistas. As suas melhores obras são muito comoventes.

©DR / Wakasa uma jovem nobre, encanta-se pelas cerâmicas de Genjuro

Ficha Técnica:

Título original: Ugetsu monogatari
Realização: Kenji Mizoguchi
Argumento: Yoshikata Yoda, Matsutaro Kawaguchi
Produção: Masaichi Nagata
Elenco: Masayuki Mori, Kinuyo Tanaka, Machiko Kyo, Mitsuko Mito
Música: Fumio Hayasaka, Tamekichi Mochizuki, Ichirô Saitô
Fotografia: Kazuo Miyagawa
Edição: Mitsuzô Miyata
Género: Drama
Origem: Japão
Ano: 1953
Duração: 97 min.
Classificação: M/12

1€ sócios | 2€ geral

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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