Costa da Caparica | os Amantes Crucificados

Um filme de Kenji Mizoguchi que pode ser visto dia 30 de Maio às 21h, no Auditório Costa da Caparica

O Cineclube Impala, organizado pela Associação Gandaia, leva ao ecrã do Auditório Costa da Caparica, o filme “Os Amantes Crucificados”, de Kenji Mizoguchi, que encerra o ciclo de cinema dedicado a este cineasta japonês, que decorreu durante o mês de Maio.

Kyoto, século XVII. Tratada como uma mercadoria pelo seu marido Ishun, um rico mercador, Osan precisa de dinheiro para apoiar o irmão, e pede ajuda a Mohei, empregado predilecto do seu marido. Mohei, que ama Osan em segredo, utiliza o selo do impressor real para a ajudar, fazendo uma falsificação, mas é descoberto e assume as culpas para salvar Osan. Ishun é o grande mestre do palácio, que passa mais tempo a socializar que trabalhar, e é impiedoso com os seus empregados. Para se vingar, Ishun acusa Mohei de ser amante ilícito de Osan e prende o empregado. Osan, sentindo-se culpada pela situação, ajuda-o a fugir mas os dois são considerados amantes. Embora inocente, Osan abandona a sua casa, desiludida com as traições do marido, e foge com Mohei. Lutando contra todas as adversidades Mohei e Osan acabam por se apaixonar, mas são perseguidos pelos homens de Ishun, que procura a todo o custo evitar a humilhação pública de ter sido abandonado pela mulher. Na oficina de Ishun, o Grande Impressor do Palácio Real, todos observam o cortejo de dois amantes adúlteros que são levados para o local da execução.

O argumento do filme foi inspirado numa peça de bunraku, uma forma de teatro de bonecos japoneses, que recriava o teatro de marionetas, intitulada Koi Hakke Hashiragoyomi. A longa metragem faz parte de uma série de filmes japoneses da década de cinquenta que deram a conhecer o cinema nipónico junto do público ocidental. Mizoguchi mais uma vez utiliza o realismo para mostrar as duras condições de vida, a aceitação da rígida ordem social feudal, e a subjugação das mulheres ao patriarco. O filme reflecte ainda sobre outro dos temas recorrentes no cinema de Mizoguchi: o conflito entre o sentimento de dever e o sentido de obrigação, incutidos aos japoneses pela tradição, versus seguir o instinto e o desejo pessoal que é contrário a esse sentimento mais conservador.

“Os Amantes Crucificados” relata uma barbárie em tempos de paz e, apesar da crueldade, Mizoguchi faz deste filme um hino ao amor. Esta é mais uma incursão de Mizoguchi pelo Japão ancestral, com uma história de amor adúltero que termina com os amantes crucificados. Como habitualmente em Mizoguchi, a temática social, a repressão imposta pela tradição e pelos costumes, transforma-se em metafísica, a morte como derradeira comunhão entre os amantes.

©DR / Os dois amantes adúlteros são levados para o local da crucificação.

Ficha Técnica:

Título original: Chikamatsu monogatari
Realização: Kenji Mizoguchi
Argumento: Kyuichi Tsuji, Monzaemon Chikamatsu, Matsutarô Kawaguchi, Yoshikata Yoda
Produção: Masaichi Nagata
Elenco: Kazuo Hasegawa, Kyôko Kagawa, Eitarô Shindô, Eitarô Ozawa,
Música: Fumio Hayasaka, Tamezô Mochizuki, Yôko Minamida, Haruo Tanaka, Chieko Naniwa, Ichirô Sugai, Tatsuya Ishiguro
Fotografia: Kazuo Miyagawa
Edição: Kanji Suganuma
Género: Drama
Origem: Japão
Ano: 1954
Duração: 102 min.
Classificação: M/12

1€ sócios | 2€ geral

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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