Não permitiremos que nos desliguem a consciência!

Estas linhas que agora escrevo, resultam da obrigação prazerosa de escrever crónicas para o Almada Online, a pensar em todos vós que muito considero, e que me lêem, no que resulta de olhar para tanta coisa, no que vejo todos os dias, embora a cada dia veja coisas diferentes nas mesmas coisas.

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Acredito que as coisas não são diferentes, a perspetiva é que muda a cada ângulo, a cada olhar, como se o que vemos, melhor dizendo, se o que vejo fosse fruto do momento, da disposição, da alegria ou tristeza que transportamos a cada hora, a cada momento. É assim que vamos somando os dias que nos vão envelhecendo o andar, mas não o olhar. Esse tem a capacidade de ver o belo que possa estar onde menos se espera: num sorriso, num aceno, num bom dia dito com gosto.

Nas outras caras revejo a minha, mais do que no espelho que é “mentiroso”. O envelhecimento dos outros é o reflexo do nosso próprio envelhecimento, os anos pesam a todos, não obrigatoriamente da mesma forma. 

Que efeito tem na nossa mente a observação de imagens terríveis de crueldade sem fim, que nos chegam de longe todos os dias pela televisão ou pela Internet? E de outras bem mais perto, de seres humanos que vivem sem abrigo ou em abrigos precários, sem água, sem luz, sem saneamento, subnutridos e abandonados à sua sorte (que não passa de um grande azar). Que falta de humanidade é esta perante situações terríveis, que no século XXI tínhamos no pensamento que não existiriam mais?

O que fazer? Desligar a consciência? 

Ando pelas ruas da minha terra e quase sempre encontro pessoas que conheço há muito tempo. Na verdade, o difícil é não encontrar pessoas que conheço e que muito estimo. Nalguns casos, vamos observando mutuamente o envelhecimento causado pelo passar dos anos, que inexoravelmente vão deixando a sua marca. O que magoa verdadeiramente são os que já não é possível encontrar mas que não saem do pensamento, os velhos amigos, aqueles a quem podíamos falar e ouvir, aberta e sinceramente. 

Caminhando sempre, nem sempre pelos mesmos caminhos, mas sempre por caminhos que conheço de uma vida inteira. Dói-me o abandono, a indiferença e a falácia de quem tem sempre um projeto, uma ideia para fazer acontecer. Mas o tempo passa, e não acontece nada! 

Vejo um povo que se resigna, que se alheia e faz apostas no escuro, que muito podem vir a contribuir para que tudo fique um pouco pior. No entanto, tudo já é muito claro nas intenções de quem tem total ausência de ideias de futuro para um mundo melhor e quer reeditar filmes a preto e branco, dos quais muitos já conhecem o final.

O que fazer? Desligar a consciência?

Esse não pode ser o caminho, porque enquanto uns dormem, outros assaltam os quintais. Mudam as posições, alteram os atores e gritam sempre muito, como que para amedrontar aqueles que a eles não se juntam. A solução nunca pode ser desligar a consciência.

Precisamos de um ponto de resistência, que ainda não é um um ponto de viragem, sendo fundamental que se assuma essa resistência. Há que relembrar a frase popular que Sérgio Godinho imortalizou na sua obra: “ Para melhor está bem, está bem, para pior já basta assim”! 

Luis Filipe Pereira

Arsenalista. Ex-autarca pelo BE. Reformado activo.

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