Pragal |Garcia de Orta ocultou erro médico que deixou paciente colostomizada

Paciente realizou procedimento endoscópico que a colocou em perigo de vida

Uma utente, que se deslocou ao Hospital Garcia de Orta (HGO), em Almada, para realizar um procedimento endoscópico, acabou colostomizada, nunca tendo sido informada do erro médico que levou a esta condição, avança a CNN Portugal. Além disso, o procedimento cirúrgico foi realizado por um médico que não estava autorizado a fazê-lo.

De acordo com a estação televisiva, que teve acesso ao relatório da comissão de inquérito ao incidente, a paciente, com mais de 80 anos, entrou no hospital a 21 de Novembro para realizar um procedimento que foi registado como uma colonoscopia total. No entanto, a intervenção, que devia durar 15 minutos segundo Paulo Massinha, o médico responsável pelo procedimento, não estava concluída três horas após o seu início.

O procedimento acabou por ser interrompido, por estar em perigo a vida da mulher e, como consequência dessa intervenção, a utente “sofreu uma perfuração retal, da qual resultou uma fístula retovaginal”, indica o relatório final.

O documento refere ainda que o procedimento nunca tinha sido realizado pelo Serviço de Gastroenterologia do Garcia de Orta devido à falta da capacidade técnica daquela unidade. A intervenção terá sido, inclusivamente, feita à “revelia” do director do Serviço. O responsável explicou que o médico Paulo Massinha pediu um instrumento específico para realizar a intervenção, pedido esse que foi negado pelo director, que defendeu que não havia condições para o procedimento. Ainda assim, Paulo Massinha avançou com a intervenção.

A paciente deveria abandonar o hospital no próprio dia ou no dia seguinte, mas acabou internada durante cerca de três semanas após o procedimento e, teve de ser colostomizada, ou seja, passou a estar dependende de um saco externo para eliminação de fezes.

A comissão concluiu que esteve em causa uma “práctica médica inoportuna e desautorizada pela direcção” do serviço e apresentou várias propostas ao Conselho de Administração do Hospital, nomeadamente que fosse “equacionada a aplicação de uma sanção punitiva na forma de repreensão por escrito” e caso persistisse aquela forma de conduta, “deveria o Conselho de Administração ponderar a hipótese de suspensão/desvinculação do Hospital Garcia de Orta”.

O médico em questão não quis ceder uma entrevista à CNN Portugal, mas disse que o sucedido foi uma intercorrência normal e confirmou que não recebeu ate então qualquer punição por parte do Conselho de Administração, que, por sua vez, explicou que decidiu arquivar o processo a 16 de Março, por entender que a prova produzida foi inconclusiva e contraditória, explica a estação.

No entanto, o relatório não deixa margem para dúvidas e sugere, inclusivamente, que há matéria para participação disciplinar à Ordem dos Médicos. Além disso, o documento aconselha ainda a que seja evitada a “visibilidade pública” do caso, para evitar “consequência nefastas” para a unidade. 

Por sua vez, a Ordem dos Médicos disse que teve conhecimento do relatório apenas através da CNN Portugal e pediu esclarecimentos urgentes ao Conselho de Administração: “Constitui uma obrigação ética e moral dos responsáveis das instituições e dos médicos a comunicação imediata à Ordem dos Médicos, de forma objectiva, e com a devida discrição, de situações que tenham posto ou possam por em causa a qualidade dos cuidados de saúde e a segurança dos doentes”, cita a estação.

Já a utente nunca tinha sido informada sobre o que levou a que fosse colostomizada e a família pretende avançar com um processo-crime para apurar responsabilidades.

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

, , , ,