Presidente da CMA retira a palavra a membro de Associação Cultural
Inês de Medeiros exaltou-se com a expressão Almada Colonial e impede oradora de acabar a sua intervenção
O insólito aconteceu ontem (5 de Dezembro) durante a reunião ordinária da Câmara Municipal de Almada (CMA), no momento em que Renata Camargo, voluntária da Associação Cultural O Canto do Curió, falava sobre o processo de realojamento do 2º Torrão e, dirigia algumas questões ao executivo camarário
Ao fazer uma analogia entre as decisões do executivo que afectaram directamente os moradores do 2º Torrão, realojados “temporariamente” há dois meses em condições precárias como aqui noticiámos, e as decisões tomadas durante o colonialismo, Renata Camargo viu o seu direito ao uso da palavra ser-lhe retirado por Inês de Medeiros.
A presidente da Câmara de Almada exaltou-se ao ouvir a expressão Almada Colonialista, disse-se ofendida pela mesma, retirou a palavra a Renata Camargo, tendo-a convidado a abandonar a reunião, não a deixando terminar o seu raciocínio.
Recordamos que a Associação Cultural Canto do Curió tem efectuado trabalho no Bairro do 2º Torrão desde 2016 e, acompanha os moradores do bairro, que foram realojados temporariamente pela CMA ou ainda resistem nas suas habitações em cima da vala, desde o início do processo de demolição e realojamento efectuado pela CMA.
A intervenção de Renata Camargo e reacção de Inês de Medeiros pode ser vista na íntegra aqui.
Inês de Medeiros acabou por não responder às questões colocadas pela Associação e, no final da reunião declarou ainda referindo-se a este episódio: “A Dra. Renata chegou ao fim dos dois minutos que estão previstos regimentalmente. Tudo o que excede os dois minutos depende da minha vontade e tolerância”. A sua reacção pode ser vista na íntegra aqui.
Joana Mortágua, vereadora eleita pelo BE, desmarcou-se do entendimento pessoal feito por Inês de Medeiros da expressão Almada Colonialista.
O Almada Online contactou Renata Camargo para obter uma reacção da sua parte sobre o sucedido. Renata começou por nos explicar o seu raciocínio: “O racismo estrutural e a herança colonial no sistema apresentam-se de diversas formas e, é preciso reconhe-los para mudá-los. No processo de demolição e realojamento dos moradores do 2º Torrão estas falhas estruturais ficaram ainda mais visíveis. Precisamos ampliar o debate para que haja mudanças definitivas, principalmente, na forma como pensamos os territórios e como o Estado trata as pessoas. Por exemplo, mandar demolir as casas das pessoas, baseado em noções de risco, sem abrir um canal de comunicação eficaz e sem oferecer garantias de habitação.”
“A habitação é um problema grave em Portugal, mas estas situações foram criadas por um processo mal elaborado e mal executado que antecipou as demolições sem ter maneiras de garantir o bem-estar das famílias.”, acrescenta sobre o processo de realojamento efectuado no 2º Torrão.
Termina contextualizando a sua intervenção: “Começo como resposta ao vereador Felipe Pacheco que afirmou que TODAS as famílias foram retiradas e colocadas numa situação melhor, baseado naquilo que ele acredita que é melhor para elas, sem saber o que elas próprias acham sobre isto. Quem os ouve falar (o executivo) pensa que está tudo bem e não está! Negam que há um homem negro a dormir na rua, porque não o reconhecem como habitante daquele lugar. Negam que separam famílias, negam que as pessoas ainda estão sem soluções de habitação”.
2T/2825, 2º Torrão, Almada, Almada Colonial, Bairro do 2º Torrão, Canto do Curió - Associação Cultural, CMA, cmalmada, colonialismo, Inês de Medeiros, Política, Renata Camargo