Salpas e Veleiros avistados nas praias da Costa da Caparica

Organismos gelatinosos foram observados mortos em colónias, nos areais caparicanos

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) alerta nas suas redes sociais para avistamentos ocorridos na última semana de colónias de ‘velella velella’, popularmente conhecido como Veleiro, e de algumas ‘salpidae’, conhecidas por Salpas, nos areais das praias da Costa da Caparica.

As colónias de Veleiros que têm arrojado nas praias da Caparica são formadas por centenas de organismos, que têm semelhanças com a caravela-portuguesa, mas que não são perigosas. São gelatinosos, têm um tom azulado e tentáculos, mas possuem uma coroa mais definida e são mais pequenos, medindo entre um a oito centímetros. A caravela-portuguesa é tóxica mesmo depois de morta, enquanto que o contacto com os Veleiros mortos não é problemático na maioria dos casos. Caso lhes toque, não deve levar as mãos à cara, olhos e boca, porque os seus tentáculos têm ainda assim um efeito urticante. Pode limpar a zona afectada com água do mar e/ou vinagre, deve retirar todos pedaços de tentáculos que possam ter ficado presos na pele, e procurar assistência médica caso a sua pele faça algum efeito mais reactivo. Este efeito depende de indivíduo para indivíduo. O seu avistamento é considerado normal para esta altura do ano.


Na caravela-portuguesa o “balão” tem, regra geral, entre dez e vinte centímetros, mas os tentáculos podem atingir 20 metros de comprimento, sendo uma espécie muito urticante, cujo veneno causa queimaduras, podendo provocar outros problemas de saúde, como falta de ar, caso haja uma reacção alérgica à picada.

©DR / Salpas em colónia, com vários indivíduos interligados.

As Salpas são também organismos gelatinosos, mas com forma cilíndrica, com dimensões que normalmente rondam entre um a dez centímetrosde de comprimento. Algumas delas podem crescer tão rapidamente que aumentam o comprimento do corpo em 10% por hora. Estes organismos movem-se bombeando a água longitudinalmente através dos seus corpos, ao mesmo tempo que a filtram num conjunto de estruturas lamelares internas nas quais retêm o plâncton, o seu único alimento conhecido. As salpas são comuns na generalidade dos oceanos, flutuando junto à superfície do mar, em indivíduos isolados ou em colónias constituídas por longas cadeias lineares de indivíduos interligados. São organismos que costumam irritar os pescadores, pois pesam nas redes de pesca. Podem sobreviver entre duas semanas e três meses antes de serem comidos por cavalas e atuns, ou morrer e cair lentamente no fundo do mar, onde se agregam em grandes quantidades. Têm também um enorme potencial de redução de carbono, porque se alimentam de fitoplâncton, que absorve o dióxido de carbono. Absorvem cerca de 4.000 toneladas de CO2 por dia, ajudando a reduzir o efeito de estufa e a combater as alterações climáticas. Utilizam a transparência para se camuflarem de possíveis predadores, sendo as vísceras a única parte colorida do seu corpo. As salpas são inofensivas para os humanos.

O trajecto de todos estes animais é muito influenciado pelos ventos e correntes marítima, e as alterações climáticas nestes elementos poderá ser uma das razões pelas quais têm vindo a aparecer em maior número na costa portuguesa nos últimos anos. A subida da temperatura da água e alteração das correntes marítimas, a erosão da zona costeira, a diminuição do número de peixes seus predadores, como o atum e peixe-espada, e a poluição dos oceanos, são fenómenos aos quais estes seres, de aspecto aparentemente frágil, se têm mostrado bastante resistentes, sobretudo por conseguirem sobreviver em ambientes com baixos níveis de oxigénio. São uma pequena aldeia nómada flutuante.

Para monitorizar os organismos gelatinosos, o IPMA criou em 2016 o GelAvista, um programa com uma grande componente de ciência cidadã, que incentiva as pessoas a enviarem dados sobre a presença destes organismos nas praias portuguesas. Recomenda-se aos cidadãos que enviem uma fotografia do avistamento, com data, local e número de indivíduos observados. Estes dados são depois comparados com conhecimentos científicos e ambientais do país e do mar, para se estabeler que espécies ocorrem mais, em que locais e circunstâncias, aumentando o conhecimento sobre ecologia das espécies.

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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