Trabalhadores da Silopor em greve a 31 de Janeiro

Ao contrário de greves anteriores, esta será uma "paralisação total", a primeira desde 2009

Os trabalhadores da Silopor vão avançar para uma greve geral no próximo dia 31 de Janeiro. A decisão saiu do plenário realizado na passada Segunda-Feira, 22 de Janeiro. De acordo com o sindicato, não estão afastadas outras paralisações, caso as reivindicações dos trabalhadores não sejam satisfeitas.

A empresa é detida a 100% pelo Estado, estando na dependência da Direcção-Geral do Tesouro e Finanças (DGTF). Gere os silos portuários de armazenamento de cereais na Trafaria (Almada), no Beato (Lisboa) e em Vale Figueira (Santarém), sendo também responsável pelo armazenamento de mais de metade dos cereais consumidos no país.

Na base desta decisão estão três reivindicações que não têm sido atendidas pela comissão liquidatária detida a 100% pelo Estado: integração de trabalhadores temporários nos quadros, actualização salarial e a progressão na carreira.

A decisão foi a de partir para uma “paralisação total a 31 de janeiro”, adiantou Célia Lopes, do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP) ao Negócios, indicando que, nesse dia, os trabalhadores da Silopor têm previsto concentrar-se, primeiro, no terminal da Trafaria, em Almada e, à tarde, junto à porta do Ministério das Finanças.

Os trabalhadores da Silopor já fizeram greve no ano passado, mas apenas às horas extraordinárias. Nessa altura, mesmo só estando em causa uma greve ao trabalho suplementar, cinco associações da indústria alimentar juntaram-se num alerta de que estava em risco o abastecimento de produtos alimentares essenciais, afectando os sectores da produção de pão e de alimentos compostos para animais e, indirectamente a suinicultura e avicultura. 

Segundo Célia Lopes, do CESP, os trabalhadores vão efectuar um “paralisação total a 31 de Janeiro”, concentrando-se, primeiro, no terminal da Trafaria, em Almada e, partindo depois para o Ministério das Finanças. Esta acção de luta não deverá causar rupturas na produção. No entanto, Célia Lopes garante que neste dia “não haverá nem descargas de navios, nem abastecimento de camiões”. A greve, tem a possibilidade de revelar-se um feito inédito, desde que a empresa entrou em liquidação, ou seja, há 24 anos.

A principal reivindicação dos trabalhadores diz respeito às limitações da comissão liquidatária nos aumentos salariais, que não pode ir além de 5%, tal como nas restantes empresas públicas. O CESP, afecto à CGTP, tinha denunciado que o Governo tinha excluído a empresa desta orientação, pelo facto da mesma se encontrar em processo de encerramento.

Segundo Célia Lopes, apesar do Governo ter permitido à comissão liquidatária a negociação da revisão salarial, as limitações de 5%, que incluem promoções automáticas e outros prémios, “vai limitar a possibilidade de aumentos salariais”. Inicialmente, o despacho orientador para os aumentos salariais nas empresas do sector empresarial do Estado, emitido por Fernando Medina,  excluído a Silopor.

De acordo com a estimativa do sindicato, há cerca de 30% de trabalhadores em situação de progressão automática, o que significa “que quem vai pagar são as promoções”, prevendo-se que a comissão liquidatária não consiga “aumentos além de 52 euros por trabalhador”, refere Célia Lopes.

Outra das reivindicações dos trabalhadores diz resopeito à integração nos quadros da Silopor dos trabalhadores temporários. “Os trabalhadores são uma massa significativa. Há 83 trabalhadores no quadro e mais 25 ou 26 que são contratados”, realça Célia Lopes. “Trata-se de 30% da força de trabalho, sendo que muitos destes estão em função de prestação de serviços para a Silopor desde 2019, num desrespeito pelas leis laborais”, denuncia o sindicato.

Nos últimos anos, “com excepção de 2023, ano em que foi possível negociar a revisão das tabelas salariais, os trabalhadores da Silopor acumularam perda de poder de compra e desvalorização profissional, apesar dos resultados, sucessivamente, muito positivos da empresa, sendo previsível que 2023 tenha sido o melhor ano de sempre”, continua o sindicato.

Por fim, os trabalhadores querem proceder a uma revisão das carreiras. Actualmente, o acordo de empresa prevê carreiras “muito longas”. “Há trabalhadores que chegam a levar seis anos para poder progredir“, adianta a mesma responsável.

Célia Lopes realça que apesar do Governo estar demissionário, a comissão liquidatária, cujo mandato foi renovado até Junho de 2025, tem condições para tomar decisões e fazer cumprir a lei. Questionada sobre futuras acções de greve, refere que “os trabalhadores a cada momento decidirão”. Para já, esta paralisação de 24 horas “ é um sinal que os trabalhadores darão que não aceitam que não haja uma resposta às suas reivindicações”.

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Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online