Trafaria | Greve na Silopor ameaça abastecimento alimentar

Despacho da ex-secretária de Estado Alexandra Reis e, greve dos trabalhadores das administrações portuárias já está a provocar atrasos na descarga de grandes navios de cereais importados, dos quais Portugal depende em mais de 80%. Cinco organizações que representam o comércio e a indústria alimentar lançaram o alerta.

Cinco organizações que representam o comércio e a indústria alimentar alertaram em comunicado, Segunda-Feira, dia 13 de Fevereiro, que a greve de trabalhadores da Silopor – Empresa de Silos Portuários “volta a ameaçar” o abastecimento alimentar, culpando um despacho da ex-secretária de Estado Alexandra Reis pela paralisação.

No comunicado, a ACICO (Associação Nacional de Armazenistas, Comerciantes e Importadores de Cereais e Oleaginosas), a APIM (Associação Portuguesa da Indústria de Moagem), a IACA (Associação Portuguesa dos Industriais dos Alimentos Compostos para Animais), a FEPASA (Federação Portuguesa das Associações Avícolas) e a FPAS (Federação Portuguesa das Associações de Suinicultores) explicam que a greve “afecta os sectores da produção de pão, alimentos compostos para animais, suinicultura e avicultura“.

“O facto de acontecer na sequência da greve dos trabalhadores das administrações portuárias agrava o acesso da fileira agroalimentar a matérias-primas essenciais para a produção de leite, pão, carne e ovos”, apontam as organizações, que anteveem “um novo aumento de preços e a ruptura pontual do abastecimento destes produtos em alguns locais de venda“.

A ACICO, a APIM, a IACA, a FEPASA e a FPAS afirmam que a greve dos trabalhadores dos silos portuários à prestação de trabalho em horas extraordinárias, que decorre até ao final de Fevereiro, tem origem numa decisão da ex-secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis, que “colocou em vigor um despacho que impede o aumento dos trabalhadores das empresas de capitais públicos em liquidação, situação em que se encontra a Silopor há mais de vinte anos“. Segundo as associações, a revogação da medida em causa representa um “impacto de, sensivelmente, 7.000 euros por mês”.

A greve, em curso desde o início do mês, “já está a provocar atrasos na descarga de grandes navios de cereais importados, dos quais Portugal depende em mais de 80% para o abastecimento da sua indústria para a alimentação humana e animal”, exemplificam as entidades, referindo que “o impacto para os importadores é de cerca de 50.000 euros por cada dia de atraso”.

A greve está a impedir que navios com várias matérias-primas para o sector alimentar, principalmente cereais, não consigam descarregar, nos terminais da Trafaria e do Beato, em Lisboa, geridos pela empresa.

“Há uma ameaça séria de ruptura na segurança de abastecimento no sector alimentar. Em termos de cereais”, avisa jaime Piçarra, secretário-geral da IACA, dizendo que “o nosso país não aprendeu com as limitações e crise alimentar no início da guerra na Ucrânia e continua com matéria-prima apenas para 15 dias”.

Jaime Piçarra avisa que navios com cereais, que vêm da Ucrânia, Roménia ou Bulgária, não estão a conseguir descarregar a carga transportada e aponta a que “já estamos com um défice de 20 mil toneladas semanais”, no que respeita ao abastecimento de cereais.

No porto da Trafaria, que segundo as cinco associações é “o único terminal do país preparado para a descarga e armazenagem das matérias-primas transportadas por grandes navios cerealíferos”, os ritmos de descarga diários passaram de 11 mil toneladas por dia para 5.000 toneladas por dia. 

“Esta situação tem o potencial de afectar a entrega de produtos básicos à população dado que, em condições regulares, a zona abastecida por este terminal compreende indústrias de alimentos compostos e pecuária que representam um consumo de, sensivelmente, 9.000 toneladas por dia em cereais forrageiros”, sustentam.

Por outro lado, a ACICO, a APIM, a IACA, a FEPASA e a FPAS avisam que a greve “ameaça provocar prejuízos na ordem dos três milhões de euros aos operadores económicos devido aos atrasos na descarga e aos consequentes custos de sobre-estadias de navios”.

“Estes custos inflaccionados refletir-se-ão, necessariamente, ao longo da fileira, até ao consumidor final”, afirma o secretário-geral da IACA, associação que representa os industriais de rações e um dos sectores que volta a ser afectado por uma nova greve na actividade logística, citado no comunicado.

Segundo Jaime Piçarra, “é mais um custo para os cidadãos”, que acresce aqueles que já suportam na sequência “dos problemas das cadeias de abastecimento, da guerra na Ucrânia e da inflacção descontrolada na Zona Euro”.

O sector já está a ponderar transferir a descarga de alguns navios para o porto de Setúbal, que não é controlado pela Silopor, mas isso acarretaria um crescimento exponencial dos custos, de cerca de três milhões de euros.

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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