Trafaria | Trabalhadores da Silopor suspendem greve
Governo autorizou a comissão liquidatária a negociar com o sindicato a revisão do acordo de empresa e, a greve dos trabalhadores da Silopor, que colocava em risco o abastecimento, foi suspensa.
Os trabalhadores da Silopor – Empresa de Silos Portuários suspenderam a greve geral que estava prevista para a próxima Segunda-Feira, assim como a greve às horas extraordinárias que estava em curso e se iria estender até ao final deste mês, e que já estava a deixar vários navios por descarregar junto a Lisboa, por onde entram cerca de 60% dos cereais importados por Portugal.
A greve foi suspensa esta Quarta-Feira, dia 15 e, os trabalhadores aguardam agora uma proposta da empresa para revisão da tabela salarial, disse fonte do sindicato CESP (Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal ). Os trabalhadores sublinham que suspendem a greve, mas não retiram o pré-aviso da mesma. Ou seja, se alguma coisa correr mal nas negociações com a administração, poderá voltar tudo à estaca zero.
“A greve foi suspensa, uma vez que o Governo autorizou a comissão liquidatária a negociar com o sindicato a revisão do acordo de empresa”, disse à Lusa Célia Lopes, do CESP. O sindicato tinha garantido que, após aquela autorização, daria tempo à empresa para ponderar sobre a proposta a apresentar aos cerca de 90 trabalhadores da Silopor.
“Tal como se comprometeram, os trabalhadores vão aguardar que a empresa possa apresentar uma proposta para a revisão da tabela salarial”, vincou Célia Lopes.
Para a Silopor esta é uma notícia de “extrema importância”, tendo em conta que a empresa é responsável pelo abastecimento da cadeia agroalimentar em mais de 50% das suas necessidades, assegurando assim a normalização da cadeia de abastecimento.
“Tendo em conta os navios anunciados para descarregar nos próximos tempos, não é expectável qualquer perturbação no abastecimento de cereais quer para consumo humano, quer para consumo animal”, concluiu Célia Lopes.
Os navios cheios de cereais parados no Tejo à espera de vez para descarregar vão poder começar a atracar, mas a instabilidade nos portos ucranianos continua a preocupar o sector agroalimentar
Abel Vinagre, presidente da Comissão Liquidatária da Silopor, disse ao Expresso que, para já, “podemos respirar de alívio, pelo menos por um mês”, que é o prazo que acordado com os trabalhadores para lhes apresentar uma proposta de negociação de actualizações salariais.
Trabalhadores da Silopor exigem aumentos de 10%
Célia Lopes, explica que “em causa está um aumento salarial de 10%, exigido pelos trabalhadores, num mínimo de 100 euros.”
A mesma responsável nota ainda que desde 2009 que o acordo de empresa para os trabalhadores da Silopor não tem qualquer revisão. E que em 2022 a Comissão Liquidatária, por acto de gestão, decidiu actualizar os valores da tabela salarial em 0,9%. Mas sublinha que, neste período a inflação acumulada é superior a 22% e o salário mínimo nacional subiu 310 euros.
Numa nota distribuída recentemente à comunicação social, o CESP refere que “é visível a enorme desvalorização dos salários e das carreiras profissionais de todos os trabalhadores da Silopor, o que não é aceitável”.
“Para piorar a situação, o despacho orientador do Ministério das Finanças, para actualização dos salários dos trabalhadores das empresas do sector empresarial do Estado em 2023, sem que nada o justifique, exclui os trabalhadores da Silopor, isto é, o Ministério das Finanças considera que a Silopor, apesar dos sucessivos resultados positivos anuais que revertem na totalidade para os cofres do Estado, não podem e não devem ter qualquer aumento dos seus salários”, referiu também o CESP.
Problemas nos portos Ucranianos não estão resolvidos
Os constrangimentos que existiam ao nível da logística de abastecimento de cereais a Portugal e, que já comprometiam a produção e distribuição de bens alimentares básicos, ainda não acabaram, pois a Rússia começa a dar sinais de não querer prolongar o acordo para exportação dos cereais ucranianos a partir dos portos do Mar Negro.
Seis navios à espera no Tejo
Os seis navios que aguardam no Tejo pela vez para atracar junto aos silos da Silopor vão finalmente começar a descarregar os cereais, “sendo de esperar um regresso a uma certa normalidade em termos de logística de abastecimento a nível nacional”, nota o presidente da Comissão Liquidatária da Silopor, Abel Vinagre.
Em causa está a descarga de cerca de 290 mil toneladas de cereais, um número que considera “muito significativo”, se tivermos em conta que o consumo anual de cereais em Portugal ronda as quatro milhões de toneladas.
Jaime Piçarra, secretário-geral da Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais (IACA), não partilha do optimismo de Abel Vinagre e reforça que “andamos todos no fio da navalha”.
Jaime Piçarra salienta que continua a não ver um empenho forte quer do Ministério da Agricultura quer do Ministério da Economia na resolução deste assunto. É que, recorda, “andamos nesta instabilidade desde o início da guerra na Ucrânia e, passados todos estes meses, parece que não aprendemos nada. Continuamos sem total segurança de abastecimento a nível nacional”, alertou.