Almada | Conferência “50 anos Expresso, 50 Anos Almada”
Apresentação de projectos imobiliários privados e debate sobre o futuro do concelho
A conferência “50 Anos Expresso, 50 Anos Almada” que assinalou os 50 anos do semanário Expresso e os 50 anos da elevação de Almada a cidade, realizou-se na manhã de 4 de Dezembro, no Auditório Fernando Lopes-Graça do Fórum Romeu Correia. Foram apresentados projectos imobiliários privados e, seguiu-se um debate sobre os desafios e oportunidades que o concelho de Almada enfrentará nos próximos tempos. O acesso à conferência só era possível através de convite, no entanto a mesma foi transmitida em directo via streaming.
Os desafios sociais e económicos como a acessibilidade, os grandes projetos imobiliários, a gestão do litoral, a ligação à universidade, à inovação, bem como o desenvolvimento sustentável, foram alguns dos temas abordados por um painel composto por Inês de Medeiros, presidente de Câmara Municipal de Almada (CMA); Teresa Almeida, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR LVT), Augusto Mateus e João Duque, ambos economistas, com moderação de Paula Santos, directora-adjunta do semanário Expresso.
Inês de Medeiros apresentou o congresso e deu as boas-vindas, falando na coincidência do cinquentenário do Semanário Expresso e da elevação de Almada a cidade, serem coincidentes no mesmo ano. “Temos estado a celebrar estes 50 anos como uma espécie de primeira parte da celebração que teremos para o ano, a dos 50 anos do 25 de Abril. Importa lembrar que democracia e jornalismo são dois universos indissociáveis. Não há democracia sem uma imprensa livre, uma voz livre, crítica, independente e confiável. Todos estamos unidos nessa preocupação em defender o jornalismo, o jornalismo de investigação e, combater as fake news e a desinformação. Também não há democracia sem o poder local, que é uma das grandes conquistas de Abril. Esta conferência consegue unir estes dois grandes pilares do nosso sistema democrático.”
Recordou ainda que Almada foi edificada como polo da indústria pesada da capital e, ao longo dos anos teve um percurso de readaptação a novas realidades, como por exemplo a dos serviços e do turismo. Almada teve de adaptar-se à mudança de modelo económico. “Temos a hipótese de ser uma referência para um desenvolvimento que aposta claramente na qualidade de vida”, afirmou, referindo-se à diversidade e riqueza do território almadense e ao conceito de cidade dos 15 minutos, em que tudo o que é necessário aos habitantes está à mão num quarto de hora.
“Fizémos questão de trazer investidores privados que consideramos como parceiros […] porque a Câmara considera muito importante, não minimizando aquilo que deve ser o investimento público, ter também parcerias com investimentos privados. É assim que conseguimos desenvolver o nosso município”, acrescentou, apresentando a parte seguinte do congresso.
Projectos privados para classes altas no concelho de Almada
Seguiu-se a apresentação de três dos projectos privados que estão a ser desenvolvidos no concelho. O primeiro foi o “Almar – South Living”, da Habitat Invest, que prevê a construção de 540 fogos para as classes média e média alta, na Alameda Guerra Junqueiro, no Feijó, perto do Parque da Paz. O início da sua construção está previsto para 2024 e, foi apresentado por Duarte Soares Franco – que apelidou Almada de “nova rive gauche”- administrador da Habitat Invest e, Paulo Sousa, senior partner da Saraiva & Associados.
O Pavilhão Ricardo Bofill, uma casa privada de luxo desenhada à mão pelo famoso arquitecto espanhol, falecido no ano passado, foi apresentado pela Southshore Investments, um escritório familiar, único proprietário de um grupo de empresas, criado em Portugal e com sede em Porto Brandão. O projecto foi apresentado por Houssam Dehhaze seu director de desenvolvimento de negócios. O pavilhão situado numa propriedade de 12 hectares de parque agrícola e jardim florestal localizada entre Porto Brandão e a Trafaria, terá uma área de construção de 2.400 m², com vistas desafogadas para o Rio Tejo e Lisboa e, será alugado como uma unidade única, com 12 suites (a mais pequena com 25 m²) e, serviços personalizados, que podem ir desde chef, motorista, apoio a suites 24 horas, etc. O seu objectivo é atrair turismo de alto nível na área do agro turismo, famílias e grupos de amigos de renome internacional. A empresa já plantou na propriedade mais de 380 árvores e, é a mesma que irá também construir uma residência para estudantes em Porto Brandão, num edifício que vão reabilitar no centro da localidade. Esta residência terá 115 novas camas a preço acessível e, visa atrair jovens, dar vida e desenvolver Porto Brandão e, combater a escassez de alojamento estudantil do concelho.
O projecto da Quinta do Robalo, da empresa Signimeios, foi apresentado pelo administrador Abilio dos Santos e, Júlio Costa director de gestão de activos e também gestor do projecto. Prrevê a criação de um parque urbano com 26 mil m² de construção na arriba fóssil da Costa da Caparica, em frente à Praia da Mata e da Riviera, na zona elevada. O projecto, que tem uma baixa densidade de construção, com 4% de área de ocupação do solo, privilegia o ambiente e as paisagens naturais envolventes. Este é um projecto com mais de 25 anos que se encontra ainda na fase de consolidação do loteamento e, com mais de 30 de existência. O projecto engloba um parque urbano que estará aberto a todos o que dele queiram usufruir e assentará no “conceito da conjugação entre o pinhal e o Mediterrâneo”, segundo Julio Costa, com uma vista de 180º que vai desde a serra de Sintra ao Cabo Espichel. As moradias serão isoladas e inseridas na paisagem natural.\
Debate
Inês de Medeiros mencionou “a falta de estabilida de e celeridade nos processos de alguns projectos estruturantes, como a extensão do metro e uma nova travessia entre as duas margens do Tejo”, apesar de reconhecer o “entusiasmo e vontade, quer das entidades públicas, quer dos privados que investem.”
Na área dos transportes, foi destacada a importância de decidir a localização do futuro aeroporto, com a autarca de Almada a defender também uma terceira travessia do Tejo e a extensão do Metro até à Costa de Caparica. Relançado em Maio deste ano o Arco Ribeirinho do Sul, que envolve seis concelhos da margem Sul do rio Tejo é um dos projectos que anuncia a revolução nestes territórios, com a expansão do Metro Sul do Tejo, novas acessibilidades e um percurso de 38 quilómetros entre Almada e Alcochete.
Teresa Almeida, por sua vez, relembrou que Almada cresceu e, segundo os CENSOS 2021 tem 177 mil 238 habitantes, sendo que pode ser encarada como “um território de oportunidades em diversas vertentes”. Almada concentra assim uma relevante fatia da população residente na Área Metropolitana de Lisboa. No entanto, relembrou a maior complexidade que os desafios do presente colocam nos processos, como “o mundo global, as alterações climáticas, a descarbonização, a afirmação dos territórios na atracção de novos residentes e novas formas de viver, o respeito pela natureza e a atracção de talentos”. Chamou também a atenção para a reestruturação sofrida há pouco tempo por estas estruturas de intervenção, com novas competências, “e têm de ter capacidade para integrar políticas”. Para esta responsável, o país “não pode estar permanentemente a fazer o repensamento dos modelos de organização interna, até porque isso atrasa o desenvolvimento”, sustentou.
Foi ainda acentuada a necessidade do desenvolvimento de novos modelos de governação, principalmente para as grandes áreas metropolitanas. Como disse Augusto Mateus, “não podemos ter parlamentos regionais para as grandes regiões atlânticas e não ter um governo adequado para as grandes regiões metropolitanas”. Acrescentando que “a alma do desenvolvimento económico e social são os territórios. Não podemos governar Braga como governamos Almodôvar. […] Nas regiões metropolitanas, temos de ter uma eficiência colossal naquilo que é essencial para a vida das pessoas, os transportes, a saúde, a educação. Se teimarmos em governar da mesma maneira, vamos continuar a estragar o desenvolvimento e a felicidade das pessoas”. “Temos de acertar no nível em que nos movemos. Se fazemos tudo ao mesmo nível, não resolvemos nada”, sustentou o economista, também antigo ministro da Economia do governo de António Guterres.
Assim, o foco do debate passou dos desafios para Almada para os do país, do concelho da margem sul do Tejo para as grandes áreas metropolitanas, chamando a atenção para a importância de pensar a gestão conjunta. A perspetiva de colocar a Área Metropolitana de Lisboa (AML), mas também a do Porto, numa gestão autónoma animou o debate, e recebeu também a concordância do economista, João Duque, assim como de Inês de Medeiros, que sublinhou o facto de “as áreas metropolitanas não darem qualquer sinal de esvaziamento” e, que é nestas zonas que se concentra a riqueza, mas também os “grandes problemas”.
O economista João Duque considerou, que o concelho de Almada procura encontrar uma nova centralidade depois do desaparecimento da grande indústria, como a Siderurgia Nacional, a Lisnave ou o grupo CUF. Nessa altura Almada “ficou um dormitório, habitada por muita gente que faz o suporte da cidade de Lisboa”, apontou. João Duque destacou também o recurso que é a praia – “a Costa da Caparica é um portento” -, ainda pouco explorado do ponto de vista económico, bem como a fraca ligação entre as várias centralidades e a ambição de Almada em se afirmar do ponto de vista cultural.
A conferência contou com a presença da ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato, na primeira fila. João Duque, presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), considerou que Almada está muito dependente de uma “iniciativa única” da Faculdade de Ciência e Tecnologia (FCT), da Universidade NOVA e, desafiou Inês de Medeiros a pensar em acolher um futuro polo do ISEG no concelho. A autarca lembrou as outras instituições de ensino, como o Instituto Piaget e o grupo Egas Moniz, e sublinhou a importância de abrir mais cursos de Medicina, que considera “uma necessidade absoluta”.
Concluiu-se que a estabilidade das políticas e dos mecanismos de intervenção nos territórios é fundamental. No caso de Almada, as novas NUT II, com a separação de Setúbal da Área Metropolitana de Lisboa, são encaradas como uma oportunidade no acesso a fundos essenciais para obras estruturais do concelho. Que a cultura é um dos motores de desenvolvimento e de diferenciação e, é a cultura, que permite oferecer uma programação única e cativar públicos de fora do concelho e, que a ligação à universidade é essencial para fazer a diferença no território, produzindo conhecimento e cativando jovens. Atrair mais instituições e cursos é uma oportunidade.
No âmbito das comemorações do 50º aniversário do Expresso, que tem percorrido todo o país, “criam-se oportunidades para aprofundar o conhecimento dos territórios, medir mais de perto o pulso ao poder local, aos detalhes e contrastes que escapam no dia-a-dia pela força da distância”, como disse Paula Santos, directora-adjunta do semanário Expresso, ao apresentar o congresso. Foi o que aconteceu em Almada.
Pode assistir à conferência na íntegra aqui.
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