Charneca da Caparica | Amílcar Cabral pai da lusofonia
Uma homenagem em forma de colóquio, dia 12 de Setembro às 18h, no edifício da Junta de Freguesia da Charneca da Caparica e Sobreda
O Centro de Estudos Documentais do Alentejo – Memória Colectiva e Cidadania (CEDA), em parceria com a Junta de Freguesia da Charneca da Caparica e Sobreda (JFCCS), e com a Almada Mundo – Asssociação Internacional de Educação Formação e Inovação, assinalam a passagem do centenário do nascimento de Amílcar Cabral (12-09-1924) com um colóquio em sua homenagem, que se insere no Ciclo de Conferências “A importância da memória na defesa da democracia”. A entrada é livre, mas limitada à lotação do espaço.
Ana Lúcia Reis, investigadora na CHAM – FCSH – UNL e docente na universidade de Oviedo, fará uma intervenção dedicada ao tema “A identidade nacional e a criação das escolas-piloto do PAIGC“.
Já Hilarino Luz, investigadora na CHAM – FCSH – UNL e conferencista internacional sobre literatura cabo-verdiana, irá debruçar-se sobre “Amílcar Cabral: o regresso do homem grande”.
A presidente da União de Freguesias de Almada, Cova da Piedade, Pragal e Cacilhas (UJFACPPC), discursará sobre um tema mais pessoal em “A memória de Cabral no meu percurso de vida”.
Haverá ainda tempo para uma participação especial de Zaida Sanches, da Embaixada da República de Cabo Verde. A moderação da conferência estará a cabo de Eduardo M. Raposo, presidente da CEDA e investigador na CHAM – FCSH – UNL.
Para finalizar a homenagem Inês Ramos irá protagonizar um momento de poesia.
Biografia de Amílcar Cabral
Amílcar Lopes da Costa Cabral, nasceu em Bafatá, na Guiné-Bissau a 12 de Setembro de 1924 sob domínio colonial português. Aos oito anos, a família levou‑o para Cabo Verde. Estudou no Liceu de São Vicente, no Mindelo, e viveu na Praia, onde foi dirigente associativo e mostrou interesse pelo futebol e pela criação literária.
Em 1945, mudou‑se para Lisboa, a fim de estudar Agronomia. Conheceu as avenidas e as esplanadas da capital do Império, da Casal Ribeiro ao Palladium. Frequentou e foi dirigente da Casa dos Estudantes do Império. Leu livros de Marx e de Engels, assim como do escritor russo Dostoiévski e do trabalhista britânico Harold Laski. Namorou e correspondeu‑se com Maria Helena Rodrigues, também aluna do Instituto Superior de Agronomia (ISA), com quem viria a casar em 1951.
Amílcar Cabral conclui a licenciatura em Fevereiro de 1952, com uma monografia sobre problema da erosão do solo na região alentejana de Cuba. Ainda em 1952, regressa à Guiné, ao serviço do Estado colonial português. Nos anos de 1953‑54, dirige a equipa que realizou o recenseamento agrícola da Guiné, com a colaboração da sua mulher.
O seu desempenho profissional na Guiné começa por ser positivamente apreciado pela tutela. Mas as fichas de avaliação que os arquivos conservam, indicam igualmente o surgimento de conflitos com os seus superiores. Em 1955, regressa a Portugal e requer a rescisão do contrato com o Ministério do Ultramar. Em seguida, vai a Angola várias vezes, trabalhar para empresas agrícolas privadas. De caminho, reúne com militantes que virão a estar na origem do MPLA, o Movimento Popular de Libertação de Angola. A percepção da exploração de classe e da dominação racial em Luanda causam‑lhe repulsa. Critica o racismo, a que é quotidianamente exposto em Lisboa.
Durante os anos 50, Cabral compromete-se definitivamente com a missão de derrubar o colonialismo português em África. Será no final desta década que a PIDE, mais se sobressaltará com as suas actividades políticas. É a década da Conferência de Bandung, realizada na Indonésia em Abril de 1955, reunindo vontades anti‑imperialistas dispersas, lançando a força da contestação anticolonial. Amílcar Cabral não esteve em Bandung, ao contrário do que muitos afirmam, mas serão acontecimentos como a independência da República da Guiné, que em 1958 se liberta do colonialismo francês, e o massacre de Pidjiguiti, a 3 de Agosto de 1959, em que as forças coloniais portuguesas matam dezenas de trabalhadores guineenses em greve, que o motivarão a regressar definitivamente a África.
A partir de 1960, será já a partir de Conacri que Amílcar Cabral e o PAIGC comandaram a luta de libertação. A luta armada desenvolveu-se nos territórios guineenses sob domínio português a partir de 1963. Nas zonas que vão sendo libertadas são criados postos médicos, escolas e os Armazéns do Povo, que procuram responder a necessidades alimentares e de vestuário das populações locais. A resolução dos problemas materiais da vida quotidiana apela ao humanismo militante e à formação ideológica de Cabral, à luz da qual a libertação nacional implica a transformação económica das estruturas sociais.
A partir de Conacri, Cabral faz incursões no território da futura Guiné-Bissau e viaja até muitos outros países, de Marrocos à Finlândia. Os progressos militares do PAIGC e a vida nas zonas libertadas, suscitam curiosidade e apoio em diferentes países. Em 1970, Amílcar Cabral, acompanhado de Agostinho Neto e Marcelino dos Santos, são recebidos pelo Papa Paulo VI em audiência privada, para embaraço da ditadura portuguesa. Amílcar Cabral não voltou mais a Portugal.
Cabral teve uma morte precoce, sendo assassinado a tiro na Guiné Conacri, a 20 de Janeiro de 1973, por elementos do seu próprio partido, que se suspeita estavam conluiados com as autoridades portuguesas. O seu assassinato permanece um dos maiores mistérios da Guerra Colonial, e ao longo dos anos foram exploradas várias pistas. Independentemente das diferentes teses em torno do seu assassinato, o acontecimento teve impacto mediático imediato, a sua dimensão heroica ampliou‑se mundialmente, e a sua imagem tornou‑se um ícone anti‑imperialista.
Apesar da sua morte, a independência da Guiné ocorreu em Setembro de 1973, em Madina de Boé, e no dia 24 foi unilateralmente declarada. Na Guiné‑Bissau e em Cabo-Verde, é celebrado como fundador da nação, sendo o dia da sua morte feriado em ambos os países. A sua A figura também esteve presente nos dias seguintes ao 25 de Abril português, nas manifestações populares. Em 1976, foi trasladado do Mausoléu de Camayenne, em Conacri, para o Forte da Amura, em Bissau, numa cerimónia com honras de Estado.
Em 2020, foi reconhecido como o segundo maior líder mundial na história da humanidade, de acordo com uma classificação feita por historiadores para a “BBC World Histories Magazine”. Esta avaliação foi resultado de um levantamento entre especialistas convocados pela revista, que foram solicitados a indicar a figura de liderança que, em sua opinião, mais significativamente exerceu poder de forma positiva sobre a humanidade.
A 10 de dezembro de 2022, foi agraciado, a título póstumo, com o grau de Grande-Colar da Ordem da Liberdade, de Portugal.
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