No dia de S. Martinho, lume, castanhas e vinho

O Almada Online reuniu os magustos do concelho de Almada e conta-lhe a história da tradição e da lenda de São Martinho

A 11 de Novembro é o dia em que, tradicionalmente, a família reúne-se para celebrar a chegada do tempo frio, que se antecipa com as celebrações de São Martinho. Esta comemoração tem vários costumes associados e, pode ser um bom pretexto para sair da rotina do dia-a-dia, relaxar por instantes, comer castanhas e provar o novo vinho ou jeropiga. Saiba onde pode ir no concelho de Almada para celebrar o S. Martinho.

O destaque vai para a segunda edição do Alma Gusto, que se realiza a 11 e 12 de Novembro, no Jardim do Castelo, em Almada. Organizado pela Câmara Municipal de Almada (CMA), os dois dias de magusto contam com música, feira de artesanato, gastronomia e dança. O programa começa às 15h em ambos os dias. No Sábado, entre as 15h e as 23h, haverá feira de artesanato e gastronomia, com artesãos, street food, castanhas e música. Das 16h às 17h30 Edu Violin anima o jardim, das 18h às 19h tocam Orlando Santos & The Bagattels e, para finalizar, das 21h às 22h30 o DJ Glue a anima a noite. No Domingo dia 12 a feira de artesanato e gastronomia está aberta das 15h às 20h; entre as 16h e as 16h45 actua o grupo de dança almadense The Future Iz Us, seguindo-se um concerto de fado com Cristiano Sousa, entre as 17h e as 18h. Para encerrar o Alma Gusto deste ano, o DJ Ricardo Guerra e a sua Revolta do Vinyl estarão ao comando da música entre as 18h15 e as 19h30. A entrada é livre.

No Laranjeiro vai haver baile de S. Martinho no dia 11, com oferta de castanhas e água pé, às 15h30, na sede da Associação Recreativa e Cultural Almada Sul (ARCAS), na Rua Filipe Folque. A música estará a cargo de Cláudio Filipe. A organização é da Junta das Freguesias do Laranjeiro e Feijó (JFLF) e a entrada é livre.

Também no dia 11 de Novembro o Clube de Praças da Armada (CPA) e o seu núcleo de motociclismo organizam um Passeio de São Martinho com saída da sede do CPA às 8h, visita a uma adega na Quinta do Piloto por 10 euros com almoço. Entre as 16h e as 21h realiza-se o Magusto CPA na sede social, na Rua Manuel José Gomes 123, na Cova da Piedade. A organização anuncia “castanhas assadas, água pé, caldo verde, bifanas e entremeada, em ambiente de convívio e camaradagem entre associados de várias gerações”. Para mais informações deve contactar o telefone 918 832 741 ou o mail cpa@clubepracasarmada.pt

O Monte da Caparica Atlético Clube (MCAC) organiza um Arraial de São Martinho com magusto no dia 11, na sua sede na Rua Chafariz Público. A organização promete “castanha assada, água pé, bifanas, couratos e animação”. Para mais informações contacte o 210890425 ou o mail geral@montecaparicaac.pt

O Agrupamento de Escuteiros 1135 da Sobreda oganiza uma Festa de São Martinho no dia 11, que tem início às 15h30 com a celebração de eucaristia na Igreja de N. Sra. do Livramento. Às 16h30 seguem-se actividades escutistas e, às 19h30 convívio comes e bebes e animação na nova sede do agrupamento. Os escuteiros da Sobreda garantem “sopa com garra, caldo verde, chouriço assado, bifanas, cachorros, entremeada, castanhas assadas, sobremesas variadas, água pé e vinho”. A entrada custa uma castanha e dá direito ao sorteio de um cabaz de S. Martinho. Mais informações contactar geral@agr1135.cne-escutismo.pt

O Clube Naútico de Almada (CNA) realiza no dia 11 às 19h o seu já tradicional Jantar do Magusto de S. Martinho. O preço para adultos é 17,50 euros, para crianças dos 5 aos 12 anos 10€ e, os menores de 5 anos não pagam. A participação necessita de inscrição que pode ser feita aqui.

No dia 12 de Novembro o Clube Recreativo de Vale Flores (CRVF) organiza na sua sede, na Rua Armando Cortesão nº 27, um Magusto que pode englobar almoço, a realizar pelas 12h30, sendo que o magusto tem início às 17h. Para mais informações e inscrições deve contactar o telefone 21 258 2061 ou o mail crvflores@gmail.com

©DR / Magusto na aldeia

História de uma tradição

A festa em honra de S. Martinho é comemorada no dia 11 de Novembro, data em que o Santo foi sepultado na cidade de Tours (ver secção abaixo). Há diversas tradições festivas associadas a esta data, que se associam a um espírito de convívio e de solidariedade.

Algumas dessas tradições em Portugal são: beber do vinho novo (guardado após as vindimas), o chamado vinho de São Martinho; acender fogueiras, os chamados fogos de São Martinho; organizar Magustos, festas populares onde se juntam grupos de familiares e amigos para assar e comer castanhas; beber jeropiga, ginjinha ou a água-pé. A água-pé é o resultado da água lançada sobre o bagaço da uva, de onde se retira o pouco de mosto que aí se mantinha. Esta bebida pode ser consumida em plena fermentação ou, depois disso, adicionando-lhe álcool. Já a jeropiga é preparada através da adição de aguardente ao mosto da uva para parar a fermentação, ficando uma bebida mais doce e com maior teor alcoólico que o vinho.

O dia de São Martinho é pretexto para festas e feiras do vinho e da castanha por todo o país. São arraiais com muitas castanhas e vinho que prometem animar os participantes e aquecer as noites frescas. A batata-doce é muito comum nesta altura do ano e pode, de igual modo, fazer parte do Magusto de São Martinho. Manda, ainda, a tradição que, em certas zonas do país, se mate o porco e se plante o cebolinho. Para além dos comes e bebes próprios da ocasião, é também tradição no Magusto entoar canções à volta da fogueira.

O São Martinho celebra-se em Portugal, na Galiza e em algumas localidades das Astúrias e, também em várias localidades de outros países europeus. Nalguns países as castanhas não fazem parte deste dia. Em Espanha faz-se a matança do porco; na Alemanha a tradição passa por fogueiras, doces e vinho quente; na Itália faz-se também a prova do vinho novo e, na Croácia as uvas são baptizadas.

A ligação entre o São Martinho e as castanhas em Portugal terá vindo da tradição do magusto de Todos os Santos, celebrado a 1 de Novembro. Nesta data era habitual, especialmente no norte do país, assinalar os finados ao redor de uma fogueira e com uma mesa onde não faltavam as castanhas, para que os espíritos dos que tinham deixado a família pudessem apreciar o aconchego das chamas e das iguarias. Com a passagem ao calendário gregoriano, em 1582, retiraram-se 10 dias no mês de Outubro ao calendário anteriormente instituído, o que levou a que o magusto de 1 de Novembro passasse a ser celebrado a 11 de Novembro, dia que foi mais tarde atribuído a São Martinho de Tours.

Em finais de Outubro, os ouriços já começam a cair dos castanheiros, deixando à mostra as castanhas. Da mesma forma, o vinho novo, nascido das uvas colhidas no final do Verão, está pronto a provar. A abundância de castanha e vinho nesta época do ano, em especial no centro e norte, e a sua longa tradição à mesa dos lusitanos, foi quanto bastou para enraizar a tradição das castanhas e vinho no São Martinho português.

©DR / Estátua representando a lenda de S. Martinho, França, 1531, Colecção Calouste Gulbenkian

A Lenda de S. Martinho

A lenda remete para Martinho de Tours – um militar, monge, bispo e santo católico nascido na antiga cidade de Savaria na Panónia, uma antiga província na fronteira do Império Romano, actual Hungria – no ano de 316 e falecido a 397. Filho de um Tribuno e soldado do exército romano, cresceu na região de Pavia, em Itália, no meio de uma família pagã politeísta, com crenças em deuses mitológicos venerados pelo Império Romano. Foi educado para seguir uma carreira militar, tendo sido convocado pelo exército romano quando apenas tinha 15 anos. Apesar da educação pagã, cerca dos 10 anos de idade descobriu a doutrina Cristã, tendo entrado em 326, para o grupo dos catecúmenos, aqueles que se preparam para receber o baptismo.

Terá sido quando ainda se encontrava no exército, por volta de 337, que ocorreu o famoso episódio do manto, quando fazia parte da guarnição de Amiens. Reza a lenda que, certo dia, o soldado romano Martinho, estava a caminho da sua terra natal. O tempo estava muito frio e Martinho encontrou um mendigo gelado, que lhe pediu esmola. Martinho rasgou a sua capa em duas metades com a espada e deu uma ao mendigo. Mais à frente, voltou a encontrar outro mendigo, a quem ofereceu a outra metade da capa. Sem nada que o protegesse do frio, Martinho continuou viagem. Nesse momento, as nuvens negras desapareceram e o sol surgiu. O bom tempo prolongou-se por três dias. Assim, quase sempre na véspera e no dia de S. Martinho o tempo melhora e o sol aparece, tal como sucedeu com São Martinho. Este acontecimento é conhecido como o “Verão de São Martinho”. Na noite seguinte, Cristo apareceu a Martinho num sonho. Usando o manto do mendigo, voltou-se para a multidão de anjos que o acompanhavam e disse em voz alta: “Martinho, ainda catecúmeno [que não foi baptizado], cobriu-me com esta veste”.

Por volta dos 20 anos, comunicou aos seus superiores que não continuaria a lutar, seguindo a sua consciência cristã. Recusou o pagamento antes de uma batalha e anunciou que não iria combater. Tornou-se assim o primeiro objector de consciência reconhecido na História. Só foi baptizado depois de abandonar o exército. Nesta altura da sua vida, foi discípulo de Santo Hilário, bispo de Poitiers (na actual França), que o ordenou diácono e presbítero.

Perto de Poitiers, fundou o mais antigo mosteiro conhecido na Europa, na região de Ligugé e, tornou-se conhecido pelos seus milagres e como o santo que atraía multidões. São Martinho é o patrono dos pobres, soldados, objectores de consciência, alfaiates e enólogos.

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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