Almada | Obras proibidas e censuradas no Estado Novo, “A mãe”, de Máximo Gorki

No dia 17 pelas 15h, a Biblioteca Municipal José Saramago acolhe o "Sábados de Leitura", numa edição também inserida nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril

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O “Sábados de Leitura” de dia 17 de Fevereiro, insere-se nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, destacando uma obra proibida em Portugal pela censura, antes da revolução dos cravos.

Foram cerca de 900, os livros proibidos pelos Serviços de Censura durante o estado Novo, “A Mãe” de Máximo Gorki, foi um deles. De 1934 a 1974, a censura oficial do Estado Novo produziu mais de 10.000 relatórios de leitura sobre livros de autores portugueses, lusófonos e, estrangeiros, em edição original ou tradução, que entravam e circulavam em território nacional. As obras podiam ser classificadas como autorizadas, aprovadas com cortes, proibidas e, dispensadas. O controlo e a regulação da vida literária e cultural em Portugal, levado a cabo por Salazar e Marcelo de Caetano, durou durante grande parte do século XX.

Acusados de serem imorais, pornográficos, comunistas, irreligiosos, subversivos, maus, antissociais, dissolventes, anarquistas ou revolucionários, os livros examinados pela Censura abrangem áreas como as artes plásticas, ciências naturais, ciência política, economia, educação, geografia, filosofia, história, literatura, música, sociologia, religião, entre outras. Os censores proibiram especialmente as obras marxistas-leninistas, eróticas ou de educação sexual, e, nas décadas de 1940 e 50, a literatura neorrealista.

Nos livros proibidos pela Censura, encontram-se obras de autores como Jorge Amado, Natália Correia, Orlando da Costa, Vergílio Ferreira, Carmen de Figueiredo, Daniel Filipe, Tomás da Fonseca, Soeiro Pereira Gomes, Manuel Teixeira Gomes, Egito Gonçalves, Maria Lamas, Teixeira de Pascoais, Cardoso Pires, Graciliano Ramos, Alves Redol, Santareno, Miguel Torga, Louis Aragon, Italo Calvino, Mikhail Cholokhov, Colette, Joseph Conrad, Friedrich Engels, William Faulkner, Maksim Gorkii, Piotr A. Kropotkine, Lenine, André Malraux, Karl Marx, Friedrich Nietzsche, John Reed, John dos Passos, Françoise Sagan, Leão Tolstoi, Roger Vailland, ou Simone Weil.

“A Mãe” é uma obra literária contextualizada na Rússia do início do século XX, inspirada em manifestações reais do primeiro de Maio de 1902 e, no julgamento dos seus participantes. A revolução de um povo no seio de uma família, transformando a todos com a consciente participação na luta pelos ideais. Acima de qualquer outro romance, “A Mãe”, fala às emoções mais fortes e persistentemente enraizadas no património sentimental dos homens e, é por isso que o romance há de continuar a ser lido e a resistir à usura do tempo: justamente porque o núcleo da sua mensagem é intemporal. Obra-prima da literatura mundial, foi publicada pela primeira vez em 1907. Baseada em factos reais, retrata lutas operárias do início do século XX e o processo de tomada de consciência.

Máximo Gorki, pseudónimo de Aleksei Maksimovich Peshkov, nasceu em Nizliny-Novgorod, a 28 de Março de 1868. Após uma infância repleta de dificuldades, exerce os mais variados misteres, desde moço de recados a moço de cozinha num barco. Em Outubro de 1889 é preso pela primeira vez, apenas por três dias. Em Abril de 1891, enceta a sua primeira jornada a pé através da Rússia, que se prolonga até Outubro do ano seguinte. Durante esta viagem escreve o seu primeiro conto, Makar Chudra. Em Agosto de 1896, casa-se com Yekaterina Pavlovna Vozhina e dois meses depois adoece de tuberculose, mas, mesmo assim, não deixa de trabalhar. Em 1897 saem os seus dois primeiros volumes de contos. Em Maio de 1898 é de novo preso, em Nizlny-Novgorod. Em fins de Setembro de 1899, visita pela primeira vez Sampetersburgo. Em Janeiro de 1900 tem o seu primeiro encontro com Tolstoi e, a 17 de abril de 1901 é mais uma vez preso. A 25 de Maio de 1902, é eleito sócio honorário da Academia de Letras, eleição que Nicolau II consegue que seja revogada. Em 1905, encontra-se pela primeira vez com Lenine, é novamente preso em Riga e, segue então para o exílio, chegando aos Estados Unidos a 28 de Maio de 1906, depois de uma breve passagem pela Europa. Em Outubro desse ano chega a Capai. Em 1907 assiste, em Londres, ao 5.º Congresso do Partido Trabalhista Social-Democrata Russo. A 31 de Dezembro de 1913 regressa a Sampetersburgo, beneficiando de amnistia. Em 1931 instala-se definitivamente em Moscovo, donde apenas sai para passar o Inverno de 1935/6 na Crimeia, regressando em Maio. Morre a 18 de Junho de 1936.

A lotação máxima para esta sessão dos “Sábados de Leitura” é de 20 pessoas no máximo e, caso queira participar deve efectuar marcação prévia com Davide Freitas, através do mail biblactividades@cm-almada.pt ou do telefone 212508210.

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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