A Reunião dos Capitães de Abril na Costa da Caparica
A 5 de Dezembro de 1973 realizou-se uma reunião clandestina do Movimento dos Oficiais das Forças Armadas na Costa da Caparica. Historicamente, esta reunião é apontada como o ponto de não retorno na decisão de derrubar o regime facista português.
João Luz Ribeiro da Silva era proprietário da vivenda, situada na Rua Doutor Barros de Castro n°3, onde se realizou a reunião clandestina do Movimento dos Capitães de Abril na Costa da Caparica, a 5 de Dezembro de 1973. A Costa da Caparica ficou para sempre na História do 25 de Abril.
Na altura, João Luz Ribeiro da Silva era comerciante de brinquedos, dono da loja Benard no Chiado e, sendo um homem republicano, sentia uma natural antipatia pela ditadura em que vivia. Cedeu de bom grado a vivenda, sabendo o que se iria passar, impondo como única condição ignorar quem iria estar presente na reunião em sua casa.
Este local foi escolhido por estar afastado dos “radares” da PIDE e devido à amizade de infância existente entre Carlos Alberto Ferreira de Andrade, filho de João Luz Ribeiro da Silva proprietário da vivenda, e o capitão Vítor Alves.
Em Outubro de 1973, tinha-se aberto a perspectiva de dar continuidade ao descontentamento dos oficiais em relação à Guerra do Ultramar, com um movimento de oficiais das Forças Armadas. Quem teve esse trabalho porque frequentava os salões e, sendo genro do chefe do Estado-Maior da Armada também se perfilava para ser o sucessor do Américo Tomás, foi precisamente Vítor Alves.
A reunião marcou o ponto de “não retorno” do Movimento das Forças Armadas e, nela, pela primeira vez na cronologia do MFA, surge a participação do coronel Vasco Gonçalves.
Foi também nesta ocasião que se reuniu pela primeira vez a nova comissão coordenadora e executiva do MOFA (Movimento dos Oficiais das Forças Armadas) eleita na reunião de Óbidos, e, foi nela que por motivos operacionais, foi decidido a criação de várias subcomissões: de ligação aos outros ramos das Forças Armadas, de ligação ao Exército na metrópole e ultramar, do estudo da situação, de recolha de opinião e, de secretariado.
Foi também criado um grupo de trabalho para elaborar o programa de acção do Movimento, cordenado pelo major Melo Antunes e constituído pelos tenente-coronéis Lopes Pires, Franco Charais e Costa Brás, major Hugo dos Santos e coronel Vasco Gonçalves, por parte do Exército; da Marinha pelo capitão-tenente Vitor Crespo, 1º tenente Almada Contreiras e; da Força Aérea pelos majores Morais e Silva e Seabra e o capitão Pereira Pinto
Foi ainda eleita uma Direcção, formada por um elemento das três subcomissões fundamentais, que passou a assumir a responsabilidade das decisões a tomar em situações emergentes. A nova direcção ficou composta pelo major Vítor Alves, major Otelo Saraiva de Carvalho e capitão Vasco Lourenço, que a 16 de Março de 1974 foi colocado compulsivamente nos Açores. Queriam atrair para o movimento, além de majores, tenentes-coronéis e coronéis, os generais.
“Pode dizer-se que o 25 de Abril nasceu nesta reunião, com a criação das estruturas essenciais que assegurariam o êxito da operação”, escreveu Avelino Rodrigues no seu livro “O Movimento dos Capitães e o 25 de Abril”.
A reunião realizou-se ao final do dia, tendo os participantes chegado individualmente e de forma espaçada, de modo a não levantar suspeitas, tendo no final da reunião deixado a casa da mesma forma. Além dos elementos da comissão coordenadora e executiva do MFA, estiveram também presentes alguns capitães do exército vindos do norte do país.
Ninguém da família do proprietário da vivenda esteve presente na casa durante a reunião. No entanto, Carlos Alberto Ferreira de Andrade organizou no mesmo dia e à mesma hora um encontro de amigos na casa do lado, o nº1, também propriedade de outro familiar, para que o movimento de pessoas nesse encontro encobrisse a reunião que decorria no nº3 e, que se queria afastada de atenções inconvenientes.
O movimento dos Capitães de Abril é apontado como tendo sido iniciado a 9 de Setembro de 1973, numa reunião que aconteceu numa quinta de Alcáçovas, em Viana do Alentejo, onde marcaram presença 136 oficiais.
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