Almada | Banzo
Um filme de Margarida Cardoso em exibição no Auditório Fernando Lopes-Graça, dia 12 de Fevereiro às 21h
Em 1907, numa altura em que a escravatura em Portugal estava oficialmente abolida há largos anos, Afonso (Carloto Cotta) recomeça a vida numa ilha tropical africana como médico de uma plantação de cacau, a roça da Boa Esperança, onde terá de curar um grupo de serviçais “infectados” pelo Banzo, a nostalgia dos escravos, a saudade do país natal do qual foram arrancados. Morrem às dezenas de inanição, ou suicidam-se, e a doença alastra entre o contingente de “serviçais” moçambicanos na plantação são-tomense. A única cura seria o regresso à liberdade no seu país de origem, algo que os responsáveis da roça não contemplam sequer. Para não haver mais contágio, o grupo é enviado para um monte isolado, chuvoso, rodeado de floresta, como se estivesse num limbo, fora da realidade. Ali, Afonso tenta curá-los, mas a incapacidade de entender o que lhes vai na alma revela-se mais forte do que todas as soluções. Como entender o invisível? Como entender o sofrimento daqueles a quem foi negado o lamento? O fotógrafo Alphonse (Hoji Fortuna), um fotógrafo itinerante negro, chega à roça em busca de clientes e nas suas mãos cai o papel de revelar o que se passa na plantação.
Banzo marca o regresso de Margarida Cardoso ao continente africano para contar uma história ambientada no início do século XX. Filmado em São Tomé e Príncipe e Portugal, esta é uma história lúcida e generosa. A distância que se estabelece entre a cineasta e as personagens, assim como a distância que se traça entre todos no filme, será uma das chaves para abordar esta dolorosa história.
“O tempo colonial, as plantações, a escravatura, estão muito presentes na memória das pessoas de São Tomé e fazem tanto parte de uma paisagem interior como exterior. Depois, nos arquivos tive a possibilidade de aceder a coisas que não entram na historiografia oficial.”, explica a realizadora sobre o seu processo criativo neste filme. Conta que encontrou muitos relatórios médicos detalhados, numa atitude, não de preocupação com os escravos, mas de que a mão-de-obra estivesse funcional.
“Gosto muito de experimentar os espaços, não só como inspiração, mas também porque podem trazer alguma coisa para o que é filmado, para aquilo que se capta na altura.”, acrescenta sobre ter filmado em São Tomé.
Da mesma realizadora de A Costa dos Murmúrios (2004), Yvone Kane (2014) e Understory (2019, ensaio) surge nesta longa metragem uma nova exploração da relação de Portugal com África e com o seu passado, central no cinema que Margarida Cardoso faz.
O filme estreou em Portugal no Indie, e internacionalmente na 58ª edição do Festival Internacional de Cinema de Karlov Vary, na Chéquia.
Margarida Cardoso começou o seu trabalho como realizadora em 1995, explorando temas que cruzam as suas experiências históricas pessoais com questões coloniais e pós-coloniais proeminentes na história recente de Portugal, como a revolução portuguesa e a guerra colonial em África. O seu trabalho prévio inclui a curta-metragem Entre Nós (Locarno, 1999).; Kuxa Kanema – The Birth of Cinema (FIDMarseille, Cinéma du Réel, Visions du Réel, 2003); A Costa dos Murmúrios (Veneza, 2004, IFFR, 2005); Yvone Kane (Tallinn Black Nights, 2015); Understory (IndieLisboa 2019 ); Sita: A Vida e o Tempo de Sita Valles (IndieLisboa, 2022) .

Ficha Técnica:
Título original: Banzo
Realização: Margarida Cardoso
Argumento: Margarida Cardoso
Produção: Filipa Reis
Elenco: Carloto Cotta, Hoji Fortuna, Rúben Simões, Gonçalo Waddington, Sara Carinhas, João Pedro Bénard, Maria do Céu Ribeiro, Matamba Joaquim, Romeu Runa, Cirila Bossuet, Albano Jerónimo, Beatriz Batarda, Jochum ten Haaf, Adriano Luz, Marcello Urgeghe, Evandro Gomes, Dinarte Branco
Fotografia: Leandro Ferrão
Música: Rutger Zuydervelt
Edição: Pedro Filipe Marques
Género: Drama
Origem: Portugal, França, Países Baixos
Ano: 2024
Duração: 127 min.
Classificação: M/12
Preço: 3,00€ (desconto de 50% jovens e séniores).
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