Almada | O Azul do Cafetã

O filme de Maryam Touzani é exibido no Auditório Fernando Lopes-Graça, dia 14 de Junho às 21h

Halim (Saleh Bakri), um mestre alfaiate que faz cafetãs (as tradicionais túnicas debruadas muito usadas por mulheres marroquinas) à maneira tradicional na medina milenar de Salé em Marrocos, está casado há muito tempo com Mina (Lubna Azabal). Ela é uma mulher de pulso firme, que atende os clientes mais arrogantes, sem papas na língua mas sensível; ele é um ser tímido, de semblante doce e alma nobre, com serenidade de artesão.O casal sempre viveu com o segredo da homossexualidade de Halim que ele aprendeu a manter em silêncio. O seu matrimónio apoia-se em amor genuíno, mas o prazer da carne não faz parte da equação. Pelo menos, não faz para Halim que leva uma vida dupla, entre a loja e a clandestinidade dos banhos públicos, onde o cruising se faz entre balneários escuros e portas fechadas. Um dia, contratam os serviços de Youssef (Ayoub Missioui), um jovem aprendiz com a mesma devoção à delicada arte da costura e debruo. É um ténue equilíbrio conjugal que se descose com a chegada do aprendiz, para quem Halim dirige uma atenção especial enquanto criam um requintado cafetã azul, e surge o diagnóstico da doença grave de Mina. Unidos no seu amor, cada um ajudará o outro a enfrentar os seus medos. Um triângulo amoroso, quase platónico.

É com o fio mais fino da intimidade humana e sabedoria artesanal e, o ponto mais delicado da ambiguidade amorosa que a argumentista/realizadora Maryam Touzani tece a sua segunda longa-metragem, depois do internacionalmente aclamado Adam. Esta segunda longa tem um subtil cariz político, pois a homossexualidade ainda é punida por lei em Marrocos. Maryam Touzani dedica uma atenção tão grande aos detalhes, aos olhares, aos não ditos, que quase deixa de “respirar”, de tal forma são excessivos o pudor e a precaução. A lente da realizadora também se prende na confecção tradicional do cafetã, esta em risco de extinção com a produção em massa. É ouro sobre azul e cinema dos sentidos em estado de êxtase. 

Os marroquinos Nabil Ayouch e Maryam Touzani, cineastas, argumentistas, produtores, são um casal na vida e trabalham nos projectos um do outro. Maryam, cerca de dez anos mais nova, começou por notar-se como produtora dos filmes do marido até à sua estreia na realização de longas-metragens. O casal tem procurado um cinema popular, acessível à maioria da audiência, mas em nada popularucho nem a qualquer preço. É relevante o trabalho que têm feito com os actores e o modo como têm procurado responder cinematograficamente a assuntos divisivos da sociedade: Nabil tem incidido na condição feminina e na adolescência, Maryam na identidade de género. 

O filme estreou-se na secção Un Certain Regard do Festival de Cannes 2022, onde venceu o Prémio FIPRESCI, tendo sido também exibido no Festival de Marraquexe, onde foi bem acolhido pelo público. Foi também escolhido para representar Marrocos na categoria de Melhor Filme Internacional, um sinal de que há vontade para um diálogo sobre a questão.

©DR / Um ténue equilíbrio conjugal que se quebra com a chegada do aprendiz Youssef (Ayoub Missioui).

Ficha Técnica:

Título original: Le bleu du Caftan
Realização: Maryam Touzani
Argumento: Maryam Touzani, Nabil Ayouch
Produção: Nabil Ayouch
Elenco: Lubna Azabal, Saleh Bakri, Ayoub Messioui, Mounia Lamkimel, Hamid Zoughi
Fotografia: Virginie Surdej
Música: Kristian Eidnes Andersen
Edição: Nicolas Rumpl
Género: Romance, Drama
Origem: Marrocos, França, Dinamarca, Bélgica
Ano: 2022
Duração: 118 minutos
Classificação Etária: M/12

Preço: 3,00€ |Desconto de 50% para jovens e seniores

Bilheteira Online

Contacto da Bilheteira do AFLG
Tel.: 212 724 922 | auditorio@cm-almada.pt
Quarta a Sábado das 10h00 – 13h00 | 14h30 – 18h00
1 hora antes de espectáculo ou sessão de cinema

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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