Almada | Senza em concerto com “Próxima Paragem”

A Banda Senza apresenta-se em concerto hoje, dia 22 de Abril pelas 21h, no Auditório Fernando Lopes-Graça

A Banda aveirense Senza apresenta-se em concerto hoje, dia 22 de Abril pelas 21h, no Auditório Fernando Lopes-Graça, onde irão partilhar com o público temas do seu último álbum “Próxima Paragem”.

O álbum conta om nove faixas que começaram a ser criadas pelo duo durante o período de confinamento pandémico e, acabaram de ser produzidas já no espírito de recuperação de 2022. É em tons quentes que as novas canções tanto reflectem um conteúdo amadurecido pela introspecção proporcionada pelo isolamento social, como acontece em “Sozinha no Mundo” e “Som Misturado”, como expressam a celebração vibrante da liberdade recuperada, manifestada em “Cor” e “Alma a Céu Aberto”.

Sendo o terceiro disco dos Senza, o álbum antecipa no respectivo título a nova etapa que preconiza para a carreira da dupla. Em sentido figurado, “Próxima Paragem” é o rumo musical a seguir, que Nuno Caldeira diz agora “mais arrojado e contemporâneo”. Em sentido literal, é cada destino geográfico de uma agenda de concertos que, como realça Catarina Duarte, está apostada em “acabar com a má memória dos cancelamentos impostos pela covid” e, até final do ano, inclui passagem por diversas cidades portuguesas e também por palcos na Índia. Almada é uma dessas cidades, onde hoje aportam os Senza.

“Se nos discos anteriores nos focámos sobretudo em experiências e episódios das viagens que fizemos, neste dedicámo-nos mais a uma reflexão sobre a sociedade actual e sobre os temas que ainda precisam de soluções. Foi efeito da paragem forçada que tivemos em 2020, o confinamento exerceu uma influência forte nas nossas opções e acreditamos que quem ouvir estas novas músicas vai identificar-se connosco, porque passou pelo mesmo, sentiu as mesmas angústias, passou a valorizar coisas diferentes”, defende Nuno Caldeira.

Catarina Duarte admite que o teor da mensagem pode, por vezes, ser “pesado”, mas considera que as composições, o leque de instrumentos utilizados e o ecletismo dos arranjos finais têm o mérito de fazer a música valer por si mesma. “Falamos de migrações, dos desafios de mestiçar culturas, dos media, da desigualdade de oportunidades devido à cor da pele, de orientação sexual e identidade de género. Também cantamos sobre a Namíbia, sobre o bairro do Soweto e sobre o Brasil. Mas usamos sonoridades de várias proveniências e agrada-nos o exotismo destas misturas. O disco convida a reflexões profundas, é verdade, mas tem também uma leveza própria que resulta do seu tom luminoso, do seu carácter urbano e dançável”, explica a cantora.

“Bailarina do Soweto”, o segundo single do álbum “Próxima Paragem”, foi lançado no Dia Internacional de Nelson Mandela, que a Organização das Nações Unidas assinala a 18 de Julho para recordar o líder que, após 27 anos de prisão pelo seu activismo na luta anti-apartheid, foi distinguido com o Prémio Nobel da Paz em 1993 e acabaria por ser eleito presidente da África do Sul.

“Em 2018, quando fizemos a tournée pela África austral, demos um concerto em Joanesburgo e depois fomos ao Soweto, visitar a casa-museu do Mandela. Foi aí que ficámos a saber de um projecto local de dança incrível, que tem meninas com muito talento, mas que, por terem nascido numa zona onde ainda só há oportunidades para pessoas com cor de pele mais clara, enfrentam sucessivas dificuldades a vários níveis, principalmente em termos de internacionalização artística”, conta Catarina Duarte. “Isto só prova que, tantos anos depois, o apartheid ainda existe e continua enraizado”, lamenta Nuno Caldeira. E é por isso que a letra dos Senza refere: “Vim do ghetto, do secreto / A nossa história não tem amuleto / … Vim do entulho, do cimento / Tenho nas pernas a nossa cura / … E mesmo sem o futuro risonho de sonho que todos querem / Seremos donas de nós”.

O primeiro single do álbum “Próxima Paragem” a ser tornado público, em setembro de 2021, foi “Sozinha no Mundo”, que, além das vozes de Catarina Duarte e Nuno Caldeira, conta também com a de Carlão, o rapper fundador da icónica banda almadense de hip-hop Da Weasel. A canção escrita pelos Senza fala de tecnologias e de comodismo, confronta vícios digitais com experiências físicas, e Carlos Nobre reviu-se nesse alerta, acabando por criar para o tema os seus próprios versos. É dele, portanto, o recado: “Caminha no parque, brinca na estrada /… Destino é romance, faz a tua chance…. / Faz-te fera”.

Outra colaboração especial do disco “Próxima Paragem”, é a do artista Elemotho, na faixa com o nome do seu país, “Namíbia”. Os músicos portugueses conheceram o cantor no Festival de Jazz de Windhoek, onde os três actuaram, e, ao fim de alguns dias de relacionamento, decidiram colaborar na criação de um tema inspirado por interesses partilhados. Foi assim que nasceu a canção entoada em três línguas. Por um lado, no Português dos músicos que se sentiram tocados pela travessia do deserto do Namibe; por outro, no idioma Setswana, que é a língua nativa do deserto do Kalahari, do qual o artista africano é originário; e ainda em Inglês, para que uma maior audiência participe da partilha. “A esposa do Elemotho é galega e até poderíamos ter explorado as raízes que temos em comum, mas o que nos impressionou mesmo foi aquela paisagem do Kalahari e prometemos que haveríamos de escrever uma canção sobre o deserto – sobre aquela terra de tal aridez e vastidão que nos faz sentir pequeninos”, explica Nuno Caldeira.

“Escolhemos o caminho da música com o coração e com honestidade. Isso significa que pomos sempre o melhor de nós em palco e, depois de tanto tempo parados, contra a vontade, temos muito coração para dar ao vivo”, conclui. Um concerto de Senza é sempre uma partilha e um diálogo inovador com o público, com pinceladas exóticas e ritmos dançáveis.

Senza foi o nome escolhido para o grupo, por ser também o nome do lamelofone, idiofone ou kisanji, dos percussionistas africanos de que Catarina e Nuno não prescindem nos seus temas. Este é um projecto musical de fusão lusófona que já figurou em alinhamentos e partilharam palco com nomes como Carlão, Sara Tavares, Mário Laginha, Rão Kyao, Júlio Pereira, entre outros, em festivais nacionais e internacionais de destaque, representando oficialmente a língua e cultura portuguesas. O grupo tem levado na bagagem, aos países onde tem actuado, o exotismo da fusão de sonoridades dos países de língua portuguesa

O primeiro álbum dos Senza, “Praia da Independência”, foi lançado em 2016 e logo distinguido como Disco Antena 1. Seguiu-se em 2018 “Antes da Monção”, que, contando com a participação de músicos como Rão Kyao e Júlio Pereira, já motivou concertos em Portugal, Espanha, França, África do Sul, Namíbia, Zimbabué e Brasil.

Os Senza são Catarina Duarte na voz e electrónica, Nuno Caldeira na guitarra, voz e drumpads, João Veludo no som e João Roldão no stage e road managing.

Preço: 5,00€ (desconto de 50% para publico jovem e sénior)
Idade: M/6

Contacto da Bilheteira do AFLG
Tel.: 212 724 922 | auditorio@cm-almada.pt
Quarta a Sexta, das 14h30 às 18h00
Sábado das 15h00 às 18h00
1 hora antes do espectáculo

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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