Almada Transborda dança durante duas semanas
Dança, performances, conversas e laboratórios invadem Almada
A 4ª edição da Transborda – Mostra Internacional de Artes Performativas de Almada, traz espectáculos, laboratórios, performances e conversas a Almada entre 27 de Abril e 12 de Maio.
A mostra consolida um contexto singular de artes performativas que aproxima públicos diversos a obras inovadoras de coreógrafos internacionais. Esta edição enfatiza a partilha de conhecimentos na convivência entre culturas e perspectivas diversas, e a urgência de novas formas de cooperação.
A estreia de “Mono-No-Aware”, dia 27 de Abril às 21h e 28 às 16h no Teatro Municipal Joaquim Benite, de Rafael Alvarez, com Mariana Tengner Barros e Noeli Kikuchi, é um trabalho que parte de um lugar de memória e de contemplação da transitoriedade do tempo presente. Mono-No-Aware é um termo japonês dificilmente traduzível por “uma empatia para com as coisas” ou “uma sensibilidade especial para com as coisas efémeras”. Na literatura clássica e poesia japonesa, refere-se ao ideal estético do mono-no-aware, que implica uma sensibilidade particular de consciência e capacidade de resposta para alguma coisa, um objecto inanimado ou mesmo um ser vivo, ou uma resposta emocional sobre uma pessoa. Este projecto coreográfico interpela e convoca diferentes materiais imagéticos e poéticos, partindo deste lugar de memória e evocação, e simultaneamente de aceitação e contemplação do tempo presente e da sua transitoriedade. Um corpo nostálgico que se desequilibra entre dois filtros temporais e duas realidades, o passado, o presente e uma ideia de futuro. As imagens morrem em palco e são levadas para fora dele? Se um corpo não se dissolvesse, não desaparecesse como nevoeiro, as coisas perderiam o poder de nos mover?.
No dia 5 de Maio às 18h no Auditório Fernando Lopes-Graça, apresenta um panorama com três trabalhos do coreógrafo Cristian Duarte: o solo “The Hot One Hundred Choreographers”, referência para a dança no Brasil; “Presentes”, um dueto em colaboração com a bailarina Aline Bonamin; e “Para Tocar e não Prender”, uma experiência colectiva com trinta participantes locais. O solo convida o público a navegar por um arquivo-índex que revela um corpo que negoceia com o seu próprio repertório e memória. Hot 100 é composto por referências que vão do clássico ao pop, de Isadora Duncan a Michael Jackson. De Lia Rodrigues ao expressionismo alemão de Mary Wigman. De Bob Fosse a Vera Mantero. De Pina Bausch a Lennie Dale com Dzi Croquettes. Para além da proposta cénica, o projecto apresenta um website que disponibiliza links dos cem coreógrafos-obras listados nesta criação. “The Hot One Hundred Choreographers” recebeu o prémio de melhor criação em dança da APCA – Associação Paulista dos Críticos de Arte (2011) no Brasil e foi apresentado em diversos países.
A Transborda, traz pela primeira vez a Almada a coreógrafa croata radicada em França, Ivana Müller, com o espetáculo “Forces of Nature”, dia 10 de Maio no Teatro Municipal Joaquim Benite às 21h, uma jornada colectiva por uma paisagem em constante transformação que questiona o sentido e o potencial daquilo que temos “em comum”. “Forces of Nature” desafia a ideia de movimentos de grupo nos seus contextos físicos, sociais e ambientais. Como e por que são criados, quais são suas potencialidades, e quais são seus efeitos sobre os seus ambientes, sejam eles imediatos ou distantes? Com base nestas reflexões, este espectáculo acompanha o movimento de um organismo articulado e complexo, composto por cinco corpos (pessoas) com diferentes energias e ideias. Os seus desejos podem não ser os mesmos, mas têm um objectivo comum: a construção de um espaço físico e imaginário que partilham. A peça torna-se numa viagem por uma paisagem em permanente transformação, composta por gestos, palavras e relações que questionam o sentido e o potencial daquilo que ‘temos em comum’, a noção de interdependência, a sustentabilidade dos recursos, a importância de ‘cuidar’, a ideia de esforço, a relevância das escolhas individuais e colectivas, e a necessidade de agir.
Apresenta “Boca Fala Tropa” de Gio Lourenço, a 11 de Maio às 21h no Auditório Fernando Lopes-Graça, um espectáculo que tem como ponto de partida os movimentos do Kuduro e que cruza elementos da memória individual, e as suas inevitáveis ficções, com elementos da memória colectiva. A partir de um corpo a vários tempos e tendo como base os movimentos do Kuduro, Gio Lourenço (Angola, 1987) constrói um itinerário biográfico onde o corpo se torna uma alegoria da memória. O Kuduro surge nos anos 90, em Luanda, no contexto de uma guerra civil. Os códigos específicos deste estilo de música / dança chegavam a Portugal através do corpo e das cassetes dos que transitavam entre estes dois países. É na adolescência, no final dos anos 90 e já a viver em Portugal, que Gio Lourenço entra em contacto com este universo e se torna kudurista, descobrindo um corpo partido, o seu, onde a memória se reinventa no gesto. “Boca Falta Tropa” propõe um território artístico deslocado de uma geografia concreta, o trânsito entre Angola e Portugal, partindo dos passos e dos códigos do Kuduro para cruzar elementos da memória individual, e as suas inevitáveis ficções, com elementos da memória coletiva.
E encerra com “Janet Pannetta: Diosa Ancestra”, a 11 e 12 de Maio às 19h na Casa da Dança – Ponto de Encontro, da artista argentina Cecilia Lisa Eliceche, que cria uma oferenda dançada à mestre de ballet Janet Panetta, celebrando a sua vida e o seu legado.
Pode ver toda a programação da edição deste ano da Transborda aqui.
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