Caparica | Música e Ciência: Explorar o Cosmos
Uma experiência imersiva onde a ciência, a literatura e a música se encontram
Nesta Quinta-Feira 6 de Março, pelas 18h30, o Grande Auditório da NOVA FCT volta a acolher o evento “Música e Ciência: Explorar o Cosmos”. A entrada é livre.
O musicólogo Edward Ayres de Abreu, Director do Museu Nacional de Música em Mafra, é o orador convidado deste espectáculo imersivo, onde a ciência e a música se unem de forma singular. Ao lado do maestro Cláudio Ferreira, levam os espectadores numa viagem pelo Universo ao som de “Os Planetas“, do compositor britânico Gustav Holst (1874 – 1934).
Desde 2017 que a Orquestra Metropolitana de Lisboa tem vindo a desenvolver o projecto intitulado “Música e Ciência”, no quadro do qual já se apresentou em instituições de ensino superior de Norte a Sul do país. Com provas dadas, estas iniciativas proporcionam a divulgação simultânea da ciência e do repertório musical de tradição clássica, estimulando a convergência entre o raciocínio crítico e a contemplação estética.
A suíte orquestral “Os Planetas”, a composição mais conhecida de Gustav Holst realizada entre 1914 e 1916, invoca os corpos celestes numa perspectiva astrológica. Enquanto enredo musical, inspira-se na sugestão de que estes revelam dimensões ocultas das personalidades e relações humanas.
Em Holst, este interesse pela astrologia era primeiramente motivado por uma necessidade de conhecimento próprio, pois os seus ideais sagrados estariam relacionados com o budismo. Mas também foi alimentado por ligações pessoais com figuras ligadas ao teosofismo e ao ocultismo. Foram esses contactos que lhe deram a conhecer o livro “The Art of Synthesis” de Alan Leo, um dos pioneiros da astrologia moderna. Publicado em 1912, este livro dedica um capítulo a cada planeta, evocando as características do comportamento humano que lhe estão associadas. Foi, precisamente, esse o modelo adoptado por Holst, ao ponto de alguns dos títulos coincidirem na partitura, tal como a ordem correspondente das últimas quatro peças da suíte. A obra musical assemelha-se assim a um livro ilustrado.
Quando estreou, em 1918 na cidade de Londres, fazia eco dessa questão que então desafiava a ciência: o recurso da irracionalidade para a compreensão da existência. A discussão cingia-se sobretudo na cultura popular. Mas Gustav Holst trouxe-a para outro palco. O sucesso imediato, que se mantém ainda hoje, deveu-se em grande parte a uma simpatia ancestral que temos pela leitura do cosmos enquanto projecção de conhecimento.
A obra, é composta por sete movimentos, cada um inspirado nas características astrológicas e mitológicas dos planetas do sistema solar, excepto a Terra. A força marcial masculina, coragem e impulso bélico de Marte, o Portador da Guerra, é retratada pela música através de um imaginário guerreiro com recursos orquestrais que, entretanto, se tornaram arquétipos sonoros do cinema de acção. Já o universo feminino, imerso em tranquilidade, ternura e delicadeza de Vénus é transmitido em paisagens bucólicas musicais que respiram paz e veneração pela natureza. A vivacidade e a alegria de viver de Mercúrio é exultada com entusiasmo e prontidão musical. Na serenidade etérea de Neptuno, o Místico, a composição embarca num percurso sonoro repleto de contrastes, emoções e simbolismos. Em Júpiter, desponta um espírito afirmativo e solene sobre um discurso marcado pela esperança e pelo vislumbre de desfechos épicos. Chegados a Saturno, surge o momento de melancolia e de acentuado desalento, onde a melodia se estende no tempo, reflexo de fadiga e resignação. Tal como a Fénix, é das cinzas que floresce a fantasia aparatosa de Urano, com requintes orquestrais suspensos numa narrativa imaginária. Por fim, o pano encerra sob a égide de Neptuno, pairando no mistério de um espaço que nos transcende incomensuravelmente. A sugestão de aventura na exploração do desconhecido remata num ponto de interrogação que aponta ao futuro da Humanidade.
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