Hospital Garcia de Orta com urgências de obstetrícia sempre abertas a partir de Setembro

Até lá hospitais de Almada, Setúbal e Barreiro funcionarão rotativamente

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A Urgência de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Garcia de Orta (HGO), em Almada, só estará aberta 11 dias durante o mês de Julho. Só a partir de 1 de Setembro é que terá meios para estar aberta 24 horas por dia, anunciou a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, numa entrevista à SIC, a 9 de Julho. A ministra admitiu que a situação “é crítica” na Península de Setúbal, onde as urgências de Obstetrícia dos hospitais de Almada, Setúbal e Barreiro têm estado encerradas durante vários períodos nos últimos anos, obrigando as grávidas a recorrer a hospitais do distrito de Lisboa.

Em três semanas, três grávidas perderam os seus bebés nas regiões de Lisboa e de Leiria em situações que não serão alheias ao caos instalado no Serviço Nacional de Saúde (SNS), especificamente no encerramento de urgências ginecológicas e obstetrícias.

As situações parecem estar a multiplicar-se em pouco tempo: grávidas que apresentam complicações e acabam por chegar tarde aos hospitais para onde são encaminhadas pelo SNS24; percursos longos de transporte de grávidas; grávidas que não terminam a triagem do SNS24 por esta demorar muitos minutos; partos em ambulâncias e carros particulares. Em três semanas, três recém-nascidos morreram.

Na Quarta-Feira, Ana Paula Martins disse lamentar o desfecho dos dois primeiros casos (os que eram conhecidos na altura), mas que “dificilmente seria evitado”, dado que “a medicina ainda não consegue resolver tudo”.

Ana Paula Martins, anunciou que o Hospital Garcia de Orta vai concentrar a resposta de urgência de obstetrícia na região de Setúbal 24 horas por dia, a partir de Setembro, com a integração de uma equipa de seis médicos obstetras e ginecologistas, oriundos do sector privado, ao abrigo do programa de vagas carenciadas, alguns através de autorização do Governo. O Observador avança que estes médicos irão ganhar mais 40% a 50% em relação ao salário normal, e terão ainda outras regalias.

“Há uma equipa de especialistas de obstetrícia e ginecologia que se desvinculou do hospital privado onde trabalhava” e que vai assinar um contrato com Serviço Nacional de Saúde, explicou a ministra. Estes seis especialistas vão juntar-se à “equipa que ainda existe” no Garcia de Orta e vai contar também com os médicos internos que estão em formação nesta unidade de saúde.

No resto do mês Julho e de Agosto “teremos sempre uma urgência aberta”, declarou a ministra, ou seja os três hospitais da Península de Setúbal funcionarão rotativamente, sob coordenação da Direção Executiva do SNS. Será instalado “um Centro de Responsabilidade Integrada onde as pessoas ganham com base nos resultados em saúde”.

A Península de Setúbal, foi apontada por Ana Paula Martins como “a área mais crítica” desde que assumiu funções, e o Hospital Garcia de Orta, no seu entender, “perdeu capacidade de resposta ao longo do tempo” devido à saída de profissionais.

A solução para reorganizar a rede de urgências de ginecologia e obstetrícia, passará pela criação de urgências regionais, constituídas com equipas partilhadas, em princípio entre Garcia de Orta e Barreiro, São Francisco Xavier e Amadora-Sintra, Loures e Vila Franca de Xira, Leiria e Caldas da Rainha, Santarém e Abrantes, o que implicará legislação própria e está sujeito a negociação com os sindicatos do sector.

Na mesma entrevista, a ministra da Saúde defendeu que a situação das urgências na Margem Sul melhorou muito este ano, mas que ainda está longe de ser perfeita. Mesmo assim, admite que não se deve normalizar haver urgências fechadas, mas pede tempo aos portugueses para retirar o SNS da crise em que este se encontra e reorganizar a rede de urgências.

Reacções às declarações da ministra da saúde

As urgências regionais foram um dos temas que suscitaram reacção imediata por parte de sindicalistas e antigos ministros.

“Não podemos comparar o Grande Porto com a Grande Lisboa ou a Margem Sul, onde eventualmente os hospitais distam no máximo 20 ou 30 quilómetros entre si. Não é comparável uma urgência regional com uma metropolitana”, afirmou a presidente da Federeção Nacional dos Médicos (FNAM), Joana Bordalo e Sá. Acrescentou que “a ministra da Saúde continua sem apresentar soluções estruturais”. “Na semana passada, tivemos dois casos fatais, muito infelizmente, que muito lamentamos. No ano passado, tivemos, segundo dados dos bombeiros, meia centena de bebés a nascerem em ambulâncias. Em 2025, ainda vamos a meio do ano, e já vamos em 36 bebés nascidos nas ambulâncias. Isto não é normal”, referiu. Acrescentou que “a criação de urgências regionais não vai resolver o problema da distância e o problema das grávidas terem de continuar a percorrer tantos quilómetros. Antevemos que até seja uma tragédia anunciada, porque cada quilómetro a mais pode ser fatal.” Joana Bordalo e Sá acusa que “há uma crise grave no acesso à saúde pública”, crise à qual “a resposta política tem sido marcada por improviso, inacção e até uma retórica que parece desconectada da realidade”. “A senhora ministra promete soluções, mas entrega desculpas. Ou seja, este verão as grávidas continuam a ser postas em risco. Vai ser assim o verão todo. As urgências vão continuar a fechar. No seu discurso parece haver quase uma normalização de todo este colapso”, concluiu.

“Gostaríamos de ter ouvido mais palavras e soluções construtivas de médio longo prazo”, frisa o secretário geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Nuno Rodrigues. “

O presidente da Sociedade Portuguesa de Saúde Pública (SPSP), Francisco George, declarou que em relação às mortes dos recém-nascidos “a ministra da Saúde deveria reconhecer a quantidade de problemas resultantes da falta de planeamento e que se deveria considerar a atribuição de indemnizações neste tipo de situações, sem a necessidade de um processo judicial.” Em relação à entrevista de Ana Paula Martins, considera que a ministra da saúde “não apresentou justificações suficientes para descansar os portugueses.”

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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