Mulher morre após falha na assistência do INEM
Teve indícios de AVC quando estava a ser ouvida no Tribunal de Almada. Serviços tentaram contactar o INEM durante 1h30, sem sucesso.
Uma mulher que estava a ser ouvida na Segunda-Feira, 4 de Novembro, no Tribunal Judicial de Almada enquanto queixosa num processo de violência doméstica, sentiu-se mal em plena audiência. Os serviços do Ministério Público (MP) telefonaram para o 112 para accionar o socorro, mas durante hora e meia não foram atendidos pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). Foi a PSP de Almada quem transportou a idosa, na casa dos 70 anos, ao Hospital Garcia da Orta (HGO), onde viria a falecer na Terça-Feira.
A notícia é avançada pelo Jornal Público, que esclarece que já depois de ter tido conhecimento que a idosa falecera e que o corpo tinha sido entregue à família, “o Ministério Público ordenou que o corpo regressasse às instalações do hospital, com vista à realização de autópsia médico-legal”, informou a Procuradoria-Geral da República (PGR) num esclarecimento adicional, ou seja, foi aberto um inquérito para investigar a causa e as circunstâncias da morte.
O porta-voz da PSP, o intendente Sérgio Soares, explicou ao Público que a idosa se encontrava no Tribunal de Almada a ser ouvida, quando “terá começado a ter indícios de AVC [Acidente Vascular Cerebral]”. E continuou: “No tribunal accionaram os meios de socorro, mas devido à demora, a procuradora entrou em contacto com o Comandante da Esquadra de Almada da PSP a solicitar ajuda, tendo este determinado a ida do carro patrulha da PSP de Almada”.
O responsável pela comunicação da PSP precisa ainda que “este carro patrulha, em marcha de urgência, transportou a senhora para o Hospital Garcia de Orta, tendo esta dado entrada em estado grave. Lamentavelmente, a senhora acabou por falecer.”
Os Bombeiros Voluntários de Almada, perante a falta de resposta do INEM, também receberam um pedido de socorro. O comandante da corporação, Ricardo Silva, confirma ao Público que os bombeiros receberam um pedido de ajuda do tribunal, tendo indicado que deveria ser contactado o 112, que reencaminha as chamadas para os Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do INEM. “Quando nos disseram que não estavam a conseguir explicamos que também não tínhamos disponibilidade para enviar qualquer ambulância, porque as três que tínhamos ao serviço estavam empenhadas”, afirma Ricardo Silva.
O INEM escusou-se a fazer considerações sobre o caso concreto, nomeadamente se possui algum registo do pedido de socorro. “A greve da função pública e a greve dos técnicos de emergência pré-hospitalar às horas extraordinárias tiveram impacto na actividade do CODU e dos meios de emergência no dia de ontem [segunda-feira], com consequências na prestação de cuidados de emergência aos cidadãos”, admite o instituto.
O presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar, Rui Lázaro, disse ao Público desconhecer este caso. Não ignora, que como consequência da greve que o seu sindicato decretou às horas extraordinárias (começou na passada Quarta-feira e sem data para terminar), que têm estado menos profissionais nos Centros de Orientação de Doentes Urgentes a atender e a triar as chamadas de emergência.
Na passada Segunda-Feira ocorreu uma situação difícil pois sobrepuseram-se dois protestos: a paralisação decretada para toda a administração pública, e a greve às horas extraordinárias dos técnicos de emergência pré-hospitalar.
Na Segunda-Feira, o vice-presidente do sindicato, Rui Cruz, declarou que a meio da manhã “ultrapassou-se a barreira das 100 chamadas em espera que não diminuiu até à hora de almoço”. Exemplificava com a situação do CODU de Lisboa, o maior do país, que “tinha apenas quatro pessoas a atender as chamadas, quando devia ter 18”.
A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, falou no assunto, quando questionada pelos jornalistas à margem da inauguração da Unidade de Endoscopia Digestiva dos Serviços Sociais da Câmara Municipal de Lisboa. “Não podemos prometer que de um dia para o outro teremos um atendimento mais rápido, mas posso dizer que há duas medidas que tomaremos, e que já estamos a tomar. Uma é os técnicos de emergência pré-hospitalar estarem mais dedicados à orientação de doentes urgentes e também, nas próximas 24/48 horas, termos linhas alternativas de apoio”, disse a ministra, sem explicar como tal iria ser feito.
Assegura ter sido apanhada de surpresa por esta greve. “Não estávamos à espera, porque estamos de boa-fé, a querer realmente […] a avançar para uma negociação. Não estávamos à espera que, neste momento, os técnicos de emergência pré-hospitalar se recusassem a fazer horas extraordinárias, numa altura em que estamos a entrar no Inverno e que os nossos idosos precisam tanto do INEM”, acrescentou Ana Paula Martins.
A ministra disse ainda que haverá “mais ambulâncias disponíveis”. Na Terça à tarde o INEM anunciou, num comunicado, um reforço de 10 ambulâncias de socorro, distribuídas por postos de emergência médica (PEM), em corporações de bombeiros, e delegações da Cruz Vermelha Portuguesa.
Rui Lázaro destacou, que estas medidas não significam mais ambulâncias no sistema de emergência. “Apenas que algumas mudam de nome e passam a ser pagas por um pacote diferente. Agora são PEM, antes eram postos de reserva”.
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