O filme é melhor que o livro? O Vale Abraão
Dia 25 de Junho às 20h, na Biblioteca Central de Almada, passa o filme de Manoel de Oliveira. Dia 27 há debate sobre o livro de Agustina Bessa-Luís
A Biblioteca Municipal de Almada propõe um encontro mensal para visionar um filme e ler um livro. O objectivo é estabelecer uma comparação entre o livro e o filme adaptado, através da qual cada um encontrará a sua preferência, ou seja, se gostou mais do livro do que o filme, se gostou mais do filme do que o livro ou, se gostou de ambos de igual modo.
No mês de Junho a escolha recaiu sobre o filme “O Vela Abraão” de Manoel de Oliveira, adaptado do livro homónimo da escritora Agustina Bessa-Luís. A actividade tem duas sessões, uma primeira, no dia 25 de Junho às 20h, com o visionamento do filme, e a segunda no dia 27 às 21h, para discussão do filme e do livro. A actividade destina-se a maiores de 18 anos, e é de entrada livre.
O filme de Maniel de Oliveira é um drama romântico, realizado em 1993, baseia-se no romance homónimo de Agustina Bessa Luís, publicado em 1991, escrito a pedido do realizador, que por sua vez é uma adaptação de Madame Bovary de Flaubert, situado num Portugal contemporâneo. A história baseia-se também no mito platónico de Andrógino.
No Vale do Douro, Ema Paiva vive com o pai e é educada numa atmosfera de grande sensibilidade poética. Torna-se numa mulher bela e sensual com um irresistível gosto pelas ficções românticas, que acaba por nunca conseguir encontrar plena satisfação junto dos homens, tendo casado aos 14 anos, com um médico muito mais velho, que nunca amou, e que a leva para um ambiente aristocrático. Ema acha a sua vida de casada demasiado boçal e refugia-se nos poemas que cria. Anseia por amor, mas apenas o viverá num mundo de sonhos, por si idealizado. Na sequência de uma intensa vida social, Ema, vai envolver-se com três homens sempre numa constante busca de paixões, luxo e desafios, cuja beleza e espírito provocatório lhe vão valer o epíteto de “Bovarinha”, uma versão moderna e portuguesa da “Madame Bovary” de Gustave Flaubert. Por fim, desiludida e frustrada, Ema morre afogada no Rio Douro num dia de sol radioso, depois de se ter vestido como se fosse para ir a um baile, sem nunca se chegar a perceber se foi acidente ou suicídio.
Manoel de Oliveira constrói uma história de amores frustrados, tema dominante em toda a sua obra. O elenco conta com Leonor Silveira, Cécile Sans de Alba, Luís Miguel Cintra, Rui de Carvalho, Diogo Dória, João Perry, Luís Lima Barreto, e Isabel Ruth. A direcção de fotografia é de Mário Barroso, que aproveitou ao máximo a bela paisagem natural do Douro. Manoel de Oliveira não desprezou a banda sonora do filme, inserindo-lhe temas de Schumann, Beethoven, Debussy, Chopin e Fauré. O filme, foi considerado pela crítica um dos maiores mais importantes filmes da história do cinema português, e os “Cahiérs du Cinéma” consideraram-no como “um dos mais belos filmes do Mundo”.
O livro foi publicado em 1991, e foi uma encomenda de Manoel de Oliveira para o seu filme homónimo. Inspirados em Charles e Emma, Agustina Bessa-Luís apresenta Carlos e Ema – mais tarde, também apelidada de “Bovarinha”. Tendo crescido no Romesal, a protagonista, após o seu matrimónio com Carlos, desloca-se para Vale Abraão. Juntamente com o Vesúvio, estes três locais serão o pano de fundo desta narrativa, sendo que Agustina Bessa-Luís salientar a beleza da região do Douro. Ema, numa luta contra a insatisfação que lhe é intrínseca, busca tudo o que é desordenado, atrevido e perverso. Rompendo com o marasmo e a frivolidade que dominavam a ruralidade portuguesa, assiste-se à absoluta decadência daquela região do Douro. Agustina Bessa-Luís critica a sociedade rural portuguesa, e desconstroi um estereótipo feminino profundamente enraizado num Portugal provinciano, que colocava a mulher num estado de vegetação, protegendo o estatuto do homem. As mulheres eram pensadas como corpo sem alma, sem identidade, e sem pensamento. Apenas corpo. O prefácio do livro é da autoria de António Lobo Antunes.
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