Reciclagem de cápsulas de café chega a Almada

Projecto-piloto já existente noutras cidades une CMA, Amarsul, AICC e torrefactores de café, numa iniciativa de protecção ambiental e estímulo à economia circular

Foi aprovado por unanimidade, em reunião da Câmara Municipal de Almada (CMA) de dia 7 de Agosto, o protocolo de colaboração entre o município de Almada, a Amarsul e a Associação Industrial e Comercial do Café (AICC), com vista à implementação de um projecto-piloto de recolha dedicada e reciclagem de cápsulas de café descartáveis usadas. Almada junta-se a Lisboa, Cascais e Guimarães, onde este projecto já existe.

Teodolinda Silveira, vice-presidente da CMA, que conduziu a reunião na ausência de Inês de Medeiros, apresentou o protocolo a votação, salientando que o projecto é importante “porque desvia de aterro uma quantidade significativa de resíduos, o que pode vir a baixar a o preço da tarifa a pagar. Contribui também para as metas do PERSU 2030, melhora todo o processo de protecção ambiental e contribui para uma economia circular. Irá reciclar alumínio, plástico e resíduos naturais do café. Não tem despesas para o município, apenas colaboração na recolha das cápsulas.” Contribui ainda para a meta da neutralidade carbónica de 2050.

O projecto de recolha e reciclagem de cápsulas de café descartáveis com apoio da AICC, é promovido por 6 empresas torrefactoras, que representam 13 marcas de café e, pretende desviar de aterro materiais com alto potencial de reciclagem. O projecto-piloto é fruto de uma junção de esforços dos principais torrefactores de café que operam em Portugal e oferecem este tipo de produto: a Nestlé Portugal (detentora das cápsulas Nespresso, Nescafé, Dolce Gusto, Sical, Buondi e Starbucks), o grupo Nabeiro (Delta), Massimo Zanetti (Nicola), NewCoffe (Lavazza), JMV (Torrié) e, UCC Coffee (Mercadona, Templo, Campanini).

Os almadenses poderão depositar as cápsulas no Ecocentro Móvel, que o Município de Almada tem a circular por todas as freguesias do concelho e, no Ecocentro fixo, localizado na Quinta da Matosa na Sobreda, este último da responsabilidade da Amarsul. Esta reciclagem dedicada abrange todas as marcas e materiais em que as cápsulas são fabricadas. A Amarsul fará o armazenamento das cápsulas, até ao momento em que as empresas produtoras, ou terceiros aos quais recorram, as recuperem e assumam a sua reciclagem e valorização num reciclador licenciado, onde os diferentes componentes das cápsulas são separados. O alumínio, que pode ser reciclado infinitamente, será reutilizado no fabrico de outras cápsulas, em novos materiais e objectos do quotidiano, como por exemplo esferográficas, bicicletas, molduras, óculos, entre outros. Do plástico é feito um granulado que pode ser utilizado em mobiliário urbano e caixotes do lixo, entre outros produtos. A borra do café é transformada num composto orgânico a ser utilizado na fertilização de solos agrícolas.

Após o inicio deste projecto em Cascais em Novembro de 2022, o mesmo foi alargado no dia 20 de Junho de 2023 a Guimarães e a Lisboa no dia 11 de Julho deste ano. O projecto prevê até ao final do ano estar também implementado em Almada e Cantanhede.

A secretária-geral da AICC, Cláudia Pimentel explica que inicialmente foi pensado que a “melhor solução” era incorporar as cápsulas nos ecopontos amarelos, “mas iam para refugo e acabavam por não ser recicladas”.
“Assim, graças à congregação de esforços destas seis empresas e à intensa colaboração com cada vez mais autarquias do país, optámos por esta solução de recolha dedicada para a reciclagem de cápsulas, levando a reciclagem até à porta de todos os consumidores de cápsulas de café em Portugal” . Para Cláudia Pimentel, “o compromisso com o ambiente, a sustentabilidade e a economia circular, fez estas marcas de café unirem esforços para, em prol de um bem maior, darem a oportunidade a todos os consumidores de reciclarem as suas cápsulas usadas”.

A reciclagem e o tratamento são pagos pelas empresas aderentes. A AICC fez uma parceria com a espanhola Saica, “porque em Portugal ainda não há empresas recicladoras habilitadas a fazer esta reciclagem” e com a Bio4Plas, com sede em Cantanhede, que, a partir de Dezembro, vai estar habilitada a fazer a reciclagem e tratamento de todas as cápsulas em Portugal. “Daí em Setembro avançarmos para a câmara de Cantanhede que também já faz recolha de cápsulas por iniciativa própria, mas não tem tratamento”, explica a secretária-geral da AICC.

É a primeira vez que se forma uma aliança entre grandes comercializadoras de café para um processo conjunto de reciclagem que visa, em complemento com a separação já existente nas marcas, a recolha de cápsulas de café que todos os anos entram no mercado e, que actualmente são encaminhadas para o fluxo de resíduos indiferenciados ou, que contaminam outros fluxos recicláveis. Através deste novo fluxo de resíduos, as várias entidades envolvidas procuram não só estimular uma economia circular, como também obter um balanço global positivo do impacto da sua actividade sobre a biodiversidade.

Em Cascais, a AICC já conseguiu recolher 3,8 toneladas de cápsulas em seis meses. A ideia agora é expandir para novas localidades. “Temos mais câmaras interessadas no projecto, mas temos de dar às câmaras margem de manobra para terem os ecocentros, os pontos de recolha, porque há muitas que ainda não têm”, finaliza Cláudia Pimentel.

Em resumo, os almadenses irão passar a ter um espaço perto de si para a reciclagem de qualquer marca de cápsula de café, seja de plástico ou de alumínio, reduzindo as desculpas para não as reciclarem devido à distância que levam até a um ecocentro deste tipo.

Cápsulas de café em números

A cada minuto, quase 40 mil cápsulas de café acabam no aterro e, são produzidas 39 mil cápsulas de café em todo o mundo. Em aterro cada cápsula demora mais de 300 anos a decompor-se, com todas as consequências ambientais que daí advêm.

Em Portugal, de acordo com uma entrevista concedida por Cláudia Pimentel à TSF a 16 de Junho, “80% da população bebe café”, numa média de “2,5 cafés” diários e, o consumo de cápsulas descartáveis aumentou em “20%” durante a pandemia de covid-19. As compras atingiram este ano uma média da 350 cápsulas por cada lar, em território continental.

Segundo a Marketest, no seu estudo TGI de 2020, dois em cada três portugueses tinham máquinas de café com sistema de cápsulas, um número que representa 66.4% dos lares portugueses. No espaço de 10 anos, este produto duplicou em Portugal.

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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