Travessia ferroviária da Ponte 25 de Abril celebra 25 anos

Transportou 498 milhões de passageiros e retirou 80 milhões de automóveis do tabuleiro rodoviário

A ligação ferroviária entre as duas margens do Tejo, foi inaugurada ao fim da manhã de 29 de Julho de 1999, uma Quinta-Feira, com as presenças do então Primeiro-Ministro, António Guterres, do ministro do Equipamento, João Cravinho, do secretário de Estado dos Transportes, Guilhermino Rodrigues, e dos presidentes das câmaras de Lisboa, João Soares, do Seixal, Alfredo Monteiro, e de Almada, Maria Emília Sousa. Nesse dia, houve protestos devido aos preços das tarifas, medo pela segurança da ponte, e a bênção das carruagens pelo bispo de Setúbal.

Os almadenses estavam radiantes por poderem chegar a Entrecampos em 16 minutos, e a Campolide em 8, deixando de estar tão sujeitos aos caprichos do Tejo e do Oceano Atlântico nos cacilheiro para Lisboa. O estacionamento para todo o dia na estação do Pragal custava 200 escudos, 1 euro. O combinado entre comboio, metro e Carris custava 9.200 escudos, 45,89 euros. Nesta primeira fase o comboio apenas fazia a ligação entre o Fogueteiro e Lisboa, e existiam somente nove carruagens.

A Fertagus foi a primeira operadora ferroviária a empregar mulheres maquinistas em Portugal, tendo sido uma mulher que conduziu o comboio inaugural, em 1999. Duas décadas e meia depois, a administração da Fertagus, empresa concessionária do serviço ferroviário entre as estações de Roma-Areeiro em Lisboa e Setúbal, pertencente ao grupo Barraqueiro, faz um balanço “muito positivo”, destacando os impactos na mobilidade e no ambiente.

“Consideramos que a Fertagus se tornou imprescindível para a mobilidade na Área Metropolitana de Lisboa (AML) e com um contributo fundamental para a sua melhoria. Conseguimos com um serviço de grande qualidade, rápido e pontual, garantir a ligação ferroviária entre a Margem Sul e Lisboa”, afirmou à agência Lusa Clara Esquível, administradora da Fertagus.

Segundo a Fertagus, em 25 anos de operação, o serviço ferroviário da Ponte 25 de Abril transportou 498 milhões de passageiros, o equivalente à população de toda a União Europeia, e percorreu cerca de 51 milhões de quilómetros, o correspondente a 1.273 voltas ao planeta Terra. 40% dos seus funcionários trabalham na empresa desde a inauguração do comboio da ponte.

“Estimamos que tenhamos retirado cerca de 80 milhões de automóveis da Ponte 25 de Abril, o que também é muito significativo e um importante contributo”, apontou, considerando que estes números significam que se evitou a emissão de mais de 900 mil toneladas de CO2 nos últimos 25 anos.

Segundo a mesma fonte, a empresa transporta diariamente, uma média de mais de 100 mil pessoas entre as duas margens do rio Tejo. Em 2023, a Fertagus transportou cerca de 27 milhões de passageiros, e só no primeiro trimestre deste ano já foram contabilizados 14,8 milhões.

Há 25 anos a Ponte 25 de Abril era atravessada por 100 mil viaturas por dia. Actualmente são 150 mil, e se não existisse a ferrovia, não se sabe exactamente quantos seriam.

“Temos trabalhado sempre com o mesmo material circulante e procurado a realidade do serviço, nomeadamente esta pontualidade e a regularidade na realização do serviço”, apontou Clara Esquível.

A empresa portuguesa une seis municípios à capital e liga Lisboa (Roma-Areeiro) a Setúbal, numa viagem de 54 quilómetros e com uma duração de 57 minutos.

Para assinalar os 25 anos da travessia ferroviária na Ponte 25 de Abril, a Fertagus vai realizar algumas iniciativas, nomeadamente a distribuição de brindes alusivos à efeméride nas estações, o baptistmo de um comboio com o nome do poeta Sebastião da Gama, natural do distrito de Setúbal, no âmbito do centenário do seu nascimento. Haverá ainda um momento musical, na estação de Coina, com o quarteto de guitarras da Orquestra Nova de Guitarras, e uma festa para os trabalhadores da empresa

A Fertagus opera 18 unidades quádruplas eléctricas – forjadas em aço carbono em Beasain, no Páis Basco, e algumas montadas na Sorefame na Amadora – numa rede composta por 14 estações e 16 parques de estacionamento com um total de sete mil lugares. O prazo de concessão da travessia ferroviária do Tejo à Fertagus termina a 30 de Setembro de 2024.

A travessia ferroviária sobre o Tejo em Lisboa era uma ideia antiga. Aquando da construção da ponte, em 1966, foi também construído sob a Praça da Portagem, no Pragal, um túnel de 600 metros, aumentado em mais 300 em 1999, que ficou 33 anos à espera dos comboios.

O valor total da obra na época foi de cerca de 150 milhões de contos (cerca de 750 milhões de euros), sendo que 50 milhões (250 milhões de euros) foram para as obras de reforço estrutural da ponte, criação da sexta via no tabuleiro rodoviário, pinturas e iluminação, 77 milhões (385 milhões de euros) na infraestrutura, e 22 milhões (110 milhões de euros) na aquisição de material circulante.

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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