Costa da Caparica | Orcas afundam veleiro ao largo da Fonte da Telha

Investigadores ainda não sabem a que se deve este comportamento, na origem de centenas de interacções na Península Ibérica

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No Sábado 13 de Setembro, cerca das 12h, várias orcas provocaram o afundamento de um veleiro ao largo da Fonte da Telha. O leme foi danificado, causando entrada de água a bordo. Houve outra embarcação que necessitou de ajuda, ao largo de Cascais.

“Eu encontrava-me a bordo da embarcação do Mercedes Benz Oceanic Lounge, numa saída de Dolphinwatch, quando reparei em movimentos erráticos vindos de um veleiro próximo. Algo não estava bem, e decidimos aproximar-nos. Rapidamente percebemos que se tratava de um ataque em curso. Sem perder tempo, lançámos reboque ao veleiro para tentar prestar auxílio. No entanto, a situação agravou-se: a embarcação começou a meter água e, apesar dos nossos esforços, não resistiu. Conseguimos retirar todas as pessoas a bordo, mas o barco acabou por se afundar diante de nós.”, declarou Bernardo Queiroz, director do Mercedes-Benz Oceanic Lounge, à SIC.

“Os tripulantes foram salvos por embarcações que estavam nas proximidades. Devido ao ataque, o veleiro acabou mesmo por afundar, tendo ficado a localização sinalizada por bóias.”, acrescentou. O veleiro pertencia ao clube de vela Nautic Squad.

Também uma embarcação marítimo-turística ao largo da baía de Cascais necessitou de ajuda, depois de uma interacção com orcas.

“Pouco depois, mantivemos apoio a um segundo barco que também apresentava estragos consideráveis. Felizmente, este não chegou a afundar, conseguindo manter-se à tona apesar dos danos. A Marinha chegou pouco tempo depois, assumindo o controlo da operação. Nós, regressámos a terra com os tripulantes resgatados do primeiro barco, garantindo a sua segurança após o naufrágio”, finalizou Bernardo Queiroz.

A Autoridade Marítima Nacional (AMN) deu conta, em comunicado, de que foi necessário prestar auxílio a “cinco pessoas, que seguiam a bordo de um veleiro a cerca de cinco milhas náuticas (aproximadamente nove quilómetros) da praia da Fonte da Telha” e a outras quatro “que seguiam a bordo de uma embarcação marítimo-turística ao largo da Baía de Cascais”. Todas as pessoas se encontravam bem, sem necessidade de assistência médica.

Nos últimos anos têm-se verificado centenas de interacções de orcas com veleiros na costa portuguesa, Galiza e até ao Estreito de Gibraltar. As interacções com embarcações na costa atlântica de Portugal e Espanha começaram em 2020 e continuam.

As orcas ibéricas

Apesar conhecidas como “baleias assassinas”, as orcas não são baleias mas sim mamíferos, cetáceos da família dos golfinhos. São os maiores “golfinhos” que existem, têm dentes cónicos, barbatana dorsal alta e triangular e coloração preta no dorso e branca no ventre, com mancha branca junto a cada um dos olhos.

Segundo o Grupo de Trabalho da Orca Atlântica (GTOA), um grupo que trabalha para a conservação e gestão desta subpopulação, a Orca Ibérica é uma subpopulação diferente, muito pequena, que vive no nordeste do Atlântico e que se encontra criticamente em perigo na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) . Em 2023 foram observados 35 indivíduos em seis comunidades. Esta subpopulação nunca come cetáceos ou outros mamíferos marinhos.

O comprimento das orcas ibéricas adultas está entre os cinco e os seis metros, um tamanho pequeno se comparado com o de outras orcas, de subpopulações existentes noutras zonas do planeta, como as antárticas, que chegam a ter nove metros e podem pesar até seis toneladas. Os espécimes juvenis medem de três a quatro metros e meio, e as crias entre dois e três metros.

Na Primavera e no Verão, alimentam-se principalmente de atum rabilho atlântico (também ele em extinção) no Estreito de Gibraltar e, no Outono, continuam a rota ao longo da costa de Portugal e da Galiza espalhando-se por águas profundas. Durante o Inverno regressam, onde permanecem até ao final da Primavera, repetindo o ciclo.

O que fazer quando há interações entre orcas e veleiros

Solte o leme e liberte-o, dado que ao baterem no leme debaixo de água podem fazer com que a roda do leme gire repentinamente fora de controle, e foi demonstrado que os animais tendem a bater no leme com mais força, pois sentem mais pressão sobre ele, sendo os danos nos navios maiores. Se for possível, dadas as condições do mar, deve também parar o motor, recolher as velas, desligar o piloto automático e sonda.

As orcas podem ser estimuladas por acções humanas para interagir com o barco, por isso tente ficar fora de vista e não grite, não tente bater nelas, tocá-las ou atirar-lhe coisas.

Quando depois de algum tempo não sentir pressão no leme e os animais se tiverem afastado, verifique se funciona.

Leia aqui mais recomendações naúticas.

Porque as orcas atacam veleiros?

As orcas arrancam o leme dos veleiros, deixando-os à deriva, causando por vezes a entrada de água e o afundamento da embarcação, como foi o caso do ataque deste Sábado na Fonte da Telha. Não houve relatos até ao momento de ataques contra humanos e as interacções com os barcos parecem parar quando as embarcações ficam imobilizadas.

Os especialistas não conseguiram ainda encontrar uma explicação para este comportamento, mas são avançadas duas teorias. Uma, a de que uma orca ibérica terá tido um incidente traumático com um veleiro, tendo passado este comportamento para os descendentes. Outra, em que é defendido que serão orcas juvenis que “brincam” com os lemes dos veleiros.

Os investigadores defendem que as orcas podem não ter más intenções em relação aos veleiros, pois são animais muito curiosos e brincalhões e isso pode ser mais uma brincadeira do que um ataque agressivo. O comportamento pode ter passado para os filhos, simplesmente por imitação.

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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