Almada | Mário
Um documentário de Billy Woodberry, em exibição a 29 de Janeiro às 21h, no Auditório Fernando Lopes-Graça
Um documentário sobre a vida de Mário de Andrade (1928-1990), fundador do MPLA, intelectual, activista, diplomata e poeta pan-africano, cuja missão crítica nos movimentos de libertação africanos dos anos 60 e 70 lançou as bases para a identidade e representação das nações africanas recém-formadas após a colonização europeia. Mário, acreditava ardentemente que a independência do colonialismo marcava o início, e não o fim, da luta. Nascido em Angola, deixou o seu país para estudar em Lisboa, no que seria o início do exílio de toda a sua vida. De Paris, onde estabelece o seu lar intelectual e foi editor da revista Présence Africaine, à Angola independente, Mário passa a vida a trabalhar e lutar incansavelmente pela soberania africana.
Foi também fundador da CONCP (Conference of the Nationalist Organization of the Portuguese Colonies), com companheiros das outras colónias portuguesas – Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Guiné Bissau — uma organização única, que agregava todos os movimentos de libertação das colónias portuguesas, num esforço conjunto para a sua independência. Contribuidor regular da UNESCO, trabalhou também em prol da paz depois da guerra colonial ter acabado, em 1974. Foi também ministro da Cultura na Guiné-Bissau após o 25 de Abril.
O legado de Mário de Andrade é óbvio na análise socioeconómica dos assuntos africanos modernos, na busca por uma compreensão adequada das origens da identidade de África, na sua poesia, nas peças de teatro e guiões, e na memória da sua família, amigos e discípulos, que referem um grande espírito e mente rigorosa, que suscitou uma profunda admiração em todos aqueles que o conheceram.
Com fotografias, imagens de arquivo (com especial destaque para uma entrevista de vida realizada por Diana Andringa em 1985), testemunhos – da sua filha Henda Ducado, do escritor José Eduardo Agualusa, da realizadora Sarah Maldoror, com quem foi casado, Agostinho Neto, Amílcar Cabral, o seu irmão Joaquim Pinto de Andrade, Léopold Senghor, e ainda o escritor James Baldwin – e canções, o documentário desvenda a vida multifacetada de um intelectual no centro das lutas pela libertação africana. Combinando um vasto material de pesquisa com uma realização madura e tranquila, revela os laços da cultura pan-africana. É uma homenagem à resistência, à cultura, a uma geração e à história. É também o retrato da relação entre Portugal e as sua colónias ao longo de um grande período do século XX, o período que se seguiu às independências, e a ligação de tudo isso com o mundo político africano dessas décadas.
“Mário” retrata também Pinto de Andrade como alguém que ficou pelo caminho na evolução dos movimentos de libertação para a independência, como é deixado bem claro pelo modo como o MPLA, que ajudou a fundar, o pôs de parte muito cedo.
O documentário fez parte da Selecção Oficial Fora do Competição do LEFFEST, e foi estreado mundialmente na Secção Harbour do Festival de Roterdão.
Nascido em Dallas em 1950, Billy Woodberry é um dos fundadores do movimento cinematográfico L.A. Rebellion, também conhecido como Los Angeles School of Black Filmmakers, um movimento de jovens cineastas afro-americanos, centrado na Universidade da Califórnia em Los Angeles, que procurava dar uma nova voz à comunidade negra americana. Uma geração de realizadores naturalmente política, por existir e propor uma narrativa contracorrente, mas também pela admiração por cineastas africanos como Ousmane Sembène ou Djibril Diop Mambéty, e pelo interesse nos movimentos de libertação africanos.
A primeira longa-metragem de Billy Woodberry, “Bless Their Little Hearts” (1984), é uma obra pioneira e essencial deste movimento, influenciada pelo neorrealismo italiano e pelo trabalho dos cineastas da Terceira Vaga. O documentário “And When I Die I Won’t Stay Dead” (2015), é sobre o esquecido poeta beat Bob Kaufman.
Os filmes de Woodberry foram exibidos nos Festivais de Cinema de Cannes e Berlim, Viennale, Roterdão, Museu de Arte Moderna (MoMA), Harvard Film Archive, Camera Austria Symposium, Human Rights Watch Film Festival, Tate Modern, Centre Pompidou e BAMPFA em Berkeley, entre outros locais. Em 2022, no âmbito da Retrospectiva L.A. Rebellion, na qual foi exibido “Bless Their Little Hearts”, o realizador marcou presença no LEFFEST. Actualmente, reside em Lisboa.

Ficha Técnica:
Título original:
Realização: Billy Woodberry
Argumento: Billy Woodberry
Produção: Maéva Ranaïvojaona, Rui Alexandre Santos, Georg Tiller
Elenco: —
Fotografia: João Vagos, Peter Chappell
Música: —
Edição: Luís Nunes
Género: Documentário
Origem: Portugal, França, Estados Unidos da América
Ano: 2024
Duração: 120 min.
Classificação: M/12
Preço: 3,00€ (desconto de 50% jovens e séniores).
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