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Um filme de Payal Kapadia, em exibição a 22 de Janeiro às 21h, no Auditório Fernando Lopes-Graça

Prabha (Kani Kusruti) e Anu (Divya Prabha) são enfermeiras que vivem juntas em Bombaím. Prabha é a enfermeira-chefe de um grande hospital. Puritana e honesta, sente a falta do marido emigrado na Alemanha, que só veio à Índia uma vez, para o o seu casamento arranjado entre as duas famílias, e do qual não tem notícias há mais de um ano. A sua rotina é perturbada quando recebe uma panela eléctrica, que parece ter sido enviada pelo marido. Anu é mais extrovertido, não aceita a ideia de um casamento arranjado como o de Prabha, desafia as normas sociais e familiares. Tem um caso secreto com o muçulmano Shiaz (Hridhu Haroon), com quem anseia encontrar-se a sós. No seu trabalho no hospital, ensina mulheres com muitos filhos a tomar a pílula sem que os maridos saibam. Parvaty(Chhaya Kadam), viúva e cozinheira no mesmo hospital, luta contra um construtor que quer demolir a casa onde vive para construir um arranha-céus. Sem conseguir vencer, Parvaty decide deixar o emprego e voltar para sua aldeia natal em Ratnagiri, perto do mar. Prabha e Anu viajam com ela para ajudar na mudança.

Esta é uma história de mulheres onde a amizade é o motor para a descoberta da beleza e de si próprias. É também uma visão feminina dos problemas sociais e quotidianos da Índia. Através do dia-a-dia das três personagens, assiste-se à luta das classes trabalhadoras, e especialmente das mulheres, na maior cidade da Índia, onde a vida é difícil e o progresso choca muitas vezes com a tradição.

As personagens construídas por Kapadia são mulheres fortes, resistentes, afectuosas, solidárias e, na medida do possível, esforçam-se para tomar as rédeas da suas existências. São mulheres que por necessidade migraram para uma Bombaím com 21 milhões de habitantes, o centro financeiro e a maior cidade de um país com 1,429 mil milhões de pessoas. Ali, a necessidade de sobrevivência é maior que as ilusões, ou as promessas vãs de que a grande metrópole poderia oferecer-lhes uma vida melhor que a do interior do país.

O filme, é um drama assinado pela indiana Payal Kapadia, cineasta de Bombaim mas não de Bollywood, que com ele se estreia na realização de longas-metragens de ficção, depois do documentário “A Night of Knowing Nothing” que, em 2021, lhe valeu o Prémio Oeil d’Or na Quinzena dos Realizadores, em Cannes, e o de Melhor Filme no Lisbon Film Festival (LEFFEST). Em 2017, a sua curta-metragem “Afternoon Clouds“, foi o único filme indiano seleccionado para o 70º Festival de Cannes. O seu cinema é independente, sobre temas sociais, financiado por fundos europeus, feito num país onde quase não existe este género de cinema. No entanto, é o país que mais filmes produz no mundo, cerca de 1400 por ano, graças aos sucessos de Bollywood.

Kapadia afirmou na estreia que a sua intenção ao fazer este filme era “abordar uma questão política e social através de histórias muito pessoais. Bombaím é uma daquelas cidades para onde vão as pessoas que saem do interior rural. Mesmo que seja uma mudança dentro do país, vemos as coisas como um acto de emigração. Tens de negociar a vida nestes locais, aprender uma nova língua”.

Foi o primeiro filme indiano a receber o Grande Prémio no Festival de Cannes 2024, e também o primeiro em 30 anos a competir pela Palma de Ouro.

©DR / Prabha é a enfermeira-chefe de um grande hospital em Bombaím.

Ficha Técnica:

Título original: All We Imagine as Light
Realização: Payal Kapadia
Argumento: Payal Kapadia
Produção: Neil Chowdhury
Elenco: Kani Kusruti, Divya Prabha, Chhaya Kadam, Hridhu Haroon, Azees Nedumangad, Tintumol Joseph, Anand Sami
Fotografia: Ranabir Das
Música: Dhritiman Das Topshe
Edição: Clément Pinteaux
Género: Drama, Romance
Origem: França, Índia, Itália, Luxemburgo, Países Baixos
Ano: 2024
Duração: 118 min.
Classificação: M/12

Preço: 3,00€ (desconto de 50% jovens e séniores).

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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