Costa da Caparica | O Silêncio de Ingmar Bergman
Um filme que pode ser visto dia 14 de Setembro às 21h, no Auditório Costa da Caparica

O Cineclube Impala, organizado pela Associação Gandaia, leva ao ecrã do Auditório Costa da Caparica, o filme O Silêncio de Ingmar Bergman, no dia 14 de Setembro pelas 21h.
Duas irmãs, Ester (Ingrid Thulin) e Anna (Gunnel Lindblom), viajam para um país da Europa Central durante a guerra e levam com elas o filho de Anna, Johan (Jörgen Lindström) de 10 anos. Ester é uma tradutora em trabalho, mas a sua doença (além da cada vez maior dependência de bebida e tabaco), leva a que párem numa cidade estrangeira para que recupere. São forçados a instalar-se num hotel praticamente deserto, num país estranho e aparentemente à beira da guerra. É neste local que as duas irmãs, que dividem um quarto, se irão defrontar com o vazio existencial das suas vidas, o que leva a que as tensões se acumulem e tomem conta delas. Ester sentindo-se só, é incapaz de comunicar o seu amor a uma Anna que procura no exterior encontros sexuais passageiros, e formas de humilhar e de se livrar da irmã. Ester ressente o facto de não se conseguir dar emocionalmente, a ponto de que nem o sobrinho aceite uma carícia sua. Já Anna ressente a vida estável da irmã e o facto de a servir. Para a humilhar vai inventando histórias de conquistas fortuítas, acabando mesmo por se envolver num encontro sexual ocasional, que faz questão que a irmã veja. Enquanto isso o pequeno Johan vagueia pelos corredores do hotel, acompanhando o velho paquete (Håkan Jahnberg), convivendo com uma troupe de anões espanhóis e, espreitando as escapadelas da mãe. A guerra serve como um frio pano de fundo para o drama e a história que se desenvolve tendo como cenário o hotel.
Ester é a racional, enredada numa teia sem emoções, rejeitada pela irmã e pelo sobrinho, sofrendo pela necessidade de se ligar a alguém. Anna, um animal emocional, cuja nudez vemos repetidamente, que dorme nua com o filho, que procura sexo fácil na rua, que sente prazer na chuva que lhe cai sobre o corpo, por contraste com a irmã para quem o corpo é apenas sinal de doença, sente-se julgada, presa pela irmã. Pelo meio pressente-se uma ligação passada muito forte, um amor não concretizado, um desejo mútuo, que levou os críticos a verem incesto na relação.
Segundo o realizador, o filme inspirou-se na sua peça de teatro para rádio “Staden”, a partir do conto de Sigfrid Siwertz “The Dark Goddess of Victory”, do concerto para orquestra de Béla Bartók e, de um sonho seu recorrente sobre uma grande cidade.
Considerado uma das obras centrais da filmografia de Ingmar Bergman, o filme encerra a posteriormente denominada Trilogia do Silêncio, que Ingmar Bergman sempre negou existir, composta pelos filmes Em Busca da Verdade (1961), Luz De Inverno (1962) e O Silêncio (1963). Tal como acontecera nos dois anteriores filmes da trilogia, o motivo de Bergman, mais que um ensaio religioso, é o tema da solidão humana, as barreiras nas ligações entre pessoas e, o silêncio a que isso as vota. Aqui temos o caso de duas irmãs numa relação doentia, de dependência, inveja e raiva, que lutam por um pouco de afecto que não sabem como obter nem comunicar, que é testemunhado e disputado, pelo pequeno Johan.
Foi com O Silêncio que o cineasta mostrou pela primeira vez e de forma completa numa obra sua, o frenesim erótico, a histeria, a sensibilidade, a inocência e a “vida como espectáculo”.
O filme foi principalmente controverso pelo carácter explícito das cenas sexuais, incluindo masturbação e linguagem explícita, tanto quanto pela sugestão da relação incestuosa entre as duas irmãs. Tal levou-o mesmo a ser proibido nalguns países, enquanto nos Estados Unidos chegou a ser, para desgosto do autor, etiquetado de filme pornográfico.
Como autor, Bergman instiga os espectadores a confrontarem a sua existência e solidão, a questionarem de onde retiram a sua fé e de onde esperam salvação.

Ficha Técnica:
Título original: Tystnaden
Realização: Ingmar Bergman
Argumento: Ingmar Bergman
Produção: Allan Ekelund
Elenco: Ingrid Thulin, Gunnel Lindblom, Birger Malmsten, Håkan Jahnberg, Jörgen Lindström
Fotografia: Sven Nykvist (preto e branco)
Música: Ivan Renliden
Montagem: Ulla Ryghe
Género: Drama
Origem: Suécia
Ano: 1963
Duração: 96 minutos
Classificação: M/16