O filme é melhor que o livro? O Delfim

Dia 29 de Abril às 20h na Biblioteca Central de Almada, tem lugar o visionamento do filme de Fernando Lopes. Dia 30 há debate sobre o livro de José Cardoso Pires

A Biblioteca Municipal de Almada propõe um encontro mensal para visionar um filme e ler um livro. O objectivo é estabelecer uma comparação entre o livro e o filme adaptado, através da qual cada um encontrará a sua preferência, ou seja, se gostou mais do livro do que o filme, se gostou mais do filme do que o livro ou, se gostou de ambos de igual modo.

No mês de Abril a escolha recaiu sobre o filme “O Delfim” de Fernando Lopes, adaptado do livro homónimo do escritor José Cardoso Pires . A actividade tem duas sessões, uma primeira, no dia 29 de Abril às 20h, com o visionamento do filme e a segunda, dia 20 às 21h, para discussão do filme e do livro. A actividade destina-se a maiores de 18 anos, é de entrada livre, mas requer marcação prévia com Davide Freitas, através do mail biblactividades@cm-almada.pt ou do telefone 212 724 920.

O filme passa-se em Portugal, no final dos anos 60. Tomás Palma Bravo, o Delfim, o Infante, é o herdeiro de um mundo em decomposição. É ele o dono da Lagoa, da Gafeira, de Maria das Mercês, sua mulher infecunda, de Domingos, seu criado preto e maneta, de um mastim e de um “Jaguar E”, que o leva da Gafeira a Lisboa e às prostitutas. Um caçador, detective e narrador, que todos os anos volta à Lagoa para caçar patos reais, descobre, um ano depois, que Domingos apareceu morto na cama do casal Palma Bravo e que Maria das Mercês apareceu a boiar na Lagoa. Quanto a Tomás Palma Bravo e ao mastim, dizem-lhe que desapareceram sem deixar rasto. E que da neblina da Lagoa se ouvem agora misteriosos latidos.

Nas palavras do realizador, é “sobretudo um prodigioso pretexto cinematográfico para entender paixões e emoções, misérias e grandezas de um Portugal agonizante, em plena guerra colonial e com o seu ditador Salazar a morrer lentamente, como o país. Será também um filme sobre um tempo em suspensão. E sobre um universo metafórico – a Gafeira – que é a propriedade e ao mesmo tempo a imagem de Tomás Palma Bravo, o herdeiro e último representante de uma raça em vias de extinção”.

“O Delfim” é um filme português, a primeira longa-metragem de ficção realizada por Fernando Lopes, em 2002. O argumento foi escrito por Vasco Pulido Valente com a colaboração de Maria João Seixas e Fernando Lopes. Os seus protagonistas principais são Alexandra Lencastre, Rogério Samora, Rui Morisson, Miguel Guilherme, Laura Soveral e Isabel Ruth.

©DR / Alexandra Lencastre é Maria das Mercês, no filme de Fernando Lopes.

O livro foi publicado pela primeira vez em 1968 e, é geralmente considerada a obra-prima de Cardoso Pires.

Este foi o terceiro trabalho publicado por José Cardoso Pires, após “O Anjo Ancorado” e “O Hóspede de Job”. Considerado um dos melhores livros da literatura portuguesa do século vinte, “O Delfim” situa a acção na Gafeira, uma terra imaginária a centena e meia de quilómetros de Lisboa, onde ocorrem duas mortes misteriosas que suscitam a curiosidade a Palma Basto, um escritor amigo da família.

Com uma escrita realista, o autor faz um retrato cáustico de uma sociedade em que é possível encontrar homens como o engenheiro Tomás Palma Bravo (o Infante), profundamente machista, racista, e incapaz de aceitar qualquer mudança. Estamos na década de sessenta, um período de grandes alterações em Portugal e de dúvidas sobre o futuro de um regime político que dava todos os sinais de podridão. Salazar deixaria o poder em Setembro de 1968.

O narrador, papel desempenhado pelo escritor que visita a Gafeira, é uma figura central de “O Delfim”, pois por ele passa não só a recolha da informação sobre os acontecimentos funestos ali ocorridos, como a sua interpretação. Num período em que a censura intervém de forma activa, Cardoso Pires não deixa de abordar temas tabu do Portugal da época, como a homossexualidade, a traição e o incesto.

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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