O Restauro da Natureza em Almada: um trabalho de todos, para todos

A verdade é que o restauro da natureza não é um desafio só para especialistas. É uma tarefa coletiva, onde cada pessoa conta, e onde ninguém deve ficar de fora. 

Partilhe:

Quando se fala em restaurar a natureza, é fácil imaginar técnicos de campo, biólogos ou engenheiros florestais no terreno a trabalhar para que os ecossistemas possam recuperar e prosperar. Mas, e se pensarmos antes em avós que conhecem os sinais da natureza? Em jovens que querem viver de forma mais responsável e fazer a diferença? Em agricultores, pescadores, autarcas, professores e comunidades? A verdade é que o restauro da natureza não é um desafio só para especialistas. É uma tarefa coletiva, onde cada pessoa conta e ninguém deve ficar de fora. 

Almada está cheia de lugares que precisam ser recuperados: matas mediterrânicos, solos cansados, dunas a desaparecer nas praias, lixo no mar. E o que muitas vezes falta não são planos ou tecnologia: é envolvimento. Falta ouvir o saber de quem vive no território, incluir as comunidades do concelho no desenho das soluções, criar espaço para os almadenses contribuírem com o que sabem, com o que sentem, com o que querem para o futuro. 

Restaurar é reconstruir. E isso exige participação desde o início. Quando as pessoas são chamadas a pensar, a decidir e a agir, os projetos deixam de ser “dos outros” e passam a ser “nossos”. Isso muda tudo. 

Restaurar é também uma questão de justiça social. São muitas vezes as populações mais vulneráveis que mais sofrem com a degradação ambiental: pela perda de rendimento, pelo isolamento, pela falta de recursos. Mas são essas mesmas comunidades que têm muitas vezes um conhecimento íntimo do território. Integrar esse conhecimento é respeitar a diversidade de olhares e valorizar experiências. 

Restaurar a Natureza deve ser entendido como um movimento social que une pessoas, instituições e diferentes organizações para transformar problemas em oportunidades. Pescadores, agricultores, técnicos, estudantes, vizinhos, juntos em ações de restauro ecológico, usando práticas regenerativas que respeitam o solo, a água e o clima. Hortas comunitárias, eventos educativos, oficinas para todas as idades. A natureza começa a recuperar, e com ela, recupera também o ânimo de quem ali vive. 

Este envolvimento pode assumir muitas formas: desde associações locais que limpam e cuidam de ribeiras, a escolas que fazem projetos de ciência cidadã, a cooperativas que apostam em práticas agrícolas sustentáveis, a pescadores que recolhem lixo do mar. Pode passar por ações de voluntariado, orçamentos participativos, ou fóruns de decisão conjunta. A chave está em criar canais de diálogo e cooperação, e em garantir que as pessoas não são apenas “consultadas”, mas verdadeiramente envolvidas. 

Porque restaurar a natureza é, no fundo, restaurar a relação entre pessoas e natureza, entre gerações, entre ciência e tradição, entre quem decide e quem vive. É uma oportunidade para reforçar laços, criar pertença e imaginar em conjunto o que queremos deixar a quem vem depois de nós. 

É por isso que o próximo orçamento camarário deve dar resposta a estas questões de envolvimento das comunidades e definir um conjunto de prioridades ambientais. Deve refletir essa ambição de restaurar a natureza, assegurando os recursos necessários para transformar compromissos em ação concreta pela Natureza em Almada. O futuro de Almada será mais justo, mais resiliente e mais bonito se for feito com todos. A natureza é de todos. O seu restauro também deve ser.

Ângela Morgado

Directora Executiva da WWF Portugal (World Wide Fund for Nature). Socióloga. Almadense.

, , , ,