Almada | Crónicas Chinesas
Um filme de Ye Lou em exibição no Auditório Fernando Lopes-Graça, dia 23 de Abril às 21h
Em Janeiro de 2020, o realizador Xiaorui convence o elenco e a equipa a retomar a rodagem de um filme interrompido há uma década, devido à temática abordada – o romance entre dois jovens gays – à data não ter passado pelo crivo da censura do regime . Com as filmagens quase concluídas, começam a circular rumores sobre uma doença. Alguns elementos do elenco e da equipa conseguem sair antes de o hotel ser encerrado. Os restantes são confinados aos quartos e o único contacto que têm com o mundo exterior é através dos seus ecrãs. O realizador tem de decidir se interrompe as filmagens mais uma vez, uma vez que Wuhan é encerrada nos primeiros dias de uma pandemia aterradora.
Estruturado sob a forma de “making of”, e filmado com câmara de mão e telemóvel, Ye Lou opta por adicionar ao filme, segmentos de cenas inéditas filmadas anteriormente por si, bem como extractos de relatos reais captados por anónimos, que denunciam a situação caótica vivida à época no país de origem da pandemia.
Esta mescla de registos, deliberadamente feita para ter aparência crua e “edição mínima”, forma um retrato do distópico período de isolamento global (saturado de pânico, incerteza, solidão e tédio), durante o qual o único contacto com o mundo exterior ocorria quase exclusivamente através de gadgets digitais.
Ye Lou nasceu em 1965, na China, filho de um casal de actores. A sua educação passou pela Escola de Belas Artes de Xangai e pela Academia de Cinema de Pequim. Foi assistente de realização até 1994, ano em que realizou a sua primeira longa-metragem Zhoumo qingren. Por retratar uma juventude desiludida com o seu país, a sua exibição foi proibida durante dois anos. Em 1996, venceu o Prémio Werner Fassbinder de Melhor Realização no Festival de Mannheim. Secretamente, filmou em Xangai a sua segunda longa-metragem Suzhou he (2000), que estreou-se no Festival de Roterdão sem permissão das autoridades chinesas. Os seus dois filmes seguintes, Zi hudie (2003) e Yihe yuan (2006), foram ambos apresentados na Competição Oficial do Festival de Cannes. O último abordou criticamente o massacre na Praça de Tiananmen e, por consequência, Ye foi proibido de realizar durante cinco anos. Continuou a fazer filmes, na clandestinidade e noutros países, como França, que fizeram dele presença regular em festivais como Cannes, Veneza e Berlim. Em 2019, Lanxin Da Juyuan estreou-se na Competição Oficial do Festival de Veneza. O seu filme mais recente, An Unfinished Film, estreou-se no Festival de Cannes de 2024. Parte da “sexta geração” do cinema chinês, a sua obra caracteriza-se por uma rara coragem política por dar voz aos que escolhem desafiar o Estado chinês e aos marginalizados pela rápida industrialização do país.

Ficha Técnica:
Título original: An Unfinished Film
Realização: Ye Lou
Argumento: Ye Lou, Yingli Ma
Produção: Philippe Bober, Yingli Ma
Elenco: Qin Hao, Mao Xiaorui, Qi Xi, Liang Ming, Huang Xuan, Zhang Songwen, Zeng Jian
Fotografia: Chen Kai, Jian Zeng, Florian Zinke
Música:
Edição: Benjamin Mirguet, Jiaming Tian
Género: Drama
Origem: Alemanha, Singapura, EUA
Ano: 2024
Duração: 105 min.
Classificação: M/12
Preço: 3,00€ (desconto de 50% jovens e séniores).
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