Almada | UHF celebram 45 anos nos 50 da cidade
Na primeira parte tocam Pedro e os Lobos
Integrado nas comemorações dos 50 anos de elevação de Almada a cidade, os históricos almadenses UHF actuam dia 18 de Novembro às 21h, no emblemático e centenário Salão de Festas da Incrível Almadense. A primeira parte do concerto estará a cargo dos também almadenses Pedro e os Lobos, que apresentam o seu novo álbum “Entre Estações”. O concerto é de entrada livre, mas a longa fila de fãs que começou a formar-se desde as 7h da manhã de dia 10 de Novembro à porta do Fórum Romeu Correia, local onde se levantava o bilhete, esgotou-o em menos de uma hora.
O carismático líder dos UHF escreveu na sua página do Facebook: “Quando se tomou a decisão de realizar o concerto dos 45 anos dos UHF numa sala fechada, o clima desabava sem misericórdia: a primeira proposta, aceite pela CMA, era ao ar livre, numa praça emblemática. O tributo do grupo à cidade merecia um espaço simbólico. Mas “El Niño” faz o que lhe dá nas ventanias e a opção recaiu no salão de Festas da Incrível Almadense, que os UHF trouxeram para a ribalta com um primeiro concerto no dia 13 de Fevereiro de 1981, enquanto gravavam ‘À Flor da Pele’“, o seu primeiro álbum de originais.
Este concerto é a oportunidade de ver os “UHF na cidade onde nasceram”, a apresentação ao vivo do seu novo álbum “Novas Canções de Bem Dizer”, na celebração dos seus 45 anos de carreira, estrada e muito rock. “Este concerto dos 45 só podia acontecer em Almada”, escreve ainda António Manuel Ribeiro (AMR). Muitos fãs não terão a oportunidade única de ver a banda casar os seus 45 anos aos 50 da cidade de Almada, dada a lotação limitada da sala, mas AMR tranquiliza-os escrevendo “nascemos em Almada, mas somos de Portugal. E estamos a preparar um ano de surpresas.”
Este será 6º concerto da banda na Incrível Almadense, o 55º na cidade de Almada, o 98.º no concelho, 45 anos exactos passados sobre o seu primeiro concerto no dia 18 de Novembro de 1978, na discoteca Brown’s, em Lisboa, na primeira parte dos Aqui d’el-Rock. Na altura, os membros da banda viviam em Almada e como não tinham carro, as suas deslocações à capital estavam limitadas aos horários dos barcos na travessia do Tejo. Para não perderem o último cacilheiro no regresso a casa, impunha-se a rápida saída depois dos concertos, ficando conhecidos como “Os gajos de Almada que chegam, tocam e desaparecem”. Também tiveram a alcunha de “Locomotiva de Almada” e mais tarde de “Canal Maldito”.
“Era tão irreal que nunca me passou pela cabeça que aquilo ia durar um ano ou dois”, diz, a propósito do aniversário banda AMR, único membro da formação original, que editaria “Jorge Morreu” (1979), antes do seminal “Cavalos de Corrida” (1980), que com “Chico Fininho” de Rui Veloso, ficaram na memória de muitos como as canções fundadoras do movimento de renovação musical, conhecido como “rock português”. Mas, em 1979 já os UHF percorriam Portugal de Norte a Sul a espalhar rock e, ambas as músicas terem sido gravadasno mesmo ano é apenas coicnidência. Os UHF foram sempre uma banda de estrada, de concertos ao vivo.
“Primeiro foi um risco, um desafio, o medo de falharmos, de não sermos aceites, quando as primeiras canções não eram conhecidas e os grupos de apoio – chamavam-se “de baile” – tocavam todos os sucessos da rádio. Mas nós cantávamos em português e isso era a um tempo desconcertante e curioso.”, escreve AMR. “Chegar aqui foi uma caminhada, não foi um escorrega num parque aquático, por vezes até foi duro, e sempre muito exigente. Mas a exigência deve começar por nós”, acrescenta.
A bem da verdade, os UHF nasceram na Costa da Caparica, cidade do concelho de Almada e, desde o seu início até agora, passaram por várias editoras e formações. Editaram dezasseis álbuns de estúdio, sete ao vivo, onze EP’s, um disco de tributo, cinquenta e seis singles, entre muitas outras edições. “Ao Vivo em Almada – No Jogo da Noite”, mantém-se como o vinil mais raro e caro no mercado de usados português. No início de 2015 os UHF suplantaram as trezentas canções originais editadas. Em Julho de 2017 atingiram a marca de 1700 concertos em Portugal e no mundo e, venderam mais de 1,5 milhão de discos. Estão representados em cerca de 82 colectâneas. Receberam 11 discos de prata, sete de ouro, três de platina e vários prémios e condecorações. Têm tantas aventuras de estradas e palcos para contar, que não caberiam num único livro e, teriam de ser vários volumes a fazer justiça à longa história do grupo.
“Novas canções de Bem Dizer”, lançado a 27 de Outubro, contém 11 temas, dos quais já foram avançados os singles (Hey! Hey) Bora Lá, A Primeira Noite Sem Ti, Eu Vou Ao Norte e O Indigente. Desde 2013 que os UHF não gravavam um álbum de originais de estúdio. Mas, o que diz diz António Manuel Ribeiro sobre estas “Novas Canções de Bem Dizer”? Como esperado, algo curto e certeiro como: “escrevo sobre nós, o que vejo nem sempre é bonito, antes sórdido, triste e automático”. Concluindo este mesmo pensamento com a frase: “este disco é como um espelho, faz pensar; esquecer não é uma boa solução. Sou obsessivo a escrever, não há palavras a mais para encher ou rimar”, prossegue AMR, e conclui: “Haverá uma nova via para a canção de intervenção? E sobre o amor adulto, ainda há rimas? Este disco aventa respostas possíveis. Como tal, é uma revelação”. “Novas Canções de Bem Dizer” dos UHF, é um disco irónico, certeiro e sacana, explica a banda em comunicado.
Sábado, os UHF sobem ao palco às 23h e farão história novamente com um alinhamento de êxitos históricos e mais recentes. Este não será um concerto de lançamento de um novo álbum, mas sim o que conta a história e percurso da banda. Não há muitos grupos musicais no mundo com uma actividade ininterrupta de 45 anos e, nem que fosse apenas por este pormenor, António Manuel Ribeiro (voz e guitarra), António Côrte-Real (guitarra e viola acústica), Nuno Correia (baixo) e Ivan Cristiano (bateria), asseguram uma noite memorável, com um repertório que terá “entre 22 a 24 canções”, segundo palavras do frontman dos UHF. Certamente não faltarão na setlist os êxitos “Rua do Carmo”, “Cavalos de Corrida”, “Rapaz do Caleidoscópio”, “Persona Non Grata” e “Na Tua Cama”.
A primeira parte do concerto é assegurada por Pedro e os Lobos, que apresentam em casa o seu quinto álbum de originais “Entre Estações”, estreado em palco no dia 22 de Setembro, na Casa da Cultura em Setúbal. Sábado, sobem ao palco da Incrível Almadense às 21h.
Fundados e idealizados em Almada em 2010 por Pedro Galhoz, com uma sonoridade indie rock, tendo as guitarras como figura central das composições, Pedro e Os Lobos tem a particularidade de ser um projecto de autor. Pedro é o criador, os Lobos são os músicos e cantores convidados para colaborar em cada tema. Nelson Correia e Rui Freire são os únicos músicos fixos. Por um lado, a componente ao vivo é suportada por uma banda em formato de quarteto, por outro, o trabalho de estúdio recorre a um leque variado de convidados.
“Onde Vamos? Com quem vamos? Por quanto tempo? Que bagagem levamos?”, são as questões que dão o mote para este novo trabalho. Depois do lançamento dos singles de antecipação “Foguetão”, “Califórnia” e, mais recentemente, “Vagueamos”, no novo disco, composto por oito músicas, “são utilizados novos elementos sonoros, como por exemplo os sintetizadores, loops e caixas de ritmos. Juntamente com as guitarras, criam um conjunto de canções repletas de ambientes e paisagens sonoras, que remetem para um universo de viagem, numa aventura que mistura diferentes ambientes, que vão desde as influências do rock/folk americano dos anos 70, ao new folk contemporâneo.”, descreve a banda em comunicado. Oito canções, oito paisagens.
“Entre estações demoramos o tempo que escolhermos, somos passageiros. Caminhamos, experimentamos, por vezes falhamos, voltamos a tentar, crescemos, construímos. No fim da viagem, guardamos memórias e, é na partilha dessas simples memórias que nos reencontramos”, diz Pedro Galhoz.
Pedro Galhoz é conhecido pela sua experiência adquirida nas bandas LovedStone, e Plastica, com vários trabalhos de sucesso editados na década de 1990. Com um total de quatro álbuns, os Plastica tornaram-se uma referência não só a nível nacional, como também em Espanha, chegando a tocar no The Cavern Club em Liverpool e a fazer a primeira parte dos concertos de bandas como os Suede, Oasis e James.
“A California que descrevo na letra do novo single, é uma metáfora, é um local que idealizei , um local de reencontros, um local onde nos sentimos bem e rodeados por quem gostamos. Poderia ser Almada, Caparica ou qualquer local onde as pessoas se sintam bem.”, explica Pedro. “As misturas uma vez mais foram feitas pelo João Martins, no estúdio Ponto Zurca em Almada. O João é um velho amigo, já tinha misturado o último álbum “Depois da tempestade” e resolvemos voltar a trabalhar com ele.”
“Ao contrário dos trabalhos anteriores que mostram um Universo intimista, este será um disco de banda com canções que abordam temas mais universais, que voltou a ser criado na garagem, que sugere ser escutado em viagem com o volume do rádio bem alto e para ser apreciado ao vivo de cerveja na mão.”, conclui.
No lado certo do rio, Almada foi e continua a ser o seu porto de abrigo. Foi na margem sul do Tejo que há 25 anos Pedro Galhoz decidiu fazer da guitarra o prolongamento do seu corpo. O Rock é para ele um registo visceral, mas o blues encantou-o e roubou-lhe a alma.
Almada, Ao Vivo, Concerto, Cultura, Efeméride, Incrível Almadense, Música, palcos, Pedro e os Lobos, Salão de Festas da Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, SFIA, UHF