“Caparica Surf Center”, um tsunami da ASCC

A Associção de Surf da Costa da Caparica (ASCC) divulgou no seu site oficial o projecto “Caparica Surf Center”, que tem como objectivo final transformar a Costa da Caparica no principal polo de surf nacional e europeu. O projecto, sonhado e criado pela ASCC, foi apresentado à Câmara Municipal de Almada (CMA) antes do Verão e, espera resposta do executivo municipal para avançar no terreno. O Almada Online falou com o presidente da ASCC, Miguel Gomes, para saber mais pormenores.

“A divulgação no site aconteceu agora porque foi um projecto criado por nós, para a apresentação que fizémos à CMA, não fazia sentido ficar na gaveta sem ninguém o ver. Assim como temos outros projectos de nossa autoria no site como o ‘Surf no Bairro‘, consideramos que este deve também estar visível”, explica Miguel Gomes. O presidente da ASCC atreve-se a ir mais longe e afirma que “se este projecto avançar nos termos que o idealizámos, posssivelmente será o maior centro de estágios de surf da Europa.”

Prometido durante muitas campanhas eleitorais, denominado pela classe política como “Centro de Estágios Internacional de Surf” e “uma das prioridades para o concelho de Almada”, ao longo dos anos e executivos que passaram pela CMA nunca foi concretizado. O projecto “é fruto de sonhos, muito trabalho e provas dadas pela ASCC” e, pelos seus atletas ao longo de quase 30 anos, em competições nacionais e internacionais que criam e organizam ou, onde somam títulos e projectam o nome da Costa da Caparica e do concelho de Almada e, do seu potencial turístico aliado à práctica desportiva do surf, a nível nacional e internacional.

“Este projecto e a realidade da Costa da Caparica a nível de surf são um diamante por lapidar, que pode alavancar a práctica desportiva do surf, a cidade e o concelho para outro nível desportivo, turístico e até económico. A nós interessa-nos o projecto desportivo, é esse o nosso objectivo principal. Temos todas as hipóteses para sermos um centro nacional e internacional de surf de excelência. A Costa da Caparica necessita de um espaço como este”, afirma Miguel Gomes.

Depois de conversas tidas com a actual CMA e a vereação do desporto, foi lançado o repto de passarem as ideias para o papel e foi o que fizeram. “Estamos agora a aguardar uma resposta da CMA. Não quero adiantar muito sobre o que foi discutido na reunião de apresentação, local para possível localização e esses pormenores ficam entre nós, até porque não sabemos se o projecto irá finalmente avançar.”, acrescenta Miguel Gomes

“Se não for a ASCC a avançar com este tipo de projectos, corremos o risco de um dia um investidor privado de outra região ou nacionalidade o fazer e, para nós, isso não faria sentido. Este projecto tem de ser dinamizado e acompanhado por quem percebe e vive o surf, tem de se criar muito dinamismo ligado ao surf, ter muitas ideias. Ninguém está melhor posicionado para isso aqui na Costa da Caparica do que a ASCC. A CMA tem sido nossa parceira fundamental em tudo o que fazemos, neste projecto também.”, declara ainda o presidente da ASCC.

O projecto engloba o Centro de Estágios Internacional, mas não se fica “só” por aqui, sendo mais uma aldeia de surf à semelhança do que existe noutros países, como a Austrália. Na sua elaboração foram analisados centros de alto rendimento de surf existentes em Portugal e noutros países.

“Achamos que este é o projecto que fará a diferença na Costa da Caparica. A CMA e as Juntas de Freguesia da Costa da Caparica (JFCC) e da Caparica e Trafaria (JUFCT), sempre foram nossos parceiros ao longo dos anos, daí termos colocado os seus logótipos na apresentação que fizémos e está disponível para download no site. Também colocámos os logótipos dos nossos parceiros privados mais importantes e frequentes.”, explica o presidente da ASCC, quando perguntámos se o projecto iria avançar em breve, devido à presença dos logótipos.

O “Caparica Surf Center” para além de estar vocacionado como um apoio, treino e aperfeiçoamento técnico de atletas de todos os níveis de surf, incluindo os de elite e alta competição, engloba quatro áreas que os seus criadores consideram fundamentais: a de técnica desportiva, a residencial, a social e, a futura sede da ASCC.

Na área de técnica desportiva, o centro de estágios ocupa o lugar central sendo constituído por uma sala de conferências e outra de cinema onde se pode fazer a análise em vídeo das prestações dos atletas, duas salas polivalentes de formação, ginásio com balneários que integram sauna, sala de massagens e sala de apoio médico e primeiros socorros, complementado com um hangar para arrecadação de pranchas e outro material náutico. Teria ainda espaço para nadadores salvadores, um hostel, um skate parque exterior e outro interior, refeitório e cafetaria.

A “Aldeia do Surf Hostel” tem quartos single, duplos e camaratas de 6 e 12 camas, destinados a acolherem os atletas e equipes técnicas, com uma capacidade total para 36 pessoas, sendo complementada por balneários colectivos. Os quartos têm a particularidade de possuirem uma antecâmara, com espaço dedicado para guardar pranchas de surf.

Segundo o documento de apresentação, o centro de estágios está preparado para receber “seleções e atletas nacionais e internacionais, realizar acções de team building, receber escolas, treinadores de elite, atletas profissionais” e, teria todo o material necessário para colocar a Costa da Caparica e Almada como o melhor espaço desportivo dedicado às ondas na Área Metropolitana de Lisboa e do país, “dado a sua localização a apenas a 20 minutos do aeroporto da capital, sendo também espaço de eleição para todos os atletas almadenses e seus treinadores.”

A área social prevê uma sala de refeições/bar para 40 pessoas, um espaço comercial com lojas ligadas à temática do surf e um skate park interior. Na área administrativa, encontra-se planeada a recepção e administração do “Caparica Surf Center”, com quatro salas administrativas, uma sala de reuniões e instalações sanitárias.

O skate park exterior foi idealizado para receber provas nacionais e internacionais desta modalidade e também para lazer de todos os que queiram practicar esta modalidade em segurança. “Deixava de ser necessário montar e desmontar estruturas, sempre que há competições na Costa, como se faz actualmente”, diz Miguel Gomes. O skate park interior é um espaço que permite a práctica do skate durante todo o ano e é mais especializado, destinando-se a skaters e surfistas já com um nível avançado de práctica ou competição, com o objectivo final de preparação de atletas para os circuitos profissionais.

Miguel Gomes admite uma possível colaboração no projecto de investidores privados “que a ASCC poderia encontrar, ou ajudar a encontrar para espaços especificos do projecto, como a área da restauração, por exemplo. Mas para nós faz todo o sentido que seja um projecto maioritariamente da CMA, pois tem lugar no seu projecto desportivo, como qualquer outra modalidade existente no concelho de Almada. Deveria ser um projecto criado, como fazem para outras modalidades com a construção de polidesportivos municipais. A ASCC tem todo o interesse que seja um projecto de investimento público, pois somente com investidores privados pesquisámos o que existe a nível mundial e muitas vezes os projectos são desvirtuados ao longo do tempo, ficando o projecto desportivo um pouco esquecido. Não queremos isso, o que nos move é o projecto desportivo, é a ASCC comemorar 30 anos de existência para o próximo ano e deixar obra feita para o futuro.”, acrescenta Miguel Gomes.

Depois de quase 30 anos de actividade associativa “bastante dinâmica”, com a realização eventos nacionais e internacionais, captação e desenvolvimento de atletas de topo, colaboração no desenvolvimento desportivo do surf a nível local e nacional, a ASCC, nas palavras do seu presidente “tem contribuido na elevação do nome do concelho de Almada e da cidade da Costa de Caparica como um ponto de referência do surf nacional e Internacional. Para que possa continuar a desenvolver todos os projectos nos quais está envolvida e nos que tem planeados, a ASCC tem necessidade de um espaço para sua sede, que seria também parte integrante do ‘Caparica Surf Center'”.

“Como presidente da ASCC há vários anos, este é o meu sonho desde a criação da Associação. O dinheiro é importante, como é óbvio, para continuarmos a desenvolver actividades ligadas ao surf, mas a obra feita é mais importante.”, confessa Miguel Gomes

O projecto não teria apenas impacto a nível desportivo, tendo-o também “a nível económico e turístico, através do alojamento de atletas, exploração comercial do centro de estágios, da área da restauração, podendo captar futuros patrocínios do sector público e privado, fomentando a criação de postos de trabalho qualificado”. O “Caparica Surf Center” poderá ainda ser envolvido “em projectos de investigação e desenvolvimento, relacionados com o mar e o surf, em parceria com as universidades existentes no concelho, por exemplo.”

Segundo o projecto, os centros de estágio existentes noutras localidades do país são reconhecidos como “factor fundamental no crescimento do sector do turismo desportivo por proporcionarem períodos de estadia que normalmente se prolongam para lá de uma noite e, pelas necessidades de serviços associadas a essas permanências nos territórios”. Aliada à práctica desportiva, está também “toda a massa de adeptos, que frequentemente procuram nas regiões” onde se realiza a práctica e provas desportivas “os serviços necessários” para conseguirem acompanhar de perto o seu desporto favorito. “Para as regiões, é uma oportunidade de atrair novos mercados.” Esta visão pode promover o Concelho como destino turístico desportivo de surf ao longo de todo o ano, combatendo também o turismo sazonal da Costa da Caparica. Resumindo, o “Caparica Surf Center” poderá ter um impacto positivo e significativo na economia local, regional e até nacional. Exemplo disso é o caso da Nazaré.

Miguel Gomes e a equipa da ASCC esperam que “em Janeiro, quando voltamos a reunir com a vereação do desporto da CMA, haja mais desenvolvimentos.” Até lá é esperar que o projecto não volte de novo para a gaveta política, da desportiva já saiu.

A ASCC é uma associação desportiva sem fins lucrativos constituída em 1994, cuja principal missão “é promover o associativismo na Costa de Caparica tendo como objetivos a promoção, divulgação e apoio da práctica de surf e modalidades afins”. Em 2024 celebra 30 anos de existência e o “Caparica Surf Center” é talvez a “prenda” que mais gostaria de receber.

O Almada Online enviou um mail à CMA com perguntas sobre este projecto, não obtendo qualquer resposta até ao momento.

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