Costa da Caparica | A Caixa

Um filme que pode ser visto dia 8 de Fevereiro às 21h, no Auditório Costa da Caparica

O Cineclube Impala, organizado pela Associação Gandaia, leva ao ecrã do Auditório Costa da Caparica, o filme “A Caixa”, de Manoel de Oliveira, no dia 8 de Fevereiro. O filme, é o segundo do ciclo de cinema dedicado ao consagrado cineasta português, que decorre durante o mês de Fevereiro com sessões todas as Quintas-Feiras, sempre às 21h.

O filme “A Caixa” é uma adaptação à maneira de uma parábola, tirada da peça homónima de Prista Monteiro. A acção concentra-se nas escadinhas dum bairro pobre típico de Lisboa e conta a derradeira desventura dum velho cego (Luís Miguel Cintra), a quem já por uma vez lhe roubaram a caixa de esmolas – seu ganha-pão oficializado. A filha (Beatriz Batarda), para além dos trabalhos de casa, afadiga-se com roupas que passa a ferro para fora. O homem dela (Filipe Cochofel), um marginal desempregado como outros tantos dos seus amigos, vive às custas da caixa do cego, que agora é roubada pela segunda vez. Quando a caixa desaparece, o assunto torna-se motivo de conflito violento, quase uma tragédia. Mas não há mal que venha por bem e, a ironia do destino possibilita que a filha do cego se consiga libertar da carga familiar que suportou durante todo aquele tempo.

Manoel de Oliveira neste filme fez algo pouco recorrente na sua filmografia, deixou de lado a vida aristocrática para dar vida a um bairro simples de Lisboa, aos costumes portugueses, menos explorados pelo director.

A primeira exibição pública do filme “A Caixa” foi a 19 de Maio de 1994, no Festival de Cannes, na Quinzena dos Realizadores.

Biografia de Manoel de Oliveira:

Cineasta português, Manoel de Oliveira nasceu no Porto 11 de Dezembro de 1908. Foi atleta do Sport Clube do Porto e campeão nacional de salto à vara; piloto de automóveis e um apaixonado pela vida boémia.

 Em jovem, Oliveira começou a interessar-se pelo cinema, o que o levou a inscrever-se na escola de actores do cineasta italiano Rino Lupo. Estreou-se como figurante no filme “Fátima Milagrosa” (1929) e, mantendo o gosto pela representação, participou como actor no segundo filme sonoro português “A Canção de Lisboa” de Cottinelli Telmo, em 1933.

Douro, Faina Fluvial” (1931), uma curta-metragem documental, foi o seu primeiro trabalho enquanto realizado. Este filme suscitou a admiração da crítica estrangeira e o desagrado da nacional. Seria o primeiro documentário de muitos que abordariam, de um ponto de vista etnográfico, o tema da vida marítima da costa de Portugal.

A sua primeira longa-metragem só surge 11 anos depois, quando decidiu, em 1942, aventurar-se na ficção com “Aniki Bobó” (1942), uma adaptação do conto “Os Meninos Milionários”, de João Rodrigues de Freitas, que lhe garantiu um lugar cimeiro no cinema nacional. Depois de “Aniki Bobó”, considerado naquele tempo um fracasso, Oliveira decidiu abandonar outros projectos cinematográficos e dedicar-se aos negócios de família, só retornando ao cinema 14 anos depois, em 1956, com a curta-metragem “O Pintor e a Cidade”.

Ao longo de 86 anos de carreira, Manoel de Oliveira realizou 62 produções e venceu mais de 40 prémios, incluindo dois prémios no Festival de Berlin e cinco no Festival de Cannes. Foi aclamado pelo Festival de Veneza, chegando a fazer parte do júri em 1981. 

Fez parcerias com vários actores, principalmente com Luís Miguel Cintra, Leonor Silveira, Isabel Ruth, Miguel Guilherme e o seu neto Ricardo Trêpa. Trabalhou com outros grandes nomes do cinema como Catherine Deneuve, Marcello Mastroianni, John Malkovich, Michel Piccoli e Lima Duarte.

Os filmes “Amor de Perdição” (1978), “Francisca” (1981) e “O Sapato de Cetim” (1985), receberam o Prémio da Crítica do Festival de Veneza, onde Oliveira foi também distinguido com o Leão de Ouro pelo conjunto da sua obra.

Realizou em 1990 “Non, ou a Vâ Glória de Mandar” e “A Divina Comédia” em 1991. O filme “A Caixa” (1994) representa um momento culminante da sua visão burlesca do mundo. “Party” (1996) é outra obra que merece referência. Em 1997, com o filme “Viagem ao Princípio do Mundo”, Manoel de Oliveira foi distinguido com o Prémio Fipresci, da Academia do Cinema Europeu. Em Cannes, a estreia de “Inquietude” (1998), confirmou uma vez mais o lugar de destaque do realizador português no panorama cinematográfico mundial.

Em 1999 foi atribuído ao seu filme “A Carta” o Prémio Especial do Júri do Festival de Cannes. Em Agosto de 2000 estreou o seu filme, “Palavra e Utopia”, no Festival de Veneza, com Lima Duarte no papel do velho Padre António Vieira. No mesmo ano, as universidades de Harvard, Yale e Massachusetts, nos USA organizaram homenagens ao cineasta português.

Em 2002, recebe o Prémio Mundial das Artes Valldigna, atribuído pelo Governo Regional de Valência, em Espanha. Na altura, já como o realizador mais idoso ainda em actividade, não deixou de surpreender com “Vou Para Casa” (2001), seguindo-se “O Princípio da Incerteza” (2002) e, “Um filme Falado” (2003), com um elenco de luxo que reuniu Leonor Silveira, John Malkovich e Catherine Deneuve.

Em 2004 realiza “O Quinto Império – Ontem Como Hoje” e em 2005 “Espelho Mágico”, ano em que recebeu em Paris o grau de Comendador da Ordem de Legião de Honra, pelas mãos do presidente francês Jacques Chirac e, a Medalha de Ouro do Círculo de Belas Artes de Madrid. Volta à realização no ano seguinte com o filme “Belle Toujours” e em 2007 realiza “Cristóvão Colombo – O Enigma”.

Realiza ainda entre 2019 e 2014 várias longas e curtas-metragens, tais como “Excentricidades de uma Rapariga Loira” (2009), “O Estranho Caso de Angélica” (2010), “Gébo et l’ombre” (2012) e “O Velho do Restelo” (2014).

Além do seu trabalho em realização, Manoel de Oliveiraele também foi productor, editor, guionista, professor honorário da Academia de Cinema de Skopje e, recebeu no ano de 2008, ano em que celebrou 100 anos de vida, o Prêmio Mundial do Humanismo, sendo também homenageado com a Palma de Ouro de Honra do Festival de Cinema de Cannes, como reconhecimento do seu talento e da sua obra. Em 2013 é galardoado com o Prémio Mérito e Excelência, atribuído pela Academia Portuguesa de Cinema.

Deixou três projectos por filmar: a longa-metragem “A Igreja do Diabo”, “A Ronda da Noite”, baseado em Agustina Bessa-Luís e um projecto sobre o papel das mulheres nas vindimas.

Manoel de Oliveira faleceu no dia 2 de Abril de 2015. Considerado o mais velho realizador em actividade, foi o único que assistiu à passagem do mudo ao sonoro e do preto e branco à cor.

©DR / Sofia Alves no filme “A Caixa”.

Ficha Técnica:

Título original: A Caixa
Realização: Manoel de Oliveira
Argumento: Manoel de Oliveira, baseado na peça de teatro homónima de Prista Monteiro
Produção: Paulo Branco
Elenco: Luís Miguel Cintra, Glicínia Quartin, Ruy de Carvalho, Beatriz Batarda, Diogo Dória, Isabel Ruth, Filipe Cochofel, Sofia Alves, Mestre Duarte Costa, Paula Seabra, Miguel Guilherme, Rogério Samora, João Bénard da Costa, José Wallenstein, Tiago Henriques
Som: Jean-Paul Mugel
Fotografia: Mário Barroso
Edição: Manoel de Oliveira, Valérie Loiseleux
Género: Drama
Origem: Portugal, França
Ano: 1994
Duração: 94 min.
Classificação: M/12

1€ sócios | 2€ geral

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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