Costa da Caparica | A Canção da estrada

Um filme de Satyajit Ray que pode ser visto dia 7 de Novembro às 21h, no Auditório Costa da Caparica

O Cineclube Impala, organizado pela Associação Gandaia, leva ao ecrã do Auditório Costa da Caparica, o filme “A Canção da Estrada”, de Satyajit Ray, que continua o ciclo de cinema dedicado a este cineasta indiano, iniciado durante o mês de Outubro.

Passado na segunda década do século XX, o filme retrata a vida de Apu (Subir Banerjee), um menino de uma pobre família brâmane, que mora na aldeia de Nischindipur, em Bengala, numa Índia ainda sob domínio britânico. O seu pai, Harihar Ray (Kanu Bannerjee), poeta e sacerdote, vendeu o pomar da família para pagar as dívidas do irmão, e vê-se forçado a deixar seus entes queridos em busca de trabalho. O filme narra o azar da família. O pai, é um sacerdote mundano, curandeiro, sonhador e poeta. Sarbojaya Ray (Karuna Bannerjee), a mãe trabalha para alimentar a família, cuida da casa e da filha adolescente Durba (Uma Das Gupta), tendo ainda que suportar os sonhos do marido, e os caprichos da sogra à beira da morte. A família, maioritariamente feminina, recebe com alegria e esperança a chegada de um novo filho, Apu, que irá enfrentar desafios e momentos belos durante o seu crescimento. A obra é uma ode à vida e resistência humana, linguagem constante na arte de Ray.

A Canção da Estrada tem como personagens principais a mãe, a irmã e a avó. A mãe simboliza a força e resignação ao lar, a avó a sabedoria, e a irmã o amor ingênuo e o prolongamento da família. O marido é visto como um homem ausente, fraco, indeciso e nalguns momentos egoísta. Apu não tem uma educação paternal, ele cresce e amadurece entre cuidados femininos.

Incorporando elementos do neo-realismo italiano, e elementos fundamentais da cultura e tradição indiana, Ray desenvolve um trabalho singelo sobre a infância, o feminino, o amor e a família, aprofundando a vida de todas as personagens.

O filme foi feito com uma verba irrisória. A equipa técnica e artística nunca tinha trabalhado em cinema, e as gravações tiveram de ser interrompidas várias vezes por falta de dinheiro. O filme só conseguiu ser terminado com ajuda do governo de Bengala Ocidental,  O dinheiro do empréstimo ao jovem director foi anotado na contabilidade deste estado indiano como “investimento em estradas”, uma referência ao título do filme, que demorou três anos a ser concluído.

“O primeiro dia foi como um ensaio, para nos acostumarmos. Para a maioria, era um começo do zero. Havia oito pessoas na nossa unidade, das quais apenas uma, Bansi (Bansi Chandragupta), o director de arte, tinha alguma experiência profissional.”, contou Satyajit Ray numa entrevista.

A música de Ravi Shankar é importante na narrativa do filme, ajudando a criar o ambiente nos instantes mais importantes, e pontuando cada movimento, cada estado de espírito dos personagens, sobretudo das crianças, Durga e Apu. Foi depois de 1956 que Shankar se tornou reconhecido internacionalmente.

Recuperado em finais dos anos 90, depois de um incêndio ter destruído os negativos originais, e considerado um dos grandes marcos do cinema mundial, “A Canção da Estrada” é o primeiro filme da Trilogia de Apu, e a estreia do cineasta indiano, na altura com 33 anos. “O Invencível” foi produzido em 1956, e em 1959 “O Mundo de Apu”, ficando assim a trilogia completa.

O filme recebeu o Prêmio Internacional Documento Humano no Festival de Cannes de 1956, e uma nomeação nos Bafta, na categoria de Melhor FGilme. Na Índia, ganhou o prêmio nacional de Melhor Longa-metragem

©DR / Durga e Apu correm para ver um comboio pela primeira vez.

Ficha Técnica:

Título original: Pather Panchali
Realização: Baseado no romance de Bibhutibhushan Bandyopadhyay, Satyajit Ray
Argumento: Bibhutibhushan Bandyopadhyay, Satyajit Ray
Produção: Anil Choudhury
Elenco: Kanu Bannerjee, Karuna Bannerjee, Chunibala Devi, Uma Das Gupta, Subir Banerjee, Runki Banerjee, Reba Devi, Aparna Devi, Tulsi Chakraborty
Música: Ravi Shankar
Fotografia: Subrata Mitra
Edição: Dulal Dutta
Género: Drama
Origem: Índia
Ano: 1955
Duração: 125 min.
Classificação: M/12

1€ sócios | 2€ geral

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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