Costa da Caparica | A Mulher de quem se fala
Um filme de Kenji Mizoguchi que pode ser visto dia 23 de Maio às 21h, no Auditório Costa da Caparica
O Cineclube Impala, organizado pela Associação Gandaia, leva ao ecrã do Auditório Costa da Caparica, o filme “A Mulher de quem se fala”, de Kenji Mizoguchi, o terceiro do ciclo de cinema dedicado ao cineasta japonês, que decorrá durante o mês de Maio.
Hatsuko Umabuchi (Kinuyo Tanaka) é uma viúva proprietária de uma próspera e requintada casa de gueixas de Quioto, numa área a elas associada, Shimabara, que lhe permitiu pagar os estudos da filha. A filha, Yukiko (Yoshiko Kuga), regressa de Tóquio, onde estudara música, depois de uma tentativa falhada de suicídio, motivada pelo fracasso de um noivado depois de os pais do namorado saberem da profissão da mãe. Hatsuko tem nesse momento uma ligação amorosa com um jovem médico, Matoba (Tomoemon Otani), responsável pela saúde das gueixas. Yukiko despreza o bordel e o estilo de vida de quem lá vive e essa animosidade faz-se sentir desde o início, quando não cumprimenta as mulheres quando chega e as olha com repulsa. O médico sente-se atraído por Yukiko, que inicialmente o rejeita por o associar ao negócio da mãe. No entanto, os seus sentimentos alteram-se gradualmente na ignorância de que ele é amante da mãe. Ao mesmo tempo, desenvolve uma certa empatia para com as mulheres que trabalham para a mãe.
Yukiko é moderna e elegante, quase sempre vestida de negro à ocidental, a mãe segue todas as regras ancestrais. Nestas duas personagens femininas figura a oposição entre Ocidente e Oriente, a moral inovadora e a tradicional conservadora, a liberdade e a resignação. Assiste-se à formação de um par feminino que através da solidariedade mútua tenta resistir, ou simplesmente sobreviver, num mundo injusto e opressivo. Yukiko regressa “para dentro” do mundo da mãe, e não sairá mais de lá.
A personagem do médico nada tem de positivo, e é um dos retratos mais mordazes de Mizoguchi, que não costumava ser brando com os seus protagonistas masculinos.
É um dos filmes mais pessimistas de Mizoguchi, com um final que exprime a renúncia das personagens e o triunfo de um mundo cujas leis são sempre mais fortes que os indivíduos. Foi uma encomenda da produtora Daiei ,que Mizoguchi não estava muito interessado em fazer. É normalmente tido como um trabalho menor entre as obras-primas finais do autor, embora também lhe tenham sido feitos elogios.
Mizoguchi era algo contraditório na sua relação com as mulheres, simultaneamente admirando e temendo as de personalidade forte e independente.

Ficha Técnica:
Título original: Uwasa no onna
Realização: Kenji Mizoguchi
Argumento: Yoda Yoshikata e Masashige Narusawa, a partir de uma história de Matsutaro Kawagushi
Produção: Masatsugu Hashimoto, Hiroshi Ozawa
Elenco: Kinuyo Tanaka, Yoshiko Kuga, Tomoemon Otani, , Bontarô Miyake, Haruo Tanaka, Hisao Toake, Teruko Daimi, Teruko Kusugi, Chieko Naniwa, KimikoTachibana, Chuzaburô Shigeyama
Música: Toshirô Mayuzumi
Fotografia: Kazuo Miyagawa
Edição: Kanji Suganuma
Género: Drama / Romance
Origem: Japão
Ano: 1954
Duração: 83 min.
Classificação: M/12
1€ sócios | 2€ geral
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