Costa da Caparica | Deus e o Diabo na Terra do Sol
Um filme de Glauber Rocha, em exibição a 6 de Dezembro às 21h, no Auditório Costa da Caparica
O Cineclube Impala, organizado pela Associação Gandaia, exibe no Auditório Costa da Caparica, o filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha, iniciando um ciclo de cinema dedicado ao cineasta brasileiro, que decorrá durante o mês de Dezembro.
O vaqueiro Manoel (Geraldo Del Rey) e a sua mulher Rosa (Yoná Magalhães). levam uma vida dura no interior do país, no sertão nordestino, numa terra desolada e marcada pela seca. No entanto, Manoel tem um plano: usar o lucro obtido na partilha do gado com o coronel Moraes (Mílton Roda) para comprar um pedaço de terra. Quando leva o gado para a cidade, alguns animais morrem no percurso. Chegado o momento de partilha, o coronel diz que não vai dar nada a Manoel, porque o gado que morreu era dele, ao passo que o que chegou vivo era seu. Manoel enfurece-se, mata o coronel e foge para casa. Perseguidos por jagunços, foge com a esposa, deixando tudo para trás.
Juntam-se a um grupo religioso liderado pelo beato Sebastião (Lídio Silva), que luta contra os grandes latifundiários, e promete o paraíso depois da morte, o fim do sofrimento dos pobres através do retorno a um catolicismo místico e ritual. Manoel torna-se o braço armado do líder religioso. Apesar dos apelos contrários de Rosa, o marido envereda pelo fanatismo religioso sem limites: num ritual de purificação, Sebastião sacrifica um bebê. Ao presenciar esta morte, Rosa mata o beato. Os latifundiários decidem contratar António das Mortes (Maurício do Valle), personagem contraditória, torturado pelo sofrimento popular mas a soldo dos poderosos, para perseguir e matar o grupo.
Considerado um marco do cinema novo, o filme foi realizado em Monte Santo, na Baía. Em Novembro de 2015 o filme entrou na lista da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.
Foi a escolha oficial do governo brasileiro para representar o país no Festival de Cannes de 1964, tendo sido seleccionado pelo festival para a secção oficial. Voltou ao evento em 2022 para exibição da cópia restaurada em 4K. Também foi escolhido para representar o Brasil ao Oscar de Melhor Filme Internacional, na edição de 1965, mas não foi seleccionado.
“Deus e o Diabo na Terra do Sol”, é a segunda longa-metragem de Glauber Rocha (1939-1981). Ao lado de “Vidas Secas” (1963), de Nelson Pereira dos Santos (1928), e “Os Fuzis” (1963), de Ruy Guerra (1931), completa o tríptico central da primeira fase do movimento conhecido como Cinema Novo, que colocou o Brasil no mapa-mundo do cinema moderno. É a obra que amplia a crítica social de Glauber em relação à exploração de sertanejos e à pobreza no sertão nordestino.
O filme, aclamado no Festival de Cannes, foi meses mais tarde, proibido pela censura.
Glauber Pedro de Andrade Rocha (1939-1981) foi um dos cineasta brasileiros responsáveis pelo movimento de vanguarda intitulado “Cinema Novo”. Nasceu em Vitória da Conquista, na Baía, a 14 de Março de 1939, e mudou-se com a família para Salvador, em 1947. Em 1959 entrou na Faculdade de Direito da Baía, hoje Universidade Federal da Baía, e participou no movimento estudantil e num grupo de cineastas amadores. Conheceu o cineasta Luiz Paulino dos Santos e teve o seu primeiro contacto com a produção de filmes, ao colaborar no curta-metragem “Um Dia Na Rampa”.
Em 1959 dirigiu a sua primeira curta-metragem, o documentário “O Pátio” (1959) e de seguida “Cruz na Praça” (1960). Em 1961, abandonou o curso de Direito para iniciar uma breve carreira jornalística como crítico de cinema. Nesse ano, casou-se com Helena Ignez. Em 1962, dirigiu a sua primeira longa-metragem, “Barravento”, produzido por Braga Netto e Rex Schindler, premiado no Festival de Karlovy Vary, na antiga Checoslováquia. Rocha tornou-se o líder do movimento que defendia um cinema nacional autêntico, “O Cinema Novo”, voltado para temáticas sociais e com preocupações com a linguagem. No Rio de Janeiro o movimento foi encabeçado por Nelson Pereira dos Santos e Joaquim Pedro de Andrade, e em São Paulo por Roberto Santos.
Para além “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, Rocha produziu outros filmes que tiveram grande destaque, como “Terra em Transe” (1967), que recebeu o Prêmio Luís Buñuel no Festival de Cannes, e foi indicado à Palma de Ouro. Outro filme premiado foi “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro” (1969), que ganhou o Prêmio de Melhor Direcção no Festival de Cannes. Desde a implementação da ditadura militar no Brasil, em 1964, Glauber era visto como um subversivo. Em 1971, com a radicalização do regime, o cineasta foi considerado um dos líderes da esquerda brasileira, e exilou-se em Portugal.
A viver no exterior, produziu o documentário “O Leão de Sete Cabeças” (1970), que foi gravado no Quênia, África, e “Cabeças Cortadas” (1970), produzido em Espanha, que teve a sua exibição no Brasil proibida pela censura até 1979. Em 1971 lançou “O Rei do Milagre”, gravado na praia de Tarituba, no Rio de Janeiro. Em 1974 produziu o documentário “As Armas e o Povo”, gravado nas ruas de Portugal, durante a revolução de 25 de abril de 1974, que derrubou o regime fascista de Salazar. De volta ao Brasil, realizou o documentário “Di Cavalcanti” (1977), publicou o romance “Revisão Suassuna” (1978). O último filme realizado por Glauber Rocha foi “A Idade da Terra” (1980), que concorreu ao Leão de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Veneza. Em 2015 o filme entrou na lista dos Melhores Filmes Brasileiros de Todos os Tempos, pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema.
Em Agosto de 1981, Glauber Rocha foi internado em Lisboa com problemas pulmonares. Já em coma, foi transferido para o Rio de Janeiro, onde faleceu a 22 de Agosto de 1981.
Ficha Técnica:
Título original: Deus e o Diabo na Terra do Sol
Realização: Glauber Rocha
Argumento: Glauber Rocha, Paulo Gil Soares, Walter Lima Jr.
Produção:
Elenco: Geraldo Del Rey, Yoná Magalhães, Othon Bastos, Maurício do Valle, Lidio Silva, Sonia Dos Humildes, João Gama, Antônio Pinto, Milton Rosa, Roque Santos
Música: Sérgio Ricardo
Fotografia: Waldemar Lima
Edição: Rafael Justo Valverde
Género: Drama
Origem: Brasil
Ano: 1965
Duração: 120 min.
Classificação: M/16
1€ sócios | 2€ geral
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